São Paulo, Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2000


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NOVO GOVERNO
Movimento popular que derrubou Mahuad com apoio militar promete manter protestos de rua
Índios deixam Quito acusando traição

France Presse
O presidente Gustavo Noboa chega ao palácio do governo, em Quito, com sua mulher, Maria


RODRIGO UCHÔA
enviado especial a Quito

O vice-presidente Gustavo Noboa, 62, tomou posse solene ontem como presidente do Equador no Palácio Carondelet, sede do governo federal, em Quito. Já havia sido declarado presidente no sábado pelo Congresso.
Ao seu lado, quando entrou no largo em frente ao palácio, Noboa tinha boa parte do alto escalão militar que o colocou na posição ao exigir o fim do governo do presidente Jamil Mahuad para evitar "uma explosão social".
"Não somos "fazedores de reis", apenas cuidamos do Equador", afirmou o general Carlos Mendoza, comandante das Forças Armadas e ministro da Defesa, que pediu a saída do antigo presidente. "Agimos segundo nossa Constituição", afirmou o general.
Fazendo a segurança da área, um contingente de mais de cem soldados em trajes de combate e capacetes contrastava com a guarda cerimonial, vestida com uniformes da era napoleônica, do começo do século 19.
Os muros da capital têm pichações como "Mahuad se foi, e daí?" e "Quito quer Bucarám de volta", referência a Abdallá Bucarám, presidente conhecido como "El Loco", que acabou deposto pelo Congresso em 1998.
Os cerca de 6.000 indígenas que ocupavam o Congresso começaram a deixar a cidade no sábado. Muitos xingavam os militares, a quem acusam de traição por terem abandonado seu movimento e apoiado um político tradicional, como Noboa. Seus líderes prometem retomar os protestos de rua. A maioria dos equatorianos têm raízes indígenas.
Sua ocupação do Congresso, com o auxílio de sindicatos fortes e de militares de patentes médias e altas, não durou nem três dias e seu objetivo foi um fracasso. Queriam formar um governo popular, baseado nos sovietes russos, e acabar com a dolarização.
O Congresso declarou sábado que a Presidência estava vaga, por causa da ausência do titular. Mahuad estava escondido em Quito. Declarou que não renunciou, foi derrubado, mas pediu apoio a Noboa. Ontem, disse que chegou a temer por sua vida.
O ex-ministro da Defesa José Gallardo disse ontem que as Forças Armadas impediram a instalação de uma ditadura no Equador, liderada pelo general Carlos Mendoza, pelo líder indígena Antonio Vargas e pelo ex-presidente da Suprema Corte Carlos Solórzano. Os três formaram uma junta para governar o país, mas Mendoza depois voltou atrás e, junto com o alto escalão militar, passou a apoiar a posse de Noboa.
Segundo Gallardo, Mendoza mudou de idéia por causa da oposição de líderes militares à quebra da ordem constitucional.
Já o deputado Paco Moncayo, ex-comandante militar, disse que a "velha classe política" do país está realizando uma "caça às bruxas" contras os movimentos sociais e militares que derrubaram Mahuad. O líder indígena Vargas está escondido e o coronel Lucio Gutiérrez, que apoiou a tomada do Congresso, está detido.


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