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Eleição sul-africana tem 80% de presença
Alto comparecimento sob voto facultativo deve consagrar Congresso Nacional Africano e ascensão de Zuma à Presidência
É o quarto pleito depois do fim do apartheid; primeiros resultados hoje apontarão
o tamanho da maioria governista no Congresso
John Moore/France Presse
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Sul-africanos fazem fila para votar em favela de Johannesburgo |
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO
Filas gigantescas -retilíneas,
onduladas, em formato de
meia-lua e até formando quadrados perfeitos- foram ontem a imagem da eleição sul-africana, a quarta desde o fim
do apartheid, há 15 anos.
Nem a face sorridente de
Nelson Mandela, votando com
a ajuda de um neto, nem os gritinhos de alegria do arcebispo
Desmond Tutu dentro da seção
eleitoral na Cidade do Cabo foram suficientes para apagar a
visão de milhares de pessoas
esperando por até cinco horas
no frio, pacientemente. O comparecimento foi de cerca de
80% entre os 23 milhões de
eleitores -o voto é facultativo.
O resultado final é aguardado
para o fim de semana, mas os
primeiros resultados parciais já
devem indicar hoje a vitória fácil de Jacob Zuma, do Congresso Nacional Africano.
Em alguns locais o clima foi
tenso, com policiamento reforçado, mas os incidentes foram
pontuais. No mais sério, o chefe
de uma seção eleitoral na província de KwaZulu-Natal foi
preso após terem sido encontradas cem cédulas pré-marcadas para o Partido Inkhata.
Sistema arcaico
No geral, o sentimento era de
resignação com o arcaico sistema de votação sul-africano, baseado em poucas seções eleitorais, poucas cabines de votação
e cédulas enormes. Eleitores,
sobretudo os mais velhos, tinham dificuldade em encaixá-las nas urnas de papelão.
"Esperei duas horas de pé,
mas não reclamo. É sempre assim", afirmou Solani, 23, ao sair
de escola infantil transformada
em seção eleitoral. Nas zonas
rurais, imagens aéreas mostravam filas de um quilômetro.
No bairro de classe média alta de Sandton, brancos e negros
se misturavam na fila em frente
a um quartel do Corpo de Bombeiros. Uma das funcionárias
colocou seus filhos pequenos
para alugar cadeiras por 10
rands cada, o equivalente a
pouco mais de 1 dólar.
Perto do meio-dia, a Folha
contou 220 pessoas na fila,
progredindo a passos lentos.
Pouco depois, chegaram novas
cabines de votação, o que amenizou um pouco o problema.
Sello Nkwana, 28, esperou
por uma hora e quarenta e cinco minutos. "Foi até bom porque tive tempo de pensar. Decidi no último minuto. O CNA
cometeu muitos erros, mas os
manifestos dos partidos de
oposição também não me agradam em nada", afirmou ele, um
analista de informática que pode ser enquadrado na nova
classe média negra -seus pais
ainda vivem num casebre sem
água corrente numa área rural.
Na África do Sul, o eleitor é
obrigado a votar no bairro em
que é registrado, mas pode optar por diferentes seções eleitorais dentro dele, o que levou
vários a uma "pesquisa de mercado". O analista financeiro
Matthew Wainwright, 24, desistiu de votar na seção do Corpo de Bombeiros. "Eu não me
importo de esperar, mas acabei
de receber um telefonema de
que há uma outra seção mais
vazia aqui perto. Vou tentar",
afirmou ele, eleitor da oposição. "O CNA está ficando preguiçoso e abusando do poder."
Máquina
Zuma deve ser eleito com entre 60% e 70% dos votos, enquanto os dois principais partidos de oposição, a Aliança Democrática e o Congresso do Povo, juntos, devem ter entre 20%
e 30%. A popularidade do CNA
deve-se à sua aura de partido da
libertação da segregação racial
e a uma bem engrenada máquina partidária.
Em frente a uma seção eleitoral na favela de Alexandra, o
militante do CNA Nathi Nkabinde pediu desculpas para interromper uma conversa com a
Folha. Precisava passar uma
mensagem de texto de seu celular para o escritório regional
do partido, informando que,
até aquele momento, 10h, 197
pessoas haviam votado na eleição nacional e 196 na provincial (as urnas são diferentes). O
crédito foi pago pelo partido
para milhares de pessoas.
"Assim nós mantemos o controle sobre o fluxo de eleitores
e podemos mudar nosso pessoal para áreas mais movimentadas", afirmou.
A boca de urna é tolerada na
África do Sul, mas com regras.
Numa seção, duas mesinhas do
outro lado da calçada tinham
partidários do CNA e do Partido Inkhata tentando atrair
eleitores para um último esforço de convencimento. Irritado
com o fato de a mesa adversária
ter uma grande bandeira, o representante do CNA foi reclamar com o chefe da seção, que
o autorizou a colocar a sua.
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