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Rusga com Caracas afeta colombianos refugiados na divisa
Drama de perseguidos por paramilitares e pelas Farc é agravado pela tensão bilateral e pela crise econômica
Situação na fronteira
de mais de 2.000 km é desafio diplomático e militar ao sucessor do presidente Álvaro Uribe
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA A SAN CRISTÓBAL (VENEZUELA) E CÚCUTA (COLÔMBIA)
A colombiana Gisele, 22,
mal sai do seu casebre, numa
favela recém-criada na periferia de San Cristóbal, Venezuela, a cerca de 70 km da
fronteira com seu país.
"Há infiltrados deles por
aqui. Estou tentando ir para
mais longe", conta.
Perseguida por paramilitares, após o assassinato de seu
marido -que, segundo ela,
atuou no grupo paramilitar
Águilas Negras-, ela mudou-se cinco vezes dentro da
Colômbia desde 2006. Ganhou um colete à prova de
balas e um rádio do governo.
"Como um rádio pode me
proteger?", desespera-se a
mãe de Gisele, que fugiu com
ela e seus três filhos.
Cansada do acosso e da
habilidade de seus perseguidores em encontrá-la, ela pediu refúgio na Venezuela há
um ano. Mas nem assim se
sente segura -nem diz seu
nome verdadeiro.
Na favela em que mora se
acumulam histórias sórdidas
de colombianos perseguidos
por paramilitares ou pelas
Farc (Forças Armadas Revolucionárias na Colômbia).
Fazem parte dos 200 mil
que chegaram na última década ao país.
Como se não bastasse o
drama crônico da região, a
zona foi sacudida nos últimos anos por mais duas crises: o aumento da presença
armada ilegal no lado venezuelano e o rastro de depressão econômica e tensão deixado pela arrastada e inflamada disputa entre o colombiano Álvaro Uribe e o venezuelano Hugo Chávez.
O panorama faz da divisa
de mais de 2.000 km um ponto nevrálgico do conflito colombiano de quatro décadas
e um desafio militar e diplomático para o sucessor de
Uribe, que começa a ser eleito no próximo domingo.
Caberá ao próximo presidente colombiano tentar
contornar o ponto mais débil
da estratégia de segurança
do atual governo: o encurralamento da guerrilha contra
as fronteiras, incluindo a do
país com o Brasil, sem que os
militares tenham uma linha
sólida de defesa na divisa.
Tudo isso num ambiente
de ambiguidades -no caso
da Venezuela, acusada por
Bogotá de permissividade às
Farc- e de desconfiança
-no caso do Equador, rompido com a Colômbia após
ataque a acampamento da
guerrilha no país em 2008-
que dificulta a cooperação
militar e até civil na área.
Enrique Vallas, diretor da
Acnur, o comissariado para
refugiados da ONU, em San
Cristóbal, afirma que as rusgas diplomáticas já trazem
sequelas aos refugiados.
"O discurso de Bogotá recomendando que colombianos não venham à Venezuela
chega a ser perverso. Os que
estão fugindo pensam: devo
ou não devo ir?"
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