São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2000


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ORIENTE MÉDIO
Ao menos seis libaneses morrem e 20 ficam feridos; habitantes do norte israelense se refugiam em abrigos
Israel retira tropas de 1/5 do sul do Líbano

ROBERT FISK
DO "THE INDEPENDENT",
EM BEIRUTE

Israel continua a promover sua retirada do sul do Líbano. Ontem, durante a desocupação, ao menos seis libaneses morreram e 20 ficaram feridos, em mais um dos notórios "erros" israelenses na região, como o massacre em Qana (bombardeio contra abrigo da ONU que deixou mais de cem mortos, em 96), o ataque contra uma ambulância em Mansouri e a destruição de toda a família de um pastor, em 98.
Habitantes do norte de Israel se refugiaram em abrigos, seguindo recomendação do Exército e temendo ataques da milícia islâmica Hizbollah, que luta contra a presença militar israelense no sul do Líbano.
O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, recomendou o aumento da força de manutenção da paz que atua no sul do Líbano de 4.500 soldados para cerca de 7.900, depois da retirada israelense.
A morte atingiu membros do Hizbollah e soldados israelenses com igual ferocidade nos últimos anos. O Hizbollah lhe deu as boas-vindas, e os israelenses a temeram. É por isso que o Hizbollah venceu a guerra, e os israelenses perderam.
De que serviram 22 anos de ocupação, combate guerrilheiro, desapossamento e milhares de mortes? Em apenas 24 horas, a história do sul do Líbano se mostrou uma fraude. A "zona de segurança" de Israel não era segura. Sua existência nunca protegeu Israel.
Ontem, com a desocupação de pelo menos um quinto da área sob controle israelense (11% do Líbano), nem um único míssil foi disparado através da fronteira, contra o norte de Israel.
Após a fuga de boa parte do Exército do Sul do Líbano (ESL), milícia descrita por um militar israelense como o "escudo da Galiléia", dezenas de milhares de libaneses que haviam abandonado suas casas 22 anos atrás voltaram para ao menos 14 aldeias xiitas liberadas, com crianças que se tornaram combatentes do Hizbollah durante esse período.

"Respostas severas"

Era tudo previsível. As faixas do Hizbollah sobre posições do ESL abandonadas e as ameaças contundentes de "respostas severas" do primeiro-ministro israelense, Ehud Barak, já eram esperadas.
Em apenas quatro dias, 374 membros do ESL -cerca de 20% dos integrantes do grupo- se entregaram às autoridades libanesas ou ao Hizbollah. Os que tentaram ir para Israel receberam uma reposta familiar: vão para casa. Foi o que aconteceu em 1983, quando os israelenses deixaram as montanhas do Chouf. Ou em 1985, quando abandonaram Sidon (sul do Líbano). Seus colaboradores foram abandonados, julgados, presos e, em certos casos, executados.
Ontem, estranhamente, houve uma certa tolerância. Nenhum membro da milícia cristã pró-Israel foi assassinado.
Sucessivos premiês israelenses haviam prometido que o país nunca deixaria a região sem um acordo de paz prévio, fazendo com que seus soldados sangrassem nos vales do sul do Líbano.
No final, não houve nem acordo nem paz. Apenas a imagem do maior Exército do Oriente Médio se retirando e de seus colaboradores se entregando.


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