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EUA ignoraram tortura no Iraque, diz site
WikiLeaks divulga 400 mil documentos secretos, mostrando também 15 mil mortes de civis não contabilizadas
Relatórios revelam que autoridades americanas presenciaram, mas não investigaram, abusos das forças iraquianas
30.mar.2007-Patrick Ba/France Presse
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Mulher passa por soldado dos EUA que patrulha bairro sunita em Bagdá; mais de 100 mil iraquianos foram mortos na guerra, revelam documentos
DE SÃO PAULO
Novos documentos secretos militares obtidos pelo site
WikiLeaks revelam que o
Exército dos EUA encobriu
centenas de casos de tortura
praticados por forças de segurança iraquianas.
As informações também
mostram que mais de 15 mil
civis morreram no Iraque em
incidentes não divulgados
anteriormente.
As informações constam
de cerca de 400 mil relatórios
secretos do Exército americano sobre missões da coalizão
no Iraque -o maior vazamento desse tipo de documento da história.
Em julho deste ano, o mesmo site havia divulgado 91
mil documentos secretos que
revelavam detalhes sobre a
guerra do Afeganistão.
Acredita-se que os dois vazamentos tiveram a mesma
fonte: um analista dissidente
da inteligência do Exército
americano. Mas o WikiLeaks
se nega a revelar a identidade do responsável.
Os documentos revelados
desta vez referem-se ao período da Guerra do Iraque
compreendido entre 1º de janeiro de 2004 e 31 de dezembro de 2009.
Eles mostram, segundo o
jornal britânico "Guardian",
"um retrato sombrio" do legado americano no Iraque ao
detalhar torturas, execuções
sumárias e crimes de guerra.
Pelos relatórios, autoridades americanas falharam em
investigar centenas de relatos de abusos, torturas, estupros e até assassinatos cometidos por forças de segurança
do Iraque, cuja conduta aparenta ser sistemática e ficar
normalmente impune.
Há ainda inúmeros relatos
sobre abusos de detentos, alguns apoiados por evidências médicas.
Relatórios dão conta de
prisioneiros algemados, vendados, pendurados pelos tornozelos ou pulsos e vítimas
de chicotadas, socos, chutes
e choques elétricos.
Em um episódio, um prisioneiro estava ajoelhando
no chão, vendado e algemado, quando um soldado iraquiano se aproxima dele e o
chuta no pescoço.
Um fuzileiro americano,
que assiste à cena, reporta o
incidente, cujo resultado é:
"Nenhuma investigação necessária". Ao menos seis casos terminaram com a morte
dos prisioneiros.
Essa conivência com a tortura é o resultado de uma ordem oficial, de junho de
2004, pela qual tropas da
coalizão liderada pelos EUA
não deveriam investigar
qualquer violação das leis de
conflito armado, ao menos
que ela envolvesse seus próprios membros.
MORTES DE CIVIS
Autoridades dos EUA e do
Reino Unido dizem que não
há dados oficiais sobre mortes de não combatentes no
conflito, iniciado em 2003.
Mas os registros militares
mostram 66.081 mortes de civis de um total de 109 mil.
Para divulgar os relatórios, o site fez acordo com
veículos tradicionais como
os jornais "Guardian", e
"New York Times" e as redes
BBC e Al Jazeera.
A divulgação ocorreria
apenas hoje, mas a Al Jazeera
antecipou-se, quebrando um
acordo, segundo o site.
O site informou ter apagado os nomes que constavam
dos documentos para evitar
represálias e prometeu divulgá-los na internet.
Nem o governo dos EUA
nem o do Iraque comentaram as informações levadas a
público ontem.
Antes da divulgação, no
entanto, o Pentágono havia
dito não esperar grandes surpresas, apesar de alertar que
soldados americanos e iraquianos podem ser colocados em risco pelo vazamento
das informações.
Nos últimos dias, autoridades dos EUA e a da Otan
apontaram risco de prejudicar soldados no Iraque.
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