São Paulo, sexta, 23 de outubro de 1998

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PROCESSO A PINOCHET
Familiares querem que ex-ditador chileno responda também pela morte de 5 cidadãos brasileiros
Acusação pode incluir mortos brasileiros

EMANUEL NERI
da Reportagem Local

A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos do regime militar brasileiro (1964-1985) quer que o general Augusto Pinochet também responda pelas mortes de cinco brasileiros ocorridas no Chile durante o regime militar naquele país (1973-90).
O pedido foi feito ontem ao presidente Fernando Henrique Cardoso em carta enviada por Suzana Lisbôa, da Comissão de Mortos e Desaparecidos. Pede que o governo "faça chegar oficialmente às mãos" do juiz espanhol Baltasar Garzón a lista desses mortos.
O juiz Garzón é o responsável pelo processo judicial que levou à detenção do ex-ditador chileno em uma clínica em Londres. A comissão defende a extradição de Pinochet para a Espanha para responder às acusações de crime.
Integrante da comissão do governo responsável pela indenização de familiares de mortos e desaparecidos no regime militar brasileiro, Suzana também pede a intermediação de FHC para que o Chile entregue os corpos dos brasileiros mortos naquele país.
A Comissão de Mortos e Desaparecidos enviou carta à Anistia Internacional, pedindo para também encaminhar a relação dos brasileiros mortos ao juiz espanhol.
O Chile foi um dos principais destinos dos militantes esquerdistas que fugiram do regime militar no Brasil. Um deles foi o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os brasileiros mortos no Chile durante a ditadura militar naquele país foram Jane Vanini (militante da ALN, Ação Libertadora Nacional, a principal do Brasil), Luiz Carlos de Almeida, Nelson de Souza Kohl (ambos do POC, Partido Operário Comunista), Túlio Roberto Cardoso Quintiliano e Vânio José de Matos (VPR, Vanguarda Popular Revolucionária).
Além deles, a comissão cita também o caso de Nilton Rosa da Silva, morto no Chile antes da ditadura de Pinochet. Lisbôa pede que os restos mortais do brasileiro sejam devolvidos ao país.
Em Londres, a Anistia Internacional reiterou a necessidade de outros países acompanharem o caso. "Esse não é um assunto que interessa a um ou dois países, interessa a todos, inclusive ao Brasil", disse Virginia Shoppee, pesquisadora da Anistia Internacional.
² Outros países
Ontem, o Parlamento Europeu aprovou resolução que pede que o governo espanhol solicite o mais rápido possível a extradição de Pinochet do Reino Unido para ser julgado na Espanha.
A resolução foi pedida pela ala socialista do Parlamento, com sede em Estrasburgo, na França.
Em Genebra, a Justiça suíça anunciou que também irá participar do cerco a Pinochet.
O procurador-geral Bernard Bertossa recebeu ontem uma queixa contra o ditador por sequestro, tortura e assassinato de Alexei Jaccard-Siegler, cidadão suíço-chileno que desapareceu na Argentina em maio de 1977.
²


Colaboraram Isabel Clemente, de Londres, Claudinê Gonçalves, especial para a Folha em Genebra, e as agências internacionais



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