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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Paris atenua exigência sobre a volta dos inspetores da ONU; Moscou, porém, insiste no cumprimento de resolução

França recua e defende fim das sanções

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O governo francês surpreendeu ontem ao propor o fim imediato das sanções da ONU ao Iraque.
Verbalizada pelo embaixador do país na ONU, Jean-Marc de la Sablière, a proposta caminha na mesma direção da idéia lançada há uma semana pelo presidente dos EUA, George W. Bush.
Paris -que tem direito de veto no Conselho de Segurança da ONU- vinha condicionando a suspensão das sanções ao cumprimento da resolução 687 (de 1991), isto é, à verificação, por inspetores da ONU, de que as armas de destruição em massa iraquianas foram eliminadas. Tais armas, uma das principais motivações da ação militar da coalizão anglo-americana no Iraque, iniciada em 20 de março, ainda não foram encontradas.
Ontem, o governo francês deixou de fazer essa exigência. Sablière falou em "coordenar" o trabalho dos inspetores americanos, que já atuam no Iraque, e dos funcionários da ONU, que não têm aval dos EUA para voltar ao país. "Deveria haver algum trabalho no sentido de achar um acordo prático e pragmático", disse, após um encontro do Conselho.
Em relação ao programa Petróleo por Comida, por meio do qual o Iraque pôde vender petróleo para comprar alimentos e remédios, Sablière defendeu que ele permanecesse sob controle da ONU, sofrendo "alguns ajustes" com vista à sua extinção. O programa é chave para o início do processo de reconstrução.
Antes de entrar na reunião, o embaixador francês havia afirmado que a ONU "precisa levar em conta a nova realidade no território". O Conselho retomou, a portas fechadas, o debate sobre o Iraque. Pela manhã, recebeu o chefe dos inspetores de armas da ONU, Hans Blix. À tarde, foi a vez do diretor do programa Petróleo por Comida, Benon Sevan.

Reação fria
Mas, enquanto o embaixador francês acenava com uma composição em Nova York, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, fechava, em Washington, as portas para a volta dos inspetores. "A coalizão tomou a responsabilidade de desmanchar as armas de destruição em massa do Iraque e seus programas de mísseis. Achamos que ela é eficiente."
O embaixador dos EUA na ONU, John Negroponte, confirmou que a volta dos inspetores não é cogitada por Washington. "Nós vemos isso [a busca pelas armas] como uma atividade da coalizão. Agora que há um ambiente um pouco mais permissivo militarmente, o esforço vai ser substancialmente aumentado."
Ao menos ontem, o movimento da França não foi acompanhado pela Rússia, sua parceira no bloco que fez oposição aos EUA na escalada para a guerra no Iraque.
"Não nos opomos ao fim das sanções. O que insistimos é que as resoluções do Conselho têm de ser implementadas. Todos queremos saber que não há armas de destruição no Iraque, e a única maneira de verificar isso é ter inspetores que vejam e reportem ao Conselho. Assim que fizerem isso, as sanções podem ser suspensas", disse Sergei Lavrov, embaixador do país na ONU.
Ele concedeu, porém, que "muitos membros enfatizaram no sentido de ajustar os atuais mandatos à situação existente no território" e disse estar pronto para discutir a proposta francesa.
Estabelecidas após o regime de Saddam Hussein invadir o Kuwait, em 1990, as sanções limitam o comércio exterior do Iraque. Seu fim dependeria de aprovação do Conselho de Segurança da ONU -uma proposta nesse sentido ainda não foi apresentada.
Acabar com a punição é considerado pelo governo americano como medida necessária para a reconstrução do Iraque.


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