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CÚPULA SOCIAL
Empresas criam cargos de tempo parcial, com salários um pouco menores, o que garante competitividade
Emprego meio período avança na Europa
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Luxemburgo
A redução da jornada de traba
lho, o mais recente enfoque para
combater o desemprego, entrou
apenas de passagem na pauta da
Cúpula Social que a UE (União Eu
ropéia) encerrou anteontem em
Luxemburgo.
Nem precisava. Aos poucos, co
meça a se disseminar, a ponto de o
chanceler luxemburguês, Jacques
Poos, prever: "A idéia das 35 ho
ras semanais se imporá a todos no
início do século 21."
Talvez seja um exagero, mas o fa
to é que o trabalho em tempo par
cial, a versão mais exacerbada da
redução da jornada, avança noto
riamente na Europa. Nos 15 países
da UE, já são 16% os que traba
lham meio período.
O mais recente exemplo é o da
Siemens, a maior empregadora da
Alemanha, com seus 197 mil fun
cionários.
Acordo com o sindicato permi
tiu que os empregados de 55 anos
ou mais reduzam à metade a jor
nada de trabalho, com corte sala
rial de apenas 18%.
Cerca de 8.400 trabalhadores da
Siemens trabalham meio período.
Seu principal executivo, Heinrich
von Pierer, considera o esquema
não um custo adicional, mas um
meio de melhorar a produtividade.
Detalhe: a previsão é de que o lu
cro da empresa crescerá este ano,
em relação ao ano passado, mes
mo com a turbulência nos merca
dos financeiros.
Na Alemanha, aliás, a Volkswa
gen havia sido a pioneira no esque
ma de reduzir a jornada (para 28,8
horas semanais), com um corte
menor dos salários. Salvou 30 mil
empregos e voltou a dar lucro.
Mais lazer
Na Holanda, a Philips adotou
igualmente horários flexíveis,
também com ajuste nos salários,
para que os custos de produção
não aumentassem.
Já o trabalho em tempo parcial
tornou-se verdadeira mania:
38,1% dos holandeses trabalham
"part-time", de longe o índice
mais alto na UE.
Esse é um dos motivos que com
põem o chamado "milagre holan
dês", expressão pouco imaginati
va para designar um país que redu
ziu o desemprego (para 6,1%, con
tra a média européia de quase
11%), reduziu também o déficit or
çamentário e vê a sua economia
crescer.
Não é, em todo o caso, um mila
gre sem custos: os salários reais
(descontada a inflação) médios
são hoje inferiores aos de 1970.
De todo modo, o trabalho
"part-time" é menos polêmico do
que a redução da jornada para 35
horas semanais, como pretendem
impor, por lei, os governos da Itá
lia e da França para o início do pró
ximo século.
Na prática, representa combinar
a fome com a vontade de comer:
em países como a Holanda, em
que os problemas básicos estão re
solvidos e a qualidade de vida é al
tíssima.
Muita gente pode, então, dar-se
ao luxo de ganhar menos, desde
que trabalhe menos e sobre mais
tempo para a família, o lazer, as
viagens etc.
Já a redução da jornada, em tese,
encarece os custos para as empre
sas, a menos, claro, que os salários
sejam reduzidos na mesma pro
porção, o que os sindicatos não
aceitam.
"Reduzir as horas de trabalho
pode ser útil apenas em casos mui
to específicos e onde houver acor
do entre empresas e sindicatos,
sempre levando em conta as con
sequências sobre a competitivida
de da economia", diz, por exem
plo, Padraig Flynn, comissário
(espécie de ministro) europeu pa
ra Assuntos Sociais.
O patronato não concorda nem
com essa cautelosa avaliação. Pe
ter Stihl, presidente das Câmaras
de Comércio e Indústria da Ale
manha, prega, na contracorrente,
a volta à semana de 40 horas, sem
aumento de salários, "para redu
zir o custo da mão-de-obra e esti
mular as empresas a contratar".
A polêmica mostra duas coisas: o
fato de que trabalhar menos ga
nhou espaço importante na agen
da européia. Mas não basta para
permitir a previsão de que as 35
horas logo se generalizarão, feita
pelo luxemburguês Jacques Poos.
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