São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Corte ratifica independência de Kosovo

Instância jurídica suprema da ONU, Corte Internacional Justiça decide que região não violou leis internacionais

Província se declarou em 2008 independente da Sérvia, que rechaça a decisão; 69 países já reconhecem autonomia

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

FÁBIO AMATO
DE BRASÍLIA

A Corte Internacional de Justiça, instância jurídica suprema da ONU, afirmou ontem que o Kosovo não violou nenhuma lei internacional ao se declarar independente da Sérvia em 2008.
Apesar de não ter caráter impositivo, a decisão deve ajudar Kosovo a receber reconhecimento internacional e, por outro lado, incentivar outras regiões conflituosas a declarar independência.
Após o pronunciamento da corte, milhares de manifestantes foram às ruas de Pristina festejar com bandeiras kosovares e dos EUA.
A Sérvia afirma que nada mudou, que a região é parte de seu território e que tentará convencer os demais países disso na Assembleia Geral da ONU, em setembro.
Até agora, 69 dos 192 países-membros das Nações Unidas reconheceram a independência kosovar -entre eles EUA, Alemanha, França e Reino Unido. É necessário o reconhecimento de ao menos cem para um país ter sua independência reconhecida.
Nações com sérios problemas internos de separatistas -como Rússia (Tchetchênia), China (Tibete e Taiwan) e Espanha- sempre se colocaram contra. Temem agora ondas de declarações unilaterais de independência.
A região esteve no centro da mais sangrenta batalha na Europa desde a Segunda Guerra. Era parte da Iugoslávia, que se desintegrou com conflitos étnicos e religiosos após a morte do ditador Josip Broz Tito (1980).
De maioria albanesa e muçulmana, Kosovo ficou como parte da Sérvia (ortodoxa). Houve novos conflitos até que a Otan bombardeou a Sérvia por 78 dias, pondo fim à "limpeza étnica" promovida por Slobodan Milosevic.
Ficou como protetorado da ONU até a declaração de independência, em 2008.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que é hora de os dois lados cooperarem. O impasse deve atrasar ainda mais a entrada dos sérvios na União Europeia e retardar investimentos em Kosovo, uma das regiões mais pobres da Europa.

BRASIL
O Itamaraty diz que a decisão da corte da ONU não muda a posição do Brasil de não reconhecer a independência de Kosovo. A avaliação é a de que o pronunciamento tem natureza apenas consultiva.
Além disso, avalia que, apesar de considerar que a declaração de independência obedeceu a legislação internacional, a decisão não significa que Kosovo tenha direito legítimo a ela.


Texto Anterior: Análise/América Latina: Tensão escancara 2 projetos messiânicos
Próximo Texto: Análise: Decisão de corte terá impacto sobre estabilidade regional
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.