ESPECIAL PARA A FOLHA

As sentinelas não entendiam o que estava se passando. O relógio marcava 5h30 do dia 23 de janeiro de 1989. Uma caminhonete irrompeu pela porta principal do quartel que abrigava o 23º Regimento de Infantaria Blindada, localizado em La Tablada, na região metropolitana de Buenos Aires. Homens e mulheres armados pularam do veículo invasor. Outros carros se seguiram, também trazendo gente brandindo fuzis e metralhadoras.
Vinte e quatro horas depois, quando o Exército retomou o controle da instalação, havia 39 mortos, a maioria deles entre as forças atacantes. No meio dos cadáveres estava uma brasileira, chamada Aldira Pereira Nunes, então com 30 anos. No final da década 70, quando estudava em um cursinho de São Paulo, conheceu o exilado argentino Juan Carlos Morúa. Apaixonaram-se e juntos encontraram a morte no ataque de La Tablada.
Durante as primeiras horas de enfrentamento, muitos políticos e analistas acharam que se tratava de mais um levante de "carapintadas" (os oficiais rebelados contra punições aos colegas de farda envolvidos na morte e desaparecimento de 30 mil pessoas durante o regime militar). Esse tipo de protesto colocou o governo de Raúl Alfonsín contra a parede por três vezes entre 1987 e 1989.
Mas a operação daquele dia sangrento tinha outra autoria: o Movimento Todos pela Pátria, um agrupamento que reunia, além de guerrilheiros do passado, ativistas sindicais e de direitos humanos. O motivo alegado: deter um suposto plano golpista de militares descontentes com a democracia.
Além dos mortos, a guerrilha teve uma vintena de militantes condenados a longas penas. As Forças Armadas perderam dez soldados, mas recuperaram alguma influência política. Leis aprovadas por Alfonsín e seu sucessor, Carlos Menem, indultaram os militares processados, tanto aqueles que atuaram na repressão política como os que sublevaram as casernas em sua defesa. (BA)


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