São Paulo, Quinta-feira, 23 de Setembro de 1999
Próximo Texto | Índice

AÇÃO JUDICIAL

Governo federal busca recuperar gastos com o tratamento de pessoas com doenças causadas pelo cigarro

EUA processam indústria do fumo

RENATO FRANZINI
de Nova York

O Departamento de Justiça dos EUA entrou ontem com uma ação contra a indústria do tabaco na qual busca recuperar boa parte dos gastos do governo federal no tratamento de pessoas com doenças causadas pelo cigarro nos últimos 45 anos.
Esses gastos passam de US$ 20 bilhões por ano, segundo informou a secretária de Justiça, Janet Reno, ao anunciar ontem a abertura do processo.
Reno disse que 400 mil norte-americanos morrem por ano de doenças relacionadas ao cigarro.
"Em nome do contribuinte, estamos pedindo que as companhias de tabaco paguem sua parte justa", disse a secretária.
Essa ação não tem a ver com o acordo feito em novembro do ano passado entre 46 dos 50 Estados americanos e a indústria do cigarro. O acordo prevê que a indústria pagará US$ 246 bilhões até 2025 para reembolsar os gastos dos Estados no tratamento de fumantes doentes em troca do fim dos processos judiciais.
No caso da ação do governo federal, dois grandes fabricantes de cigarro avisaram ontem que não vão buscar um acordo como fizeram com os Estados (leia ao lado).
A ação federal é o maior desafio legal da história da indústria do cigarro, já que pode fazer com que empresas paguem uma indenização bem maior do que o valor do acordo com os Estados. A notícia da ação fez com que as ações das companhias de cigarros caíssem na Bolsa de Nova York.
Em pronunciamento na TV, o presidente Bill Clinton afirmou que "é hora de os contribuintes terem seu dia no tribunal".
Ele negou a acusação das indústrias de que a ação seja uma jogada política. Em janeiro, Clinton havia mencionado a intenção de processar a indústria do cigarro, em seu discurso sobre o Estado da União no Congresso.
A ação federal argumenta que as companhias de cigarro iniciaram uma conspiração em 1954 para enganar o público americano sobre os efeitos do cigarro.
"Nos últimos 45 anos, as companhias que fabricam e vendem tabaco promoveram uma campanha internacional e coordenada de enganação", disse Reno.
Segundo ela, as empresas foram movidas por ganância. "Foi uma campanha desenhada para manter seus enormes lucros, qualquer que fosse o custo em vidas, sofrimento humano e em recursos médicos", afirmou.
O governo argumenta que desde 1953 as companhias sabem que o cigarro causa doenças e vício, apesar de elas negarem isso.
O Departamento de Justiça diz ter documentos que provam que, em janeiro de 1954, os principais executivos da indústria do tabaco se reuniram no Plaza Hotel em Nova York.
Na reunião, acertaram uma campanha de publicidade de longa duração de "fraude e ludibriação". A campanha visaria manter como consumidores quem já fosse viciado em nicotina e buscar o mercado mais jovem, com propagandas voltadas para crianças.


Próximo Texto: Vício: Clinton não consegue largar fumo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.