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Iraque patina na revitalização de sua indústria petroleira
Seis anos após a queda de Saddam, país ainda não consegue superar os níveis de produção da época de sua ditadura
Bagdá aposta na atração de gigantes do setor expulsas em 1972, mas insegurança e falta de regras claras para concessão travam expansão
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ
Com pelo menos 115 bilhões
de barris em reservas comprovadas, o Iraque tem na indústria do petróleo a única fonte de
financiamento de sua reconstrução, após sofrer três guerras
e mais de uma década de sanções econômicas desde os anos
80. Mas a produção não decola
por causa da dificuldade em
modernizar a infraestrutura
sucateada e da nebulosa política de concessão de contratos.
Para revitalizar a indústria
petrolífera, o Iraque aposta no
regresso das gigantes estrangeiras expulsas do país em 1972
pelo então presidente golpista
Ahmed Hassan al Bakr, antecessor de Saddam Hussein
(1979-2003).
Os 80 campos que fornecem
mais de 90% da receita do governo iraquiano operam com
os mesmos equipamentos
montados nos anos 70 com tecnologia soviética. O material
nunca foi renovado porque
Saddam deflagrou duas guerras
desde então: contra o Irã, em
1980, e contra o Kuwait e aliados, em 1990 -a última levou a
ONU a impor um embargo econômico só levantado após a
queda do ditador, num terceiro
conflito há seis anos.
Embora tenham diminuído,
os ataques insurgentes no Iraque ainda visam oleodutos e locais de extração, alvos cuja proteção exige alto custo.
Nesse contexto, o país não
superou o nível de produção
que o regime de Saddam mantinha antes da invasão americana (cerca de 2,5 milhões de barris ao dia). Bagdá visa alcançar
uma produção de 4,5 milhões
barris por dia até 2013.
Além das questões de segurança, as empresas estrangeiras também têm preocupações
financeiras e legais. As gigantes
do setor exigem do Iraque melhores propostas de participação nos lucros e se queixam da
falta de regras claras no setor.
Vazio jurídico
O Iraque não tem uma Lei do
Petróleo. Um projeto redigido
pelo governo está engavetado
no Parlamento, em razão de divergências entre grupos étnico-confessionais sobre a repartição da renda do petróleo.
Os xiitas, ao sul, e os curdos,
ao norte, têm a maioria significativa das reservas, deixando
desprotegidos os sunitas, que
formavam a elite civil e militar
do antigo regime.
O critério geográfico favorece os xiitas em detrimento dos
sunitas, enquanto os curdos
querem autonomia para continuar fechando seus próprios
contratos -ao menos 30 já firmados com empresas estrangeiras sem o aval do governo
central, que não os reconhece.
Na falta de um quadro legal, o
Iraque chegou a anunciar, no
ano passado, regras de abertura
das reservas locais a empresas
estrangeiras.
Pelos planos, acordos de longo prazo para a exploração de
seis campos seriam objeto de
concorrência entre 41 empresas pré-selecionadas -a Petrobras não faz parte da lista. E
contratos de até um ano seriam
oferecidos sem licitação por
meio de cartas-convite a quatro
grandes petroleiras dos EUA e
da Europa (sócios originais da
Iraq Petroleum Company antes da nacionalização) sob o vago rótulo de "prestação de serviços técnicos".
Mas o primeiro contrato foi
firmado sem licitação nem carta-convite. A China assinou um
acordo para fornecer perícia e
equipamento para alavancar a
exploração do campo de Ahdab,
a sudeste de Bagdá, perto da
fronteira com o Irã.
O pacto contrariou suspeitas
de que os EUA, por terem derrubado o regime de Saddam, seriam favorecidos nos contratos
petroleiros.
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