São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 2006

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Haiti mergulha em novo surto de violência

Tiroteio entre gangues e forças de paz durante ação comandada pelo batalhão brasileiro deixa ao menos cinco mortos

Seqüestros aumentam em dezembro; chefe da missão da ONU se diz "alarmado", e presidente lamenta "Natal triste para as crianças"

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

Uma operação conjunta da força de paz da ONU e da Polícia Nacional Haitiana contra a recente onda de seqüestros em Porto Príncipe, coordenada pelo Brasil, acabou ontem em trocas de tiros com gangues armadas na favela de Cité Soleil. Houve ao menos cinco mortos e vários feridos.
A porta-voz da Minustah (Missão de Estabilização da ONU no Haiti), Sophie Boutaud-de-la-Combe, confirmou os confrontos e disse à Folha "ser possível" que mortes tenham ocorrido, sem, porém, dar números.
Na ação, o 3º sargento Gilson Clemente Fonseca foi ferido levemente. Ele não corre perigo.
Em uma ação preliminar na tarde de anteontem, um veículo blindado do Paraguai teve uma pane mecânica e foi alvo de coquetéis molotov.
Cité Soleil, uma das zonas mais violentas de Porto Príncipe, com cerca de 250 mil habitantes, está sob responsabilidade dos capacetes azuis brasileiros desde maio.
Segundo nota divulgada pelo Batalhão Brasileiro no Haiti, a operação teve início às 5h10 da manhã (2h10 em Brasília), com a ocupação de posições estratégicas por tropas brasileiras.
Participaram cerca de 300 militares de Bolívia, Brasil, Chile e outros países, além de 40 policiais da ONU, policiais haitianos e 20 blindados.
De acordo com Boutaud-de-la-Combe, a ação teve por objetivo reabrir uma importante via de acesso na zona de Bois Neuf, que havia sido bloqueada pelas gangues. Ela não pôde confirmar se reféns estavam sendo mantidos nessa região.
"As gangues se protegem bloqueando as ruas e impedindo o acesso da população."
Já o Batalhão Brasileiro afirmou que o "principal objetivo foi fortalecer a presença da Minustah em Bois Neuf e oferecer melhores condições de segurança para a população".
A nota diz ainda que a força de paz atuou "dentro das regras de engajamento preconizadas pela ONU, para sua autodefesa e somente quando identificadas as ameaças".
A France Presse afirmou que várias vítimas foram levadas a um hospital da organização Médicos Sem Fronteiras.

Onda de seqüestros
Comuns no Haiti, os seqüestros foram especialmente numerosos neste mês. Apenas na capital, Porto Príncipe, 29 crianças foram seqüestradas em um período de três dias, na semana passada. No início desta semana, cerca de sessenta passageiros de dois ônibus também foram feitos reféns.
Segundo o general brasileiro José Elito Siqueira, comandante militar da missão, a média de janeiro a junho foi de entre 15 e 20 seqüestros por mês. Já em dezembro do ano passado, houve cerca de 200 casos.

"Natal triste"
"É um Natal triste para as crianças", disse o presidente do Haiti, René Préval, numa cerimônia ontem com centenas de crianças, sem comentar a ação. "Vou lhes dar brinquedos, mas o presente mais bonito que eu poderia prometer é que os seqüestros acabassem e que se pudesse celebrar o Natal em outras condições em 2007."
Anteontem, o chefe diplomático da Minustah, Edmond Mulet, se disse alarmado com a onda de seqüestros e afirmou que eles podem ter motivação política. "Há alguém por trás que quer gerar temor no país."
Mulet disse ainda que as forças da ONU receberam "luz verde" do governo haitiano para incrementar suas ações anti-seqüestros e se comprometeu a apresentar resultados "no menor tempo possível".
Segundo a ONU, desde o início das operações, 24 supostos seqüestradores foram detidos e seis reféns foram libertados.


Com agências internacionais



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