São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

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REALITY SHOW

Avião que fez pouso de emergência exibiu notícias durante o vôo

Passageiros viram drama pela TV

ANDREW GUMBEL
DO "INDEPENDENT"

Tudo começou como um rumor durante a tarde. "Ouviu falar do avião?", perguntavam.
Em menos de uma hora, quase todos ouviram -e assim começou quiçá o maior evento de mídia que Los Angeles viu desde a perseguição a O.J. Simpson, mais de 11 anos atrás.
Um avião da companhia Jet Blue se deu conta de que não podia recolher o trem de pouso.
A aeronave sobrevoou Los Angeles por três horas, sempre monitorada pela imprensa.
Numa nação atacada de ansiedade por conta da guerra no Iraque, da ameaça de ataques estrangeiros e do poder destrutivo da natureza, ali havia um drama em escala íntima o bastante para ser entendida por todos.
O avião explodiria ao tocar o solo? O piloto manteria a calma? Os passageiros não apenas pensavam nisso: eles acompanhavam o que se passava pelos televisores do avião, sintonizados num canal de notícias em que especialistas discutiam animadamente cenários possíveis como ferimentos, mutilação e morte.
"Foi arrepiante assistir a nós", disse mais tarde o passageiro Matthew Ash ao "Los Angeles Times". "Inimaginável. Ouvimos pessoas especulando sobre isso e aquilo. Foi estranho." Diversos passageiros foram tomados por um senso de humor negro e não paravam de rir.
A televisão não quis dizer, pois estragaria o drama, mas pousar um avião nesse estado é relativamente simples. Mesmo descer sem roda nenhuma é algo a que se pode sobreviver, pilotos disseram mais tarde.
Todos os olhos dirigiam-se ao vôo 292 quando o piloto Scott Burke fez a descida. Os passageiros foram mandados para o fundo do avião, por razões de distribuição de peso e para maximizar sua segurança. A televisão que os distraíra foi desligada. A tripulação pediu enfim que todos ficassem na posição que praticaram.
O avião tocou o chão primeiro com as rodas traseiras e conseguiu um pouso perfeito. Os passageiros o saudaram com abraços. No ar, o piloto estava tão calmo que se preocupava mais com a mídia do que com cometer um erro fatal. "Quero que os lobos da mídia fiquem longe de mim", disse à torre de controle.


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