São Paulo, sábado, 23 de maio de 2009

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EUA propõem a Cuba diálogo sobre imigração

Conversas significam reabertura de canal diplomático abandonado por Bush em 2004 e são novo aceno unilateral à ilha

Novo movimento ocorre às vésperas de cúpula da OEA, na qual Washington será pressionada a reverter suspensão de Havana

DO "NEW YORK TIMES"

O governo Barack Obama ofereceu ontem a Cuba a retomada de conversas em matéria de imigração, reabrindo importante canal diplomático direto abandonado pela administração George W. Bush em 2004.
O novo movimento de Washington em direção à ilha comunista ocorre às vésperas da reunião da Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), em Honduras no dia 2 de junho. É uma tentativa de aplacar a pressão dos países latino-americanos para que os EUA apoiem a reintegração de Cuba à instância, da qual o país foi suspenso em 1962.
O governo cubano não havia comentado a iniciativa até o fechamento desta edição, mas funcionários e o próprio Fidel Castro já haviam pedido conversas do tipo.
Analistas da relação Havana-Washington cobravam dos EUA que retomassem o contato diplomático de alto nível com a ilha, uma promessa de campanha do presidente. Argumentavam que, mais que vantagens práticas para ambos no espinhoso tema de imigração, as reuniões podem servir como canal para transmitir mensagens, longe da mídia, no xadrez de aproximação bilateral.
"É um importante passo", disse Robert Pastor, que foi conselheiro do ex-presidente Jimmy Carter (1977-1981) para a América Latina. "Isso acalmará aqueles que questionam se os EUA desejam avançar."
A frente anticastrista do Congresso, como esperado, rejeitou a iniciativa, mas a tradicional e agora pró-diálogo Fundação Nacional Cubano-Americana (FNCA) aplaudiu. Três parlamentares da Flórida dizem, em nota, que Bush rompeu as conversações de imigração com os Castro para pressioná-los a conceder vistos a cidadãos cubanos com permissão para ir aos EUA: "Infelizmente, isso constitui outra concessão unilateral de Obama".
Em abril, dias antes do primeiro round de pressão da região por acenos a Cuba, na Cúpula das Américas, Obama liberou viagens de cubano-americanos à ilha e o envio de remessas, ambos restritos por Bush.
Washington cobrou, então, um "gesto" de Havana, que não veio. O dirigente máximo da ilha, Raúl Castro, falou em discutir "tudo", incluindo questões de direitos humanos, com Obama. Mas Fidel, depois, exigiu passos unilaterais.

Assembleia da OEA
Agora, a questão se volta ao status da ilha na OEA. Ontem, o tema de Cuba estava na agenda da reunião do Conselho Permanente da entidade pela primeira vez desde 1962, mas a discussão foi adiada por divergências.
Segundo Carlos Sosa, o embaixador de Honduras na OEA, país anfitrião da reunião do dia 2, há concordância em derrubar a suspensão da ilha, proposta por Washington no auge da Guerra Fria -o texto fala da incompatibilidade entre o comunismo e o sistema americano.
O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, endossa o debate e até os EUA admitiriam a proposta. A divergência está em o que fazer com Cuba depois do fim da resolução.
Washington defende que a ilha seja engajada num "processo" que avalie suas credenciais democráticas e de respeito aos direitos humanos antes da reintegração. Países como Honduras, aliado de Havana, defende que isso não é essencial agora. Já Cuba rejeita a OEA, "um apêndice" dos EUA.
O senador cubano-americano Robert Menéndez (democrata), que preside o comitê do Senado que aprova verba para programas da política externa, lança ameaça: se Cuba for convidada a voltar à OEA, os fundos dos EUA para a entidade, 60% do total, serão congelados.


Colaborou a Redação


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