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Congresso derruba "Lei da Selva" no Peru
Após protestos de indígenas, legisladores vetaram decretos de García que facilitavam venda de terras
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
O Congresso do Peru derrubou ontem dois decretos do
presidente Alan García contra
os quais comunidades indígenas e camponesas promoveram
11 dias de intensos protestos,
com bloqueios de estradas e a
ocupação de uma hidrelétrica.
Chamados de "Lei da Selva",
os decretos derrubados, por 66
votos a 29, modificavam lei de
1995 sobre investimento em
terras de posse comunitária, facilitando a decisão de permitir
sua exploração ou venda. As regiões, parcialmente já exploradas ou em prospecção, são ricas
em gás e minérios.
Com apenas 22% de aprovação nas pesquisas, García viu
derreter sua frágil maioria no
Congresso. Até siglas conservadoras em geral alinhadas mudaram de lado para evitar o
"custo social" da lei.
"É um novo amanhecer para
todos os povos do país e para os
peruanos que querem se desenvolver em liberdade", comemorou, das galerias do Congresso,
Alberto Pizango, o principal líder dos protestos. Na cidade
amazônica de Bagua, manifestantes cantaram o hino nacional em suas línguas.
A "Lei da Selva" provocou a
mobilização de lideranças indígenas, principalmente da Amazônia peruana, que argumentam não terem sido ouvidas sobre o tema -como regem leis
internacionais adotadas pelo
Peru- e que as regras ameaçam os 65 povos da região.
Pelos decretos, os povos
amazônicos poderiam decidir a
exploração ou a venda de suas
terras em votação por maioria
simples dos integrantes das comunidades. A lei original, do
governo Fujimori (1990-2000),
previa maioria de dois terços.
Diante dos protestos, o governo decretou estado de
emergência e enviou soldados
para proteger gasodutos. As
manifestações foram suspensas na terça, quando o Legislativo decidiu tratar o tema.
Poderes e diálogo
Alan García baixou as normas em maio, apoiado em poderes especiais dados pelo Congresso para que ajustasse leis
do país ao TLC (Tratado de Livre Comércio) com os EUA.
Anteontem, foi à TV defender-se. Acusou a oposição de
"paternalismo" e disse que os
indígenas seriam destinados "a
mais um século de miséria".
Ontem, voltou a dizer que
ele, que em seu primeiro governo, nos anos 80, atacou investidores, sabe que a estratégia não
ajuda de fato os pobres.
Para o analista político Santiago Pedraglio, do jornal "Perú21", o governo foi "arrogante" ao não debater o tema.
"García fala do decreto como se
fosse o direito de vender um
apartamento. Se venderem a
terra, podem sumir como povo.
Nunca vi protestos como estes
nas regiões de selva. São mais
comuns na parte andina."
Segundo Pedraglio, não há
exigência da mudança no TLC.
"Até onde sei, não há nem pressão nos bastidores." Mas, diante dos governos esquerdistas
vizinhos, a meta de García é
atrair investimentos para mineração e gás, ainda mais quando se fala de uma possível crise
energética, num governo já
acossado pela inflação.
Não estava claro ontem se o
presidente García poderia vetar a derrogação e devolver os
decretos ao Congresso, opção
mencionada por governistas. A
Defensoria do Povo também os
questionou e os remeteu ao
Tribunal Constitucional, que
ainda não avaliou o tema.
Com agências internacionais
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