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Diário do PC francês, decadente, planeja mudança
Sede atual foi projetada por Oscar Niemeyer para abrigar "L'Humanité", que perde leitores e cogita romper vínculos com partido
MARION VAN RENTERGHEM
DO "MONDE"
Na rua Jean-Jaurès, em
Saint-Denis, uma grande silhueta recurva de concreto e vidro revela o vazio em sua alma.
A sede de "L'Humanité", símbolo do Partido Comunista
francês e parte do patrimônio
arquitetônico, erigida em 1989
com base em projeto do arquiteto Oscar Niemeyer para abrigar o diário fundado por Jaurès, está a ponto de ser vendida.
O mesmo Niemeyer projetou
a sede do Partido Comunista,
na praça Colonel-Fabien, em
Paris, com sua famosa semi-esfera futurista em concreto
branco. "Fabien" não está à
venda. No "L'Humanité", o caso é mais urgente.
O jornal já conheceu outras
crises. Um ano depois de sua
criação, em 1904, o diário estava ameaçado de desaparecer.
"Estamos no fim de nossas forças", escreveu Jaurès em 1906.
No Congresso de Tours, em
1920, o jornal inventado pelo
pai fundador do socialismo
francês (assassinado em 1914)
se tornou o órgão oficial dos comunistas. Hoje, "L'Humanité"
e seus 60 jornalistas continuam
em crise. Mas o declínio é duplo: a imprensa francesa e o
Partido Comunista estão ambos ameaçados de extinção.
Decadência do partido
Enquanto o PCF agoniza,
"L'Humanité" passa mal. A
queda na circulação (51,9 mil
exemplares ante média de 150
mil nos anos 70) segue o ritmo
da decadência do partido.
"Publicar "L'Humanité"
quando o partido obteve 1,9%
dos votos nas eleições presidenciais? Não há saúde para isso", diz Claude Cabanes, editorialista e ex-diretor de redação.
Para sobreviver, o jornal precisa abandonar a ligação com o
PCF. Teoricamente, todo mundo parece estar de acordo. "Devemos neutralizar nosso relacionamento com o PC", afirma
o diretor Patrick Le Hyaric.
""L'Humanité" deve agora representar o debate de toda a esquerda sobre a transformação
social", diz o diretor de redação
Pierre Laurent.
Será que "L'Humanité" pode
se tornar o jornal comum da esquerda da esquerda? Jean-Luc
Mélenchon, da ala esquerda do
Partido Socialista, acredita na
possibilidade. "Precisamos de
um jornal de referência. O "Libération" se tornou liberal, e o
"Humanité" está seguindo nos
mesmos trilhos que nós."
Certos desdobramentos, como a rejeição à Constituição
européia ou os debates sobre
uma candidatura de esquerda
unida, servem como fator de
união. No resto do tempo o jornal atende aos interesses do
principal acionista: o partido.
No entanto, o jornal mudou,
oferecendo indicações de distanciamento em relação ao PC
assim que o desmantelamento
do partido se tornou claro, nos
anos 90. Os jornalistas não são
mais necessariamente membros do partido. Com o design
adotado em 1999, a mudança se
tornou mais radical, com a remoção da foice e do martelo da
primeira página.
Mas "L'Humanité" continua
a carregar a imagem do PCF,
seu orgulho e seu fardo. A direção do jornal é apontada pelo
partido, e o partido conta com
os favores do jornal. Patrick Le
Hyaric, diretor, e Pierre Laurent, diretor de redação, são
membros do conselho do PCF.
Será que seria melhor romper essas conexões orgânicas?
"Por que fazê-lo?", diz Michel Laurent. Já Pierre diz
acreditar que sim. Na redação,
houve críticas sérias à cobertura das eleições. "Fizemos propaganda por meses", dizem alguns jornalistas.
E os leitores também têm
seus hábitos. O novo "Humanité" de 1999, ao tentar conquistar um novo público, antagonizou tanto o partido, dirigido então por Robert Hue, quanto o
eleitorado. Em 2000, suas vendas despencaram. O partido alterou o comando do jornal. A
nova equipe conseguiu recuperar a circulação, mantendo as
tiragens. Pierre Laurent não
hesita em dizer que "caso a separação do Partido Comunista
me garantisse milhares de novos leitores, não hesitaria".
A sede em Saint-Denis, avaliada em 11 milhões em 1997,
é o único ativo de que "L'Humanité" dispõe. Laurent diz
que "uma oportunidade interessante" está em estudo, e não
exclui a possibilidade de que o
jornal alugue parte do imóvel.
Será que isso permitirá que o
jornal explore a sua nova avenida, a das esquerdas unidas?
Isso dependerá também da recomposição, ou não, das esquerdas. E requererá que o jornal não se transfira, como alguns boatos murmuram, para a
sede do partido na praça Colonel-Fabien...
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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