São Paulo, sexta, 23 de outubro de 1998

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ESFORÇOS DE PAZ
Instituto questiona vontade militar e política de potências mundiais na solução pacífica de conflitos
Indecisão militar prejudica diplomacia

ISABEL CLEMENTE
de Londres

Ameaças militares vazias estão pondo em xeque a capacidade de as negociações diplomáticas surtirem bons resultados na solução de conflitos internacionais, segundo um estudo divulgado ontem pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IIAA).
Citando recentes e ainda infrutíferas negociações de paz na Iugoslávia, no Oriente Médio e para inspeções de armas no Iraque, o instituto questiona se há realmente vontade política e capacidade militar, por parte dos líderes ocidentais, para garantir negociações diplomáticas efetivas.
"A qualidade dos resultados diplomáticos alcançados está diretamente relacionada à probabilidade do uso da força", disse John Chipman, diretor do instituto.
"Quando fica claro que o uso da força por si só não pode garantir a submissão, então os contatos diplomáticos vão sempre falhar."
As inspeções de armas de destruição em massa no Iraque, por exemplo, foram conseguidas depois de bem-sucedidas negociações diplomáticas com o presidente Saddam Hussein, em fevereiro. A arma usada então foram duras ameaças de ataques por parte dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Na época em que o acordo com o Iraque foi assinado, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, havia dito que "a diplomacia trabalha melhor quando está garantida por força militar".
De acordo com o relatório, o número de tropas das Nações Unidas em missões de paz está em seu mais baixo nível desde 91. O orçamento para essas operações previsto para 1999 também é menor.
Ainda segundo o relatório, o comércio internacional de armamentos cresceu 17% em 97, incentivado pela demanda cada vez maior dos países do golfo Pérsico.
O cenário mundial traçado pelo estudo não mostra melhora ou redução nas zonas de tensão. Índia e Paquistão, ao realizarem testes nucleares no final de maio último, se juntaram aos outros barris de pólvora que preocupam a comunidade internacional, alertam os pesquisadores.
²
América Latina
Apesar de estar entre os menores mercados para armas e serviços militares do mundo, a América Latina aumentou em 6% seus gastos com defesa, ultrapassando o crescimento da economia na região, de 4,5%. O Brasil puxou a alta nos investimentos latino-americanos nos últimos seis anos.
Em sua maioria, são gastos voltados para o combate ao crime organizado. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a região gasta, por ano, US$ 168 bilhões em defesa interna.



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