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Anistia prevê melhora em ação antiterror
Apesar de a guerra ao terrorismo ainda envolver abusos de direitos humanos, organismo diz ter "motivo para esperança"
Grupo de monitoramento
destaca reveses políticos em
Washington e Londres como
razão para mudanças após
anos de alertas sobre o tema
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
Uma vez mais, os abusos cometidos sob a justificativa da
"guerra ao terror" foram os
principais obstáculos na preservação dos direitos humanos
em 2005, na avaliação Anistia
Internacional. No seu relatório
anual, a ser divulgado mundialmente hoje, em Londres, a mais
ativa organização internacional do setor diz, porém, ter motivos para esperança.
"Houve sinais claros de que
uma virada pode estar à vista
após cinco anos de reação contra os direitos humanos em nome do antiterrorismo. No ano
passado, alguns dos governos
mais poderosos do mundo receberam um desconfortável
alerta sobre os perigos de subestimar, em suas ações em casa e no exterior, a dimensão dos
direitos humanos", escreve no
documento a secretária-geral
da Anistia, Irene Khan.
Ela citou reveses políticos
dos governos de George W.
Bush e de Tony Blair, os dois líderes que encabeçam a "guerra
ao terror", nos Parlamentos
dos EUA e do Reino Unido. Até
aliados ajudaram a derrotar leis
que propunham o endurecimento de medidas antiterroristas claramente abusivas aos direitos humanos.
"O diferente em 2005, comparado aos últimos anos, é que
o sentimento das pessoas está
mudando, (...) colocando governos europeus e dos EUA na defensiva. As pessoas não querem
mais comprar o falacioso argumento de que reduzir nossa liberdade vai aumentar nossa segurança."
O dado positivo é, todavia,
sufocado pela imensidão de denúncias de violações por todo o
mundo. A Anistia apressa-se
em condenar o aumento no volume de ataques terroristas em
2005, mas rejeita com igual
veemência a resposta das autoridades. "Algumas das táticas
antiterroristas adotadas por
governos insultaram os direitos humanos. Alguns governos
tentaram mesmo legalizar ou
justificar métodos abusivos
que já foram há muito considerados ilegais pela comunidade
internacional."
Comparada no relatório relativo à 2004 aos campos de trabalhos forçados da antiga
URSS, a base naval americana
de Guantánamo, em Cuba, volta a ser bombardeada no novo
texto, justo no momento em
que crescem as pressões para o
seu fechamento -pedido inclusive pela ONU.
"Em Guantánamo, dúzias de
detidos realizaram greves de
fome para protestar contra as
condições de detenção e foram
alimentados à força", diz.
A Anistia calcula que no fim
de 2005 havia 14 mil pessoas
detidas pelos EUA e seus aliados em centros de detenção no
Iraque, no Afeganistão e no
campo cubano.
O relatório critica a cooperação da diversos países com os
EUA no combate ao terrorismo. "Em 2005 tornou-se claro
o quanto vários países foram
coniventes ou participaram de
práticas abusivas dos EUA na
"guerra ao terror", incluindo
tortura, maus-tratos, detenções ilimitadas e secretas e
transferência ilegais cruzando
fronteiras."
Este último ponto se refere
às acusações de que a CIA
(agência de inteligência dos
EUA) tem utilizado prisões
clandestinas na Europa para
interrogar supostos terroristas.
Os políticos são apontados
pela Anistia como os principais
responsáveis por abusos e violações. "O cenário dos direitos
humanos está coberto de promessas quebradas e fracassos
de liderança. Governos prometem patrocinar a causa dos direitos humanos, mas mostram
reflexos repressivos quando diz
respeito às suas próprias políticas e performances", afirma.
Brasil
No capítulo dedicado ao Brasil, dada à proximidade da onda
de ataques do PCC, o que mais
chama a atenção são as críticas
a abusos policiais e ao colapso
do sistema carcerário do país.
Mas há ainda denúncias sobre: torturas e maus-tratos de
presos e menores infratores,
assassinatos relacionados a disputas de terras, desrespeito aos
índios, trabalho escravo, impunidade no sistema judicial e
perseguição a ativistas.
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