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Frase de Rumsfeld gera
discussão transatlântica
DA REDAÇÃO
A França e a Alemanha reagiram duramente ontem às declarações, feitas no dia anterior, pelo
secretário da Defesa dos EUA,
Donald Rumsfeld, que chamou os
dois países de "velha Europa",
ampliando a crise causada pela
questão iraquiana na Otan (aliança militar ocidental, liderada pelos EUA) e na ONU.
Rumsfeld disse que não via a
Europa "do mesmo modo que
Alemanha e França". "Penso que
essa é a velha Europa. Ao olhar a
Europa toda, vemos que o seu
centro de gravidade foi para o leste, onde existem novos membros
[da Otan]".
A afirmação foi uma crítica à
posição franco-alemã, contrária a
uma ofensiva agora contra o regime do ditador iraquiano, Saddam
Hussein, preferindo que os inspetores tenham mais tempo para
realizar o trabalho de busca de armas de destruição em massa.
Em resposta a Rumsfeld, o porta-voz do governo francês, Jean
François Cope, disse que Rumsfeld "deve ouvir os prudentes
conselhos que "a velha Europa"
pode dar com a sua longa história". "É essencial que o debate sobre o Iraque, que é legítimo, se desenvolva seriamente e com serenidade", afirmou a porta-voz da
Presidência, Catherine Colonna.
O ministro das Finanças francês, Francis Mer, disse ter ficado
extremamente irritado. A ministra do Ambiente, Roselyne Bachelot, usou uma expressão chula, da
época de Napoleão, para explicar
o que sentiu após ouvir as declarações do secretário americano.
"Relaxe"
Já o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, disse que Rumsfeld "precisa
baixar o tom de suas declarações". "A resposta a ele é: relaxe.
Somos todos amigos e aliados."
Emma Udwin, porta-voz da
União Européia, afirmou que a
"cooperação franco-alemã esteve
sempre no coração da integração
européia".
Para analistas franceses, nunca
houve uma crise tão profunda como esta entre os EUA e parte de
seus aliados europeus, às vésperas
de uma decisão sobre o Iraque.
"Trata-se da crise existencial
mais grave da Otan", disse François Heisbourg, presidente da
Fundação de Investigação Estratégica. "O fosso entre a Europa e
os EUA corre o risco de aumentar
de modo significativo, e, se houver um veto francês [no Conselho
de Segurança da ONU], o assunto
se tornará ainda mais dramático",
afirmou Thierry de Montbrial, diretor do Instituto de Relações Internacionais de Paris.
Ambos, entretanto, reconhecem que a amplitude e a duração
dessa crise, que também deverá
ter graves consequências para a
União Européia, dependerão da
maneira como os EUA atuem em
relação à ONU no caso de uma
guerra contra o Iraque.
Fugir do problema
O secretário de Estado dos EUA,
Colin Powell, chegou a assinalar
que, "francamente, há certos países no mundo que gostariam de
desviar-se do problema e fingir
que ele não existe".
Uma intervenção americana
sem o aval do Conselho de Segurança conduzirá a uma grave crise
nas relações transatlânticas, mas
menos grave do que no caso de
um veto francês, disse De Montbrial. Nesse caso, a França pagaria
fortemente pelas consequências, e
a crise seria "extremamente importante", afirmou.
Tudo também dependeria da
maneira como os EUA administrariam o período pós-Saddam, já
que, segundo os analistas, apareceriam como os libertadores dos
iraquianos por terem derrubado
um ditador sanguinário, e todos
os opositores à guerra seriam
considerados irresponsáveis.
Assim, Washington teria privilégios em relação ao petróleo iraquiano após a guerra.
Para Heisburg, o Reino Unido, a
Itália, a Espanha e, ao que parece,
a Holanda se unirão aos EUA, indo contra a Alemanha e a França.
Com agências internacionais
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