São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

A ARGENTINA VOTA

Cristina tenta hoje reeleição histórica

Embalada pela recuperação do país, presidente enfrenta oposição fragmentada e pode vencer no primeiro turno

Diferença para segundo colocado pode chegar a 40 pontos; luto e legado político do marido são armas na campanha

Martín Acosta/Reuters
Espelho retrovisor mostra pôsteres de campanha de Cristina Kirchner em Buenos Aires

LUCAS FERRAZ
SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Impulsionada pela forte recuperação da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, 58, deverá ser reeleita hoje no primeiro turno com a chance de se tornar um dos presidentes mais bem votados da história do país, ao lado de nomes como Juan Perón.
Única representante do projeto político iniciado por seu marido, Néstor Kirchner (1950-2010), em 2003, e explorando o luto e o legado do ex-presidente, Cristina encontrou um caminho tranquilo para a reeleição com uma oposição fragmentada.
Segundo os prognósticos, a presidente pode superar o segundo colocado em até 40 pontos, algo inédito na história das eleições argentinas.
Pesquisa mais recente da consultora Management & Fit dá a Cristina 54,3% dos votos. Os indecisos estão em segundo, com 14,3%. Logo atrás vêm o socialista Hermes Binner, com 11%, Rodríguez Saá (peronista dissidente) e Ricardo Alfonsín (UCR), ambos empatados com 5,5%.
Quem mais caiu foi o também peronista dissidente Eduardo Duhalde, com 4%. A conservadora Elisa Carrió, que chegara em segundo na primeira eleição de Cristina, mal consegue 1% dos votos.
Para Mariel Fornoni, diretora da Management & Fit, o fato de a oposição ter ido tão mal nas primárias, em agosto, fez muita gente se decepcionar com os candidatos e retirar os seus votos -daí o grande número de indecisos.
Eleita em 2007 após mandatos no Congresso, Cristina seguiu na Casa Rosada a cartilha do marido, responsável por reerguer o país após a crise de 2001. Com forte intervenção do Estado, os governos Kirchner fizeram a economia crescer à média de 9% ao ano e reduziram a pobreza com programas sociais.
Ela também apoiou bandeiras progressistas, como o casamento gay e uma política de direitos humanos que incentiva o julgamento de militares que cometeram crimes na última ditadura (1976-83).
"Eles conseguiram algo semelhante ao que Lula fez no Brasil, de recuperar a autoestima, principalmente dos mais pobres", disse à Folha o analista Ricardo Rouvier.
A repentina viuvez de Cristina contribuiu para sua popularidade. Antes da morte de Néstor (por infarto, em 27 de outubro de 2010), sua avaliação estava em declínio.
Além do luto que já dura quase um ano, Cristina passou a se referir a Néstor em discursos, quando costuma chorar, usando apenas "Ele".
A morte do marido amenizou o tom de confrontação que lhe era característico, embora seu governo continue promovendo ações contra a imprensa independente e empresas não alinhadas.
A presidente também distanciou-se do sindicalismo para fomentar o crescimento do La Cámpora, grupo jovem criado por seu filho Máximo cujos integrantes ocupam diversos cargos no governo.



Próximo Texto: A Argentina vota: Relação com o Brasil tem problemas no 'varejo'
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.