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EUA propõem a Cuba diálogo sobre imigração
Conversas significam reabertura de canal diplomático abandonado por Bush em 2004 e são novo aceno unilateral à ilha
Novo movimento ocorre às vésperas de cúpula da OEA, na qual Washington será pressionada a reverter suspensão de Havana
DO "NEW YORK TIMES"
O governo Barack Obama
ofereceu ontem a Cuba a retomada de conversas em matéria
de imigração, reabrindo importante canal diplomático direto
abandonado pela administração George W. Bush em 2004.
O novo movimento de Washington em direção à ilha comunista ocorre às vésperas da
reunião da Assembleia Geral da
OEA (Organização dos Estados
Americanos), em Honduras no
dia 2 de junho. É uma tentativa
de aplacar a pressão dos países
latino-americanos para que os
EUA apoiem a reintegração de
Cuba à instância, da qual o país
foi suspenso em 1962.
O governo cubano não havia
comentado a iniciativa até o fechamento desta edição, mas
funcionários e o próprio Fidel
Castro já haviam pedido conversas do tipo.
Analistas da relação Havana-Washington cobravam dos
EUA que retomassem o contato diplomático de alto nível
com a ilha, uma promessa de
campanha do presidente. Argumentavam que, mais que vantagens práticas para ambos no
espinhoso tema de imigração,
as reuniões podem servir como
canal para transmitir mensagens, longe da mídia, no xadrez
de aproximação bilateral.
"É um importante passo",
disse Robert Pastor, que foi
conselheiro do ex-presidente
Jimmy Carter (1977-1981) para
a América Latina. "Isso acalmará aqueles que questionam se
os EUA desejam avançar."
A frente anticastrista do
Congresso, como esperado, rejeitou a iniciativa, mas a tradicional e agora pró-diálogo Fundação Nacional Cubano-Americana (FNCA) aplaudiu. Três
parlamentares da Flórida dizem, em nota, que Bush rompeu as conversações de imigração com os Castro para pressioná-los a conceder vistos a cidadãos cubanos com permissão
para ir aos EUA: "Infelizmente,
isso constitui outra concessão
unilateral de Obama".
Em abril, dias antes do primeiro round de pressão da região por acenos a Cuba, na Cúpula das Américas, Obama liberou viagens de cubano-americanos à ilha e o envio de remessas, ambos restritos por Bush.
Washington cobrou, então,
um "gesto" de Havana, que não
veio. O dirigente máximo da
ilha, Raúl Castro, falou em discutir "tudo", incluindo questões de direitos humanos, com
Obama. Mas Fidel, depois, exigiu passos unilaterais.
Assembleia da OEA
Agora, a questão se volta ao
status da ilha na OEA. Ontem, o
tema de Cuba estava na agenda
da reunião do Conselho Permanente da entidade pela primeira vez desde 1962, mas a discussão foi adiada por divergências.
Segundo Carlos Sosa, o embaixador de Honduras na OEA,
país anfitrião da reunião do dia
2, há concordância em derrubar a suspensão da ilha, proposta por Washington no auge da
Guerra Fria -o texto fala da incompatibilidade entre o comunismo e o sistema americano.
O secretário-geral da OEA,
José Miguel Insulza, endossa o
debate e até os EUA admitiriam
a proposta. A divergência está
em o que fazer com Cuba depois do fim da resolução.
Washington defende que a
ilha seja engajada num "processo" que avalie suas credenciais democráticas e de respeito
aos direitos humanos antes da
reintegração. Países como
Honduras, aliado de Havana,
defende que isso não é essencial agora. Já Cuba rejeita a
OEA, "um apêndice" dos EUA.
O senador cubano-americano Robert Menéndez (democrata), que preside o comitê do
Senado que aprova verba para
programas da política externa,
lança ameaça: se Cuba for convidada a voltar à OEA, os fundos dos EUA para a entidade,
60% do total, serão congelados.
Colaborou a Redação
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