|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO NOS EUA / NOVAS IDÉIAS
Centro progressista domina futuro governo
Esquerdista Centro para o Progresso Americano emplaca membros na equipe de presidente eleito e vê suas idéias serem endossadas
Think-tank pode ter papel semelhante ao ocupado pela conservadora Heritage Foundation no governo do republicano Ronald Reagan
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Nos anos 80, o presidente republicano Ronald Reagan
(1981-89) encontrou no grupo
de estudos conservador Heritage Foundation a base intelectual que precisava para formular suas políticas. Mais de 20
anos depois, algo semelhante
parece ocorrer entre Barack
Obama e o think-tank esquerdista Centro para o Progresso
Americano (CAP), que já se tornou grande provedor de idéias
e pessoal para a Casa Branca.
O melhor exemplo dessa relação se vê na atuação do presidente do CAP, John Podesta,
57. Ele foi escolhido para chefiar a equipe de transição do
presidente eleito.
Outro dos principais membros do centro, o ex-senador
Tom Daschle, deverá ser confirmado como próximo secretário da Saúde, uma das áreas
prioritárias do novo governo.
Ron Clain, membro do conselho diretor do CAP, também
alcançou cargo de destaque na
equipe presidencial, tendo sido
nomeado chefe-de-gabinete do
vice-presidente Joe Biden. E há
ao menos outros dez participantes do centro que fazem
parte do time de transição.
Mas ainda mais importante
do que a absorção de pessoal é a
afinidade de idéias. Muitos afirmam que foi no centro que
Obama buscou as propostas de
retirada gradual do Iraque e de
focar a estratégia militar dos
EUA no Afeganistão.
Há também o plano do CAP
para universalizar os seguros-saúde, que tem na indicação de
Daschle endosso tácito de Obama. E o presidente eleito ainda
usou parte do plano do CAP para sugerir a criação de "empregos ecológicos", algo ligado a
uma estratégia para abordar a
mudança climática.
É uma grande conquista para
um grupo com cinco anos de
existência e que não é o maior
nem o mais bem financiado de
Washington. O CAP tem aproximadamente 180 funcionários
e um orçamento anual de US$
27 milhões; o Instituto Brookings, que também enviou vários membros para equipes de
Obama, tem mais de 400 funcionários e orçamento de US$
48 milhões -mas menos influência até agora.
Medida de poder
O analista Michael Cohen,
membro de outro think-tank
esquerdista, o New America
Foundation, concorda que a
contribuição do CAP para a
campanha de Obama foi "vital".
"Os membros do centro foram
muito bons, por exemplo, em
sugerir políticas para segurança nacional", afirmou à Folha.
Mas Cohen minimiza a influência do CAP sobre Obama,
que segundo ele "é alguém com
idéias próprias". "Nenhum
think-tank vai dirigir suas decisões. Obama terá atuação pragmática, de centro, e não esquerdista. É diferente do que
ocorreu com a Heritage Foundation, pois Reagan não tinha
propostas prontas."
A própria Heritage Foundation, porém, é rápida em traçar
paralelos com o CAP. "Eles são
agressivos, bons em publicidade, bem financiados e certamente têm um ponto de vista
próprio", disse à Folha Lee Edwards, membro da fundação e
expert no movimento conservador. "Estamos lisonjeados
por decidirem nos imitar."
Em mais um ponto de similaridade, o CAP divulgou, dias
após a eleição de Obama, um
documento de proposição de
políticas, intitulado "Mudança
para a América: Um Plano Progressista para o 44º Presidente". A fundação conservadora
fez o mesmo para Reagan pouco antes da eleição, em 1980.
Segundo Edwards, Reagan
adotou ao menos parcialmente
60% das idéias do documento
da fundação. "A questão agora
é saber o quanto Obama seguirá as propostas do CAP", disse.
Mas ele vê um risco: a perda
da capacidade crítica ante a
proximidade com o governo.
Texto Anterior: Obama anuncia plano para criar empregos Próximo Texto: Gabinete: Obama anuncia Robert Gibbs para a secretaria de Imprensa Índice
|