São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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IRAQUE OCUPADO

David Kay, que chefiou busca por armas iraquianas, deixa cargo e diz não crer que elas existam em grande escala

Ex-inspetor dos EUA não vê arsenal proibido

DA REDAÇÃO

David Kay, o americano que passou sete meses no Iraque no comando de uma equipe de 1.200 especialistas em busca das supostas armas de destruição em massa do ex-ditador Saddam Hussein, deixou o cargo ontem e disse não acreditar na existência de um arsenal proibido no país.
"Não creio que elas [as armas de destruição em massa] tenham existido. O que todos falam é em armas produzidas depois do fim da Guerra do Golfo [1991], e eu não acho que tenha havido um programa de produção em grande escala nos anos 90", disse Kay à agência de notícias Reuters.
Kay afirmou crer também que a maior parte do que pode ser encontrado sobre o arsenal já o foi -trata-se de documentos que indicam planos de tentar produzir as armas, aparentemente não concretizados.
É a primeira vez que Kay ou uma autoridade americana afirma taxativamente não acreditar no arsenal iraquiano, citado pelos EUA e pelo Reino Unido como a maior justificativa para a guerra.
Em outras ocasiões, o especialista já dissera não ter encontrado indícios da produção proibida, mas não descartara sua existência. O parecer era semelhante ao dos inspetores de armas da ONU, que deixaram o Iraque às vésperas da guerra, iniciada em março.
Kay, um ex-conselheiro da CIA que conduziu o Grupo de Pesquisa do Iraque na investigação sobre as armas, deixou o cargo ontem por sua própria vontade. Ele será substituído por Charles Duelfer, subchefe de inspeção de armas da ONU entre 1993 e 2000.
O jornal americano "The New York Times" descreve Duelfer como um "cético", e sua escolha como um revés para aqueles que ainda contam com o arsenal como justificativa para a invasão do Iraque. "A perspectiva de encontrar armas químicas ou biológicas no Iraque é próxima de zero neste momento", disse o inspetor durante uma entrevista no último dia 9 à rede de TV PBS.
Nos meses que precederam a guerra, os governos de George W. de Bush e de seu aliado britânico, Tony Blair, davam a existência do arsenal como certa e ameaçadora. Se provado que ele nunca saiu do papel, a credibilidade do presidente pode virar o tema central da corrida presidencial americana, na qual ele busca a reeleição.
Chegaram ontem ao Iraque dois funcionários da ONU que avaliarão a situação de segurança no país, à qual está condicionada a decisão do secretário-geral, Kofi Annan, de enviar de uma missão técnica para estudar a viabilidade de eleições diretas neste ano.
A entidade retirou seus funcionários do Iraque no fim de 2003 após ter sua sede no país atingida por dois atentados, que mataram ao todo 24 pessoas.
O aiatolá Ali al Sistani, que lidera a demanda xiita por eleições diretas no país, pediu a seus seguidores que suspendam os protestos até que a ONU dê seu parecer sobre a viabilidade do pleito.
Tanto Al Sistani quanto os EUA pediram a intervenção da ONU no impasse. Os EUA afirmam não haver tempo hábil para realizar um censo nacional e promulgar uma nova Constituição neste ano, duas condições fundamentais para garantir resultados confiáveis na votação direta. Al Sistani, por sua vez, diz que um pleito indireto não resultaria na escolha de um governo que representasse legitimamente a população iraquiana.
Uma outra proposta está em consideração, de acordo com uma reportagem do "Times". Adnan Pachachi, atual ocupante da presidência rotativa do Conselho de Governo Iraquiano, sugeriu que o grupo seja expandido e se transforme em uma assembléia parlamentar interina, com a responsabilidade de organizar eleições diretas até o fim do ano. O conselho, hoje com 25 membros, passaria a ter 125.
Um helicóptero dos EUA caiu no norte do Iraque, matando dois militares, segundo as Forças Armadas. A causa da queda não foi divulgada. Com isso, subiu para 507 o número de militares americanos mortos no Iraque desde o início da guerra, em 20 de março.

Halliburton
A Halliburton, empresa ligada ao vice-presidente Dick Cheney que está sendo auditada por superfaturar combustível no Iraque, anunciou que alguns de seus funcionários podem ter aceito propina. Os pagamentos viriam de uma empresa do Kuait que lhe fornecia o combustível, revendido por um preço acima do mercado.


Com agências internacionais

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