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IRAQUE OCUPADO
Paris atenua exigência sobre a volta dos inspetores da ONU; Moscou, porém, insiste no cumprimento de resolução
França recua e defende fim das sanções
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O governo francês surpreendeu
ontem ao propor o fim imediato
das sanções da ONU ao Iraque.
Verbalizada pelo embaixador
do país na ONU, Jean-Marc de la
Sablière, a proposta caminha na
mesma direção da idéia lançada
há uma semana pelo presidente
dos EUA, George W. Bush.
Paris -que tem direito de veto
no Conselho de Segurança da
ONU- vinha condicionando a
suspensão das sanções ao cumprimento da resolução 687 (de
1991), isto é, à verificação, por inspetores da ONU, de que as armas
de destruição em massa iraquianas foram eliminadas. Tais armas,
uma das principais motivações da
ação militar da coalizão anglo-americana no Iraque, iniciada em
20 de março, ainda não foram encontradas.
Ontem, o governo francês deixou de fazer essa exigência. Sablière falou em "coordenar" o trabalho dos inspetores americanos,
que já atuam no Iraque, e dos funcionários da ONU, que não têm
aval dos EUA para voltar ao país.
"Deveria haver algum trabalho no
sentido de achar um acordo prático e pragmático", disse, após um
encontro do Conselho.
Em relação ao programa Petróleo por Comida, por meio do qual
o Iraque pôde vender petróleo para comprar alimentos e remédios,
Sablière defendeu que ele permanecesse sob controle da ONU, sofrendo "alguns ajustes" com vista
à sua extinção. O programa é chave para o início do processo de reconstrução.
Antes de entrar na reunião, o
embaixador francês havia afirmado que a ONU "precisa levar em
conta a nova realidade no território". O Conselho retomou, a portas fechadas, o debate sobre o Iraque. Pela manhã, recebeu o chefe
dos inspetores de armas da ONU,
Hans Blix. À tarde, foi a vez do diretor do programa Petróleo por
Comida, Benon Sevan.
Reação fria
Mas, enquanto o embaixador
francês acenava com uma composição em Nova York, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer,
fechava, em Washington, as portas para a volta dos inspetores. "A
coalizão tomou a responsabilidade de desmanchar as armas de
destruição em massa do Iraque e
seus programas de mísseis. Achamos que ela é eficiente."
O embaixador dos EUA na
ONU, John Negroponte, confirmou que a volta dos inspetores
não é cogitada por Washington.
"Nós vemos isso [a busca pelas armas] como uma atividade da coalizão. Agora que há um ambiente
um pouco mais permissivo militarmente, o esforço vai ser substancialmente aumentado."
Ao menos ontem, o movimento
da França não foi acompanhado
pela Rússia, sua parceira no bloco
que fez oposição aos EUA na escalada para a guerra no Iraque.
"Não nos opomos ao fim das
sanções. O que insistimos é que as
resoluções do Conselho têm de
ser implementadas. Todos queremos saber que não há armas de
destruição no Iraque, e a única
maneira de verificar isso é ter inspetores que vejam e reportem ao
Conselho. Assim que fizerem isso,
as sanções podem ser suspensas",
disse Sergei Lavrov, embaixador
do país na ONU.
Ele concedeu, porém, que "muitos membros enfatizaram no sentido de ajustar os atuais mandatos
à situação existente no território"
e disse estar pronto para discutir a
proposta francesa.
Estabelecidas após o regime de
Saddam Hussein invadir o Kuwait, em 1990, as sanções limitam
o comércio exterior do Iraque.
Seu fim dependeria de aprovação
do Conselho de Segurança da
ONU -uma proposta nesse sentido ainda não foi apresentada.
Acabar com a punição é considerado pelo governo americano
como medida necessária para a
reconstrução do Iraque.
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