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São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

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Frase de Rumsfeld gera discussão transatlântica

DA REDAÇÃO

A França e a Alemanha reagiram duramente ontem às declarações, feitas no dia anterior, pelo secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, que chamou os dois países de "velha Europa", ampliando a crise causada pela questão iraquiana na Otan (aliança militar ocidental, liderada pelos EUA) e na ONU.
Rumsfeld disse que não via a Europa "do mesmo modo que Alemanha e França". "Penso que essa é a velha Europa. Ao olhar a Europa toda, vemos que o seu centro de gravidade foi para o leste, onde existem novos membros [da Otan]".
A afirmação foi uma crítica à posição franco-alemã, contrária a uma ofensiva agora contra o regime do ditador iraquiano, Saddam Hussein, preferindo que os inspetores tenham mais tempo para realizar o trabalho de busca de armas de destruição em massa.
Em resposta a Rumsfeld, o porta-voz do governo francês, Jean François Cope, disse que Rumsfeld "deve ouvir os prudentes conselhos que "a velha Europa" pode dar com a sua longa história". "É essencial que o debate sobre o Iraque, que é legítimo, se desenvolva seriamente e com serenidade", afirmou a porta-voz da Presidência, Catherine Colonna.
O ministro das Finanças francês, Francis Mer, disse ter ficado extremamente irritado. A ministra do Ambiente, Roselyne Bachelot, usou uma expressão chula, da época de Napoleão, para explicar o que sentiu após ouvir as declarações do secretário americano.

"Relaxe"
Já o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, disse que Rumsfeld "precisa baixar o tom de suas declarações". "A resposta a ele é: relaxe. Somos todos amigos e aliados."
Emma Udwin, porta-voz da União Européia, afirmou que a "cooperação franco-alemã esteve sempre no coração da integração européia".
Para analistas franceses, nunca houve uma crise tão profunda como esta entre os EUA e parte de seus aliados europeus, às vésperas de uma decisão sobre o Iraque.
"Trata-se da crise existencial mais grave da Otan", disse François Heisbourg, presidente da Fundação de Investigação Estratégica. "O fosso entre a Europa e os EUA corre o risco de aumentar de modo significativo, e, se houver um veto francês [no Conselho de Segurança da ONU], o assunto se tornará ainda mais dramático", afirmou Thierry de Montbrial, diretor do Instituto de Relações Internacionais de Paris.
Ambos, entretanto, reconhecem que a amplitude e a duração dessa crise, que também deverá ter graves consequências para a União Européia, dependerão da maneira como os EUA atuem em relação à ONU no caso de uma guerra contra o Iraque.

Fugir do problema
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, chegou a assinalar que, "francamente, há certos países no mundo que gostariam de desviar-se do problema e fingir que ele não existe".
Uma intervenção americana sem o aval do Conselho de Segurança conduzirá a uma grave crise nas relações transatlânticas, mas menos grave do que no caso de um veto francês, disse De Montbrial. Nesse caso, a França pagaria fortemente pelas consequências, e a crise seria "extremamente importante", afirmou.
Tudo também dependeria da maneira como os EUA administrariam o período pós-Saddam, já que, segundo os analistas, apareceriam como os libertadores dos iraquianos por terem derrubado um ditador sanguinário, e todos os opositores à guerra seriam considerados irresponsáveis.
Assim, Washington teria privilégios em relação ao petróleo iraquiano após a guerra.
Para Heisburg, o Reino Unido, a Itália, a Espanha e, ao que parece, a Holanda se unirão aos EUA, indo contra a Alemanha e a França.


Com agências internacionais


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