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REINO UNIDO
Premiê diz que identificação de cientista como fonte da BBC não partiu dele; cresce pressão sobre ministro da Defesa
Blair nega ter autorizado vazamento de fonte
MARIA LUIZA ABBOTT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES
O premiê britânico, Tony Blair,
negou ontem ter autorizado a
identificação do cientista David
Kelly como a fonte da reportagem
da rede BBC que acusou o governo de ter "tornado mais sexy" o
dossiê contra o Iraque. Kelly foi
encontrado morto -ele teria se
suicidado- na sexta-feira, após
intensa pressão da mídia e de autoridades, a partir da veiculação
de seu nome como fonte da BBC.
"Não autorizei o vazamento do
nome de David Kelly", disse Blair
enquanto voava de Xangai a
Hong Kong. A negativa aumenta
a pressão sobre o ministro da Defesa, Geoff Hoon, apontado ontem pelo "Financial Times" como
responsável pela autorização à assessoria de imprensa do ministério para confirmar Kelly como a
fonte. No sábado, Hoon negara
ter dito quem era a fonte, mas não
falou nada sobre a autorização.
Ontem, o ministério disse que
"as especulações" sobre o vazamento são "enganosas" e indicou
que Hoon deverá testemunhar no
inquérito se for chamado pelo juiz
encarregado, lorde Brian Hutton.
No avião, pressionado para responder por que o governo tinha
confirmado a jornalistas que o
cientista era a fonte da BBC, Blair
disse que essa era "uma questão
completamente diferente" e que o
inquérito que vai investigar o caso
poderia verificar isso.
A guerra, o fato de que não foram encontradas armas de destruição em massa no Iraque e a
morte do cientista estão abalando
a credibilidade e reduzindo a popularidade de Blair. Ele não escapou de questões sobre o caso nem
mesmo de estudantes chineses,
com quem se encontrou ontem.
Foi salvo quando um deles pediu
que cantasse uma música dos
Beatles. Sua mulher, Cherie, o socorreu, cantando "When I'm 64".
A pressão sobre a BBC também
está elevada. Segundo o jornal
"The Times", há um racha no
conselho de administração da
empresa pública, encarregado,
entre outras coisas, de avaliar o
padrão de jornalismo da rede. Segundo o "Times", o conselho só
aceitou respaldar a reportagem de
Andrew Gilligan no programa
Today, da rádio 4 da BBC -e que
provocou a briga com o governo-, por pensar que a informação, embora de fonte única, vinha
de um alto funcionário do serviço
de inteligência. Kelly não era.
O jornal diz que foi convocada
uma reunião de emergência do
conselho da BBC para tratar do
caso, o que foi negado pelo presidente da empresa. Já o "Financial
Times" diz que, na reunião dos diretores, há duas semanas, "não foi
questionada a veracidade" da reportagem. Segundo o "FT", eles
só examinaram se os princípios
que orientam o jornalismo da
BBC tinham sido seguidos.
A BBC apresentou parte de sua
defesa, divulgando a informação
de que Kelly foi a fonte de dois outros repórteres da empresa que fizeram reportagens semelhantes à
de Gilligan. Segundo a empresa, o
cientista conversou com Gavin
Hewitt, que divulgou suas informações no jornal da noite da TV
BBC1, no dia 29, e com Susan
Watts, que fez reportagem semelhante no jornal da noite da TV
BBC2, três dias mais tarde.
Mas há diferenças na ênfase que
cada um dos jornalistas deu e até
mesmo nas informações obtidas
de uma mesma pessoa. Gilligan é
o mais enfático dos três e o "FT",
em seu editorial de ontem, diz que
as diferenças são "preocupantes".
Com os procedimentos da empresa em questionamento por outros integrantes da mídia britânica e até mesmo por programas da
própria BBC, aumentam as pressões para mudanças no sistema
de regulamentação e fiscalização
da rede pública de rádio e TV.
A BBC é a única controlada e fiscalizada pelos seus diretores, indicados pelo governo. As demais
são controladas pelo órgão regulador independente, o Ofcom, encarregado de fiscalizar até mesmo
a qualidade do conteúdo. Já se especula que a BBC possa ser submetida ao controle do Ofcom.
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