São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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Comércio de Bancoc calcula prejuízos

Histórias se dividem entre os que tiveram lojas incendiadas e os que estão com portas fechadas desde março

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BANCOC

Com a oposição presa e desarticulada, Bancoc deixou a política em segundo plano e começou ontem a calcular os prejuízos causados por dois meses de manifestações que paralisaram e destruíram parte de Rajaprasong, o distrito comercial mais rico do país.
O governo nacional montou dois centros de atendimento em Bancoc, para os comerciantes afetados. Em Rajaprasong, por volta do meio-dia, cerca de 300 comerciantes já haviam preenchido formulários para relatar os prejuízos.
As histórias dos comerciantes se dividem entre os que tiveram a loja incendiada e os que estão de portas fechadas desde meados de março, quando os "camisas vermelhas", camponeses opositores ao governo, se instalaram na região para exigir a renúncia do premiê Abhisit Vejjajiva.
Para alguns comerciantes, houve ambos. É o caso da rede de relógios de luxo Time Deco, que tinha cinco lojas na região -quatro estão fechadas há dois meses e uma foi incendiada.
"Nunca imaginava que algo assim poderia ocorrer", disse o empresário Panu Naorngchaikul, 41. Segundo ele, apenas em danos materiais, o prejuízo é de R$1, 2 milhão. As lojas estavam seguradas contra incêndio, mas na Tailândia as apólices não indenizam em caso de fogo causado por distúrbios.
Para Panu, "muitos camisas vermelhas não tinham a perspectiva completa. Isso é culpa do [ex-premiê] Thaksin [Shinawatra, deposto em 2006]. Todos sabem que ele está por detrás disso tudo".
A loja incendiada por Panu estava no Central World, o segundo maior shopping center da Ásia, com 187 mil m2 e 486 lojas. Até ontem à tarde, duas colunas de fumaça ainda saíam dos andares inferiores.
O futuro dos comerciantes é incerto. A empresária Kansinee Martpijit, 47, que teve a sua loja de CDs incendiada, não sabe se poderá no mesmo lugar onde trabalhava havia 20 anos.
Ela conta que a polícia ordenou o fechamento da loja há uma semana, quatro dias antes de o Exército desalojar os manifestantes, com um saldo de ao menos de 15 mortos e 39 prédios destruídos.
"O governo nos fechou a loja, não deixou recolher a mercadoria, mas não me protegeu", disse. "Mesmo se eles derem uma nova loja, não será num ponto tão bom quanto este."
Nenhum dos empresários acredita que o governo tailandês possa indenizar completamente todos os prejuízos. Para pequenos comerciantes com Kansinee, deve significar o fim do negócio, com o fechamento dos postos de trabalho.
Do lado de fora, o batalhão de centenas de garis era muito maior do que o de militares patrulhando a área, sinal de que a cidade aos poucos volta à normalidade. Abhisit prometeu reabrir o tráfego em Rajaprasong amanhã, a tempo do primeiro dia do ano escolar tailandês.
Um dos principais temas da imprensa tailandesa ontem era se os prédios incendiados foram escolhidos ao mesmo ou eram uma vingança contra comerciantes "camisas amarelas", movimento da classe média de Bancoc contrário aos "camisas vermelhas".


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