São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2010

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EUA ignoraram tortura no Iraque, diz site

WikiLeaks divulga 400 mil documentos secretos, mostrando também 15 mil mortes de civis não contabilizadas

Relatórios revelam que autoridades americanas presenciaram, mas não investigaram, abusos das forças iraquianas

30.mar.2007-Patrick Ba/France Presse
Mulher passa por soldado dos EUA que patrulha bairro sunita em Bagdá; mais de 100 mil iraquianos foram mortos na guerra, revelam documentos

DE SÃO PAULO

Novos documentos secretos militares obtidos pelo site WikiLeaks revelam que o Exército dos EUA encobriu centenas de casos de tortura praticados por forças de segurança iraquianas.
As informações também mostram que mais de 15 mil civis morreram no Iraque em incidentes não divulgados anteriormente.
As informações constam de cerca de 400 mil relatórios secretos do Exército americano sobre missões da coalizão no Iraque -o maior vazamento desse tipo de documento da história.
Em julho deste ano, o mesmo site havia divulgado 91 mil documentos secretos que revelavam detalhes sobre a guerra do Afeganistão.
Acredita-se que os dois vazamentos tiveram a mesma fonte: um analista dissidente da inteligência do Exército americano. Mas o WikiLeaks se nega a revelar a identidade do responsável.
Os documentos revelados desta vez referem-se ao período da Guerra do Iraque compreendido entre 1º de janeiro de 2004 e 31 de dezembro de 2009.
Eles mostram, segundo o jornal britânico "Guardian", "um retrato sombrio" do legado americano no Iraque ao detalhar torturas, execuções sumárias e crimes de guerra.
Pelos relatórios, autoridades americanas falharam em investigar centenas de relatos de abusos, torturas, estupros e até assassinatos cometidos por forças de segurança do Iraque, cuja conduta aparenta ser sistemática e ficar normalmente impune.
Há ainda inúmeros relatos sobre abusos de detentos, alguns apoiados por evidências médicas.
Relatórios dão conta de prisioneiros algemados, vendados, pendurados pelos tornozelos ou pulsos e vítimas de chicotadas, socos, chutes e choques elétricos.
Em um episódio, um prisioneiro estava ajoelhando no chão, vendado e algemado, quando um soldado iraquiano se aproxima dele e o chuta no pescoço.
Um fuzileiro americano, que assiste à cena, reporta o incidente, cujo resultado é: "Nenhuma investigação necessária". Ao menos seis casos terminaram com a morte dos prisioneiros.
Essa conivência com a tortura é o resultado de uma ordem oficial, de junho de 2004, pela qual tropas da coalizão liderada pelos EUA não deveriam investigar qualquer violação das leis de conflito armado, ao menos que ela envolvesse seus próprios membros.

MORTES DE CIVIS
Autoridades dos EUA e do Reino Unido dizem que não há dados oficiais sobre mortes de não combatentes no conflito, iniciado em 2003.
Mas os registros militares mostram 66.081 mortes de civis de um total de 109 mil.
Para divulgar os relatórios, o site fez acordo com veículos tradicionais como os jornais "Guardian", e "New York Times" e as redes BBC e Al Jazeera.
A divulgação ocorreria apenas hoje, mas a Al Jazeera antecipou-se, quebrando um acordo, segundo o site.
O site informou ter apagado os nomes que constavam dos documentos para evitar represálias e prometeu divulgá-los na internet.
Nem o governo dos EUA nem o do Iraque comentaram as informações levadas a público ontem.
Antes da divulgação, no entanto, o Pentágono havia dito não esperar grandes surpresas, apesar de alertar que soldados americanos e iraquianos podem ser colocados em risco pelo vazamento das informações.
Nos últimos dias, autoridades dos EUA e a da Otan apontaram risco de prejudicar soldados no Iraque.


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