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Haiti mergulha em novo surto de violência
Tiroteio entre gangues e forças de paz durante ação comandada pelo batalhão brasileiro deixa ao menos cinco mortos
Seqüestros aumentam em dezembro; chefe da missão da ONU se diz "alarmado", e presidente lamenta "Natal triste para as crianças"
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Uma operação conjunta da
força de paz da ONU e da Polícia Nacional Haitiana contra a
recente onda de seqüestros em
Porto Príncipe, coordenada pelo Brasil, acabou ontem em trocas de tiros com gangues armadas na favela de Cité Soleil.
Houve ao menos cinco mortos
e vários feridos.
A porta-voz da Minustah
(Missão de Estabilização da
ONU no Haiti), Sophie Boutaud-de-la-Combe, confirmou
os confrontos e disse à Folha
"ser possível" que mortes tenham ocorrido, sem, porém,
dar números.
Na ação, o 3º sargento Gilson
Clemente Fonseca foi ferido levemente. Ele não corre perigo.
Em uma ação preliminar na
tarde de anteontem, um veículo blindado do Paraguai teve
uma pane mecânica e foi alvo
de coquetéis molotov.
Cité Soleil, uma das zonas
mais violentas de Porto Príncipe, com cerca de 250 mil habitantes, está sob responsabilidade dos capacetes azuis brasileiros desde maio.
Segundo nota divulgada pelo
Batalhão Brasileiro no Haiti, a
operação teve início às 5h10 da
manhã (2h10 em Brasília), com
a ocupação de posições estratégicas por tropas brasileiras.
Participaram cerca de 300
militares de Bolívia, Brasil,
Chile e outros países, além de
40 policiais da ONU, policiais
haitianos e 20 blindados.
De acordo com Boutaud-de-la-Combe, a ação teve por objetivo reabrir uma importante
via de acesso na zona de Bois
Neuf, que havia sido bloqueada
pelas gangues. Ela não pôde
confirmar se reféns estavam
sendo mantidos nessa região.
"As gangues se protegem
bloqueando as ruas e impedindo o acesso da população."
Já o Batalhão Brasileiro afirmou que o "principal objetivo
foi fortalecer a presença da Minustah em Bois Neuf e oferecer
melhores condições de segurança para a população".
A nota diz ainda que a força
de paz atuou "dentro das regras
de engajamento preconizadas
pela ONU, para sua autodefesa
e somente quando identificadas as ameaças".
A France Presse afirmou que
várias vítimas foram levadas a
um hospital da organização
Médicos Sem Fronteiras.
Onda de seqüestros
Comuns no Haiti, os seqüestros foram especialmente numerosos neste mês. Apenas na
capital, Porto Príncipe, 29
crianças foram seqüestradas
em um período de três dias, na
semana passada. No início desta semana, cerca de sessenta
passageiros de dois ônibus
também foram feitos reféns.
Segundo o general brasileiro
José Elito Siqueira, comandante militar da missão, a média de
janeiro a junho foi de entre 15 e
20 seqüestros por mês. Já em
dezembro do ano passado, houve cerca de 200 casos.
"Natal triste"
"É um Natal triste para as
crianças", disse o presidente do
Haiti, René Préval, numa cerimônia ontem com centenas de
crianças, sem comentar a ação.
"Vou lhes dar brinquedos, mas
o presente mais bonito que eu
poderia prometer é que os seqüestros acabassem e que se
pudesse celebrar o Natal em
outras condições em 2007."
Anteontem, o chefe diplomático da Minustah, Edmond Mulet, se disse alarmado com a onda de seqüestros e afirmou que
eles podem ter motivação política. "Há alguém por trás que
quer gerar temor no país."
Mulet disse ainda que as forças da ONU receberam "luz
verde" do governo haitiano para incrementar suas ações anti-seqüestros e se comprometeu a
apresentar resultados "no menor tempo possível".
Segundo a ONU, desde o início das operações, 24 supostos
seqüestradores foram detidos e
seis reféns foram libertados.
Com agências internacionais
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