São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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RELIGIÃO

Para vaticanista, o encontro "dirá que o cristão não pode compartimentar os seus valores" dentro e fora da igreja

Sínodo estabelece prioridades para a Igreja Católica

FÁBIO CHIOSSI
DA REDAÇÃO

O sínodo que termina hoje, no Vaticano, com uma missa celebrada pelo papa Bento 16, estabelece uma nova agenda de questões a serem consideradas pela Igreja Católica nos próximos anos. É isso o que diz o vaticanista norte-americano John Allen Jr., autor do livro "Conclave" (Record).
Levando em consideração que o sínodo é um corpo consultivo, cujas proposições finais foram resumidas em um documento para ser entregue ao papa e do qual ele fará o que quiser, Allen Jr. lembra que a principal função dessa reunião de bispos e outros clérigos não é propor soluções para os eventuais problemas que a Igreja Católica deve enfrentar, mas definir os problemas significantes.
"O que o sínodo fez, por exemplo, foi colocar na agenda da Igreja Católica questões como a escassez de padres e a discussão sobre o ordenamento de homens casados", diz Allen Jr. acerca de um problema levantado no sínodo. Esses assuntos são "reconhecidos agora como problemas urgentes a serem enfrentados com novas idéias. O sínodo não oferece as soluções, mas convida a igreja a pensar sobre os problemas".
O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Odilo Pedro Scherer, lembra que o sínodo é um organismo de "co-responsabilidade pela vida e pela missão da igreja", o que reforça a função da assembléia destacada por Allen Jr.
Sobre um problema específico que a Igreja Católica tem enfrentado, os escândalos de abusos sexuais que têm sido revelados nos EUA, John Allen Jr. disse que, até onde sabe, eles não foram discutidos "nem nos documentos oficiais, nem nos grupos de discussão" do sínodo. Isso em boa medida porque, diz ele, o assunto não está relacionado diretamente ao tema do sínodo, a Eucaristia. E é o tema que define o enfoque principal das discussões que tiveram lugar no Vaticano nestas três semanas -a reunião começou no último dia 2-, protagonizadas por mais de 250 clérigos, em sua maioria bispos e arcebispos.

Ações sociais
"O cerne da discussão foi como comunicar os ensinamentos da igreja sobre Eucaristia ao mundo moderno", diz Allen Jr. "O tema principal das discussões provavelmente foi como tornar esse ensinamento compreensível e relevante", diz, acrescentando que a intenção dos bispos é, conseqüentemente, tornar a Comunhão "não só uma prática vazia de significado exercida aos domingos, mas algo que inspire os cristãos a tentar transformar o mundo -por exemplo, a ligação entre Eucaristia e ações sociais".
Considerando que a fronteira entre ações sociais e ações políticas não é algo que se estabelece facilmente, Allen Jr. afirma que um dos desafios da igreja é criar um equilíbrio na prática cristã, tentando fazer com que "os fiéis estejam atentos para as questões sociais, mas sem que imponham soluções políticas, que estão fora da competência da igreja".
Explicando que esse é um assunto geralmente levantado pelos bispos dos países "em desenvolvimento", entre eles o Brasil, o vaticanista americano completa afirmando que "há um entendimento de que os cristãos não podem ser indiferentes às mazelas sociais, mas, ao mesmo tempo, há um entendimento de que a igreja não é um partido político. Basicamente, eu creio que o sínodo dirá que o cristão não pode compartimentar seus valores; ele não pode dizer "eu tenho tais valores na igreja e tais outros fora dela'".
O que contou à Folha dom Odilo Scherer -que, ao contrário do presidente da CNBB, dom Geraldo Majella, não participou do sínodo- sobre as discussões levadas pelos quatro representantes brasileiros ao sínodo vai ao encontro do que disse o vaticanista americano. "As preocupações com a vida social, econômica e política do país não deixam de ser relacionadas com a celebração da Eucaristia, de maneira que dela os católicos possam tirar forças para a vivência cristã no meio e na sociedade", disse dom Odilo.


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