|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REVELAÇÃO
Documentos relatam conhecimento de abusos
Washington tolerou violações aos direitos humanos no Peru de 83 a 94
DA REDAÇÃO
O governo dos EUA tinha conhecimento dos assassinatos políticos e de outras violações aos direitos humanos no Peru durante
os últimos 20 anos, mas foi tolerante com eles por considerá-los
parte da luta antiterrorismo, segundo documentos tornados públicos ontem em Washington.
Os 41 documentos foram obtidos pela organização não-governamental Arquivo Nacional de
Segurança, ligada à Universidade
George Washington, com base na
lei de liberdade de informação.
Os papéis contam com detalhes
as operações antiterroristas no
Peru entre 1983 e 1994, durante as
presidências de Fernando Belaúnde (1980-1985), Alan García
(1985-1990) e Alberto Fujimori
(1990-2000).
Os documentos revelam que os
diplomatas americanos em Lima
recebiam permanentemente informações sobre as supostas atrocidades cometidas pelos esquadrões antiterroristas peruanos,
mas que calavam-se por desejar
que os guerrilheiros marxistas do
Sendero Luminoso e do Movimento Revolucionário Tupac
Amaru (MRTA) fossem derrotados. A repressão ao Sendero e ao
MRTA provocou a morte de cerca
de 25 mil civis desde 1980. Outros
4.000 estão desaparecidos.
De acordo com uma mensagem
da embaixada americana em Lima, datada de dezembro de 1990,
um oficial da polícia peruana informou a diplomatas americanos
no fim daquele ano sobre a existência de um esquadrão da morte
policial responsável pelo assassinato de 300 supostos terroristas
do Sendero Luminoso no Departamento (Estado) de Ayacucho
um ano antes.
Porém uma investigação sobre
o assunto revelou que as vítimas
não eram "insurgentes da linha
dura", como alegavam os policiais. "Muitos alvos eram aldeões
que não se mostravam entusiastas de sua participação nas rondas
camponesas patrocinadas pelos
militares", escreveu a Washington o embaixador Anthony
Quainton. As rondas camponesas
eram grupos paramilitares criados pelo Exército e pelo serviço de
inteligência nas zonas onde operavam as guerrilhas.
Um despacho anterior, de novembro de 1986, detalha o massacre de 12 civis nas aldeias de Pomatambo e Parcco, no Departamento de Ayacucho.
Num outro documento, o conselheiro político da embaixada
americana relata uma conversa
com um oficial peruano sobre a
participação de militares num
grupo paramilitar responsável
pelos massacres de Barrios Altos e
La Cantuta, em 1991 e 1992, nos
quais foram mortas 26 pessoas. O
oficial disse que não falaria abertamente sobre o assunto porque
os militares seriam observados
pelo Estado "na versão peruana
da Alemanha sob a Gestapo".
Críticas
A divulgação dos documentos
gerou protestos no Peru. Para Javier Diez Canseco, quarto vice-presidente do Congresso, os EUA
têm "posições inconsistentes" em
matéria de direitos humanos.
Diez, que denunciou os massacres de Pomatambo e Parcco,
lembrou que na época não houve
reação do governo dos EUA.
O deputado Jorge del Castillo,
integrante da Apra, partido de
Alan García, e que durante seu
governo foi prefeito de Lima, reconheceu que houve excessos policiais, mas negou que houvesse
uma ação deliberada de desrespeito aos direitos humanos naquele governo.
O Arquivo Nacional de Segurança colocou os documentos à
disposição em sua página na Internet (www.gwu.edu/
nsarchiv/), com o título de "Peru no olho da tormenta".
Com agências internacionais
Texto Anterior: Opositores querem provocar Chávez, diz analista Próximo Texto: Panorâmica - Terrorismo: Índia prende seis acusados por ataque Índice
|