São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2002

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REVELAÇÃO

Documentos relatam conhecimento de abusos

Washington tolerou violações aos direitos humanos no Peru de 83 a 94

DA REDAÇÃO

O governo dos EUA tinha conhecimento dos assassinatos políticos e de outras violações aos direitos humanos no Peru durante os últimos 20 anos, mas foi tolerante com eles por considerá-los parte da luta antiterrorismo, segundo documentos tornados públicos ontem em Washington.
Os 41 documentos foram obtidos pela organização não-governamental Arquivo Nacional de Segurança, ligada à Universidade George Washington, com base na lei de liberdade de informação.
Os papéis contam com detalhes as operações antiterroristas no Peru entre 1983 e 1994, durante as presidências de Fernando Belaúnde (1980-1985), Alan García (1985-1990) e Alberto Fujimori (1990-2000).
Os documentos revelam que os diplomatas americanos em Lima recebiam permanentemente informações sobre as supostas atrocidades cometidas pelos esquadrões antiterroristas peruanos, mas que calavam-se por desejar que os guerrilheiros marxistas do Sendero Luminoso e do Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) fossem derrotados. A repressão ao Sendero e ao MRTA provocou a morte de cerca de 25 mil civis desde 1980. Outros 4.000 estão desaparecidos.
De acordo com uma mensagem da embaixada americana em Lima, datada de dezembro de 1990, um oficial da polícia peruana informou a diplomatas americanos no fim daquele ano sobre a existência de um esquadrão da morte policial responsável pelo assassinato de 300 supostos terroristas do Sendero Luminoso no Departamento (Estado) de Ayacucho um ano antes.
Porém uma investigação sobre o assunto revelou que as vítimas não eram "insurgentes da linha dura", como alegavam os policiais. "Muitos alvos eram aldeões que não se mostravam entusiastas de sua participação nas rondas camponesas patrocinadas pelos militares", escreveu a Washington o embaixador Anthony Quainton. As rondas camponesas eram grupos paramilitares criados pelo Exército e pelo serviço de inteligência nas zonas onde operavam as guerrilhas.
Um despacho anterior, de novembro de 1986, detalha o massacre de 12 civis nas aldeias de Pomatambo e Parcco, no Departamento de Ayacucho.
Num outro documento, o conselheiro político da embaixada americana relata uma conversa com um oficial peruano sobre a participação de militares num grupo paramilitar responsável pelos massacres de Barrios Altos e La Cantuta, em 1991 e 1992, nos quais foram mortas 26 pessoas. O oficial disse que não falaria abertamente sobre o assunto porque os militares seriam observados pelo Estado "na versão peruana da Alemanha sob a Gestapo".

Críticas
A divulgação dos documentos gerou protestos no Peru. Para Javier Diez Canseco, quarto vice-presidente do Congresso, os EUA têm "posições inconsistentes" em matéria de direitos humanos.
Diez, que denunciou os massacres de Pomatambo e Parcco, lembrou que na época não houve reação do governo dos EUA.
O deputado Jorge del Castillo, integrante da Apra, partido de Alan García, e que durante seu governo foi prefeito de Lima, reconheceu que houve excessos policiais, mas negou que houvesse uma ação deliberada de desrespeito aos direitos humanos naquele governo.
O Arquivo Nacional de Segurança colocou os documentos à disposição em sua página na Internet (www.gwu.edu/ nsarchiv/), com o título de "Peru no olho da tormenta".


Com agências internacionais

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