São Paulo, sábado, 23 de maio de 1998

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EMPRESÁRIO MORTO
Permanecem dúvidas sobre a morte de Yabrán; governo evita declarações
Suicídio "paralisa' política na Argentina

AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires

O suicídio do empresário argentino Alfredo Yabrán paralisou o cenário político do país e aumentou as dúvidas sobre os negócios do empresário e sobre seu envolvimento com o governo.
O juiz José Luiz Machi, que investiga a morte do fotógrafo José Luiz Cabezas, não descarta a possibilidade de pedir a exumação do corpo do empresário. Boa parte dos argentinos não acredita na versão do suicídio, mas na fuga ou no assassinato de Yabrán.
O empresário se suicidou na última quarta-feira em sua fazenda, depois de passar cinco dias foragido da polícia. Ele é acusado de mandar assassinar o fotógrafo Cabezas no ano passado.
Para o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo, que acusou o empresário de corrupção e ligação com o governo Menem, o suicídio de Yabrán foi "induzido".
Cavallo afirmou que Yabrán liderava na Argentina uma organização criminosa internacional. Com a imagem desgastada, o empresário não serviria mais para o grupo e foi levado ao suicídio.
Em uma das cartas que deixou, Yabrán aponta as iniciais H.C. como seu sucessor nos negócios. Segundo Cavallo, é Héctor Colella, executivo do grupo do empresário, que vai liderar a "máfia".
Colella rebateu as declarações do ex-ministro. Disse que não há organização criminosa e não é sucessor de Yabrán.
Enquanto permanecem as dúvidas, o governador Eduardo Duhalde (Buenos Aires) e assessores do presidente do país, Carlos Menem, têm evitado dar declarações públicas sobre o tema.
Duhalde e Menem disputam o comando do Partido Justicialista. Por outro lado, a oposição parece intimidada, diante do suicídio.
"Prever qualquer cenário político pós-suicídio parece arriscado e apressado. Por isso, os próprios políticos estão acuados", afirmou a cientista política Graciela Rmer.
Para ela, o que leva os argentinos a duvidarem do suicídio é o descrédito total das pessoas em instituições como governos e Justiça.
"Quem não crê em nada, crê em tudo. A opinião pública percebe que há muitas coisas para serem esclarecidas em todo esse caso", disse Rmer.



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