São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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Editor critica Miller em e-mail a jornalistas

DA REDAÇÃO

O editor-executivo do "New York Times", Bill Keller, enviou à equipe do jornal um extenso e-mail na noite da última sexta-feira sobre o caso Judith Miller, a repórter envolvida no vazamento do nome de uma espiã cujo marido denunciou como falsas acusações do governo Bush contra o Iraque. O texto traz críticas à jornalista, aponta falhas da publicação e faz um mea culpa sobre os recentes escândalos que colocaram o "Times" na linha de fogo dos críticos.
No e-mail, Keller também lamenta que não tenha agido de maneira mais clara e incisiva na admissão de erros do jornal sobre a inexistência de armas de destruição em massa no Iraque.
"Além de algumas ocasiões em que eu gostaria de ter escolhido minhas palavras com mais cuidado, levantamos alguns pontos diante dos quais gostaríamos de ter tomado decisões diferentes", escreve. "São casos que, vistos com a clareza possibilitada pela distância, mostram erros dos quais podemos tirar lições."
"Eu não sabia que Judy era uma das repórteres na ponta receptora da campanha de rumores contra [a espiã Valerie] Plame", admite, dizendo que só tomou conhecimento do fato quando a jornalista foi intimada a depor. "Gostaria que, ao saber que Judy Miller havia sido intimada como testemunha, eu tivesse me sentado com ela, feito uma extensa entrevista sobre o que ela sabia do caso e prosseguido com minha própria apuração", desculpa-se.
"Em outros casos poderia estar correto confiar aos advogados o teor das entrevistas e anotações em questão. Mas, nesse caso, eu não prestei atenção no que deveria ser um alarme óbvio", continua Keller.
O editor-executivo afirmou que o jornal provavelmente teria defendido sua repórter em qualquer situação, já que "é um instinto natural e apropriado defender um repórter quando o governo tenta interferir em seu trabalho". "Mas, se eu soubesse dos detalhes do envolvimento de Judy com [Lewis] Libby [assessor do vice-presidente Dick Cheney], eu teria tomado mais cuidado no modo como o jornal articulou sua defesa."
Numa crítica direta a Miller, Keller cita um e-mail que recebeu de um de seus colegas como o que teria sido o modo ideal de lidar com o caso: "Há, ou deveria haver, um contrato entre o jornal e seus repórteres pelo qual o jornal os apóia institucionalmente, mas só até o momento em que o o repórter cumpre a sua parte, especificamente ao manter-se dentro de um padrão legal, ético e jornalístico consistente, sendo aberto com o jornal sobre suas fontes, erros, conflitos e similares, e que faça por merecer todos nós arriscarmos nossa reputação".
O editor encerra colocando em questão o modo como o jornal lida com notícias a seu próprio respeito e indagando o quanto isso pode ferir o interesse do leitor.


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