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Bolacha de barro é saída contra a fome
EM PORTO PRÍNCIPE
O terremoto do dia 12
derrubou grande parte das
casas e barracos de Cité
Soleil, parte mais pobre de
Porto Príncipe, mas fez
poucas vítimas, pois a
maioria das habitações é
feita de paredes finas de
zinco e madeira. O desabastecimento de comida e
de água assusta os moradores ainda mais que os
tremores de terra.
Carole Gedeon, 40, não
faz uma refeição desde o
dia do terremoto, embora
seu barraco -que não caiu
com o tremor - esteja repleto de sacolas e bacias
cheias de bolachas da mesma cor da terra clara que
cobre a maior parte das
ruas do bairro. Seus sete filhos brincam ao redor dela
modelando uma massa
pastosa da mesma cor.
O problema é que as bolachas de Carole realmente são feitas de barro e são
compradas e comidas pelos haitianos mais pobres.
Na verdade, diz ela, são
mistura de argila, manteiga e água (não muito limpa). A argila é colocada em
grandes bacias e amassada
pelas crianças e pela mãe.
A massa é então peneirada por Carole e modelada em forma de bolachas,
colocadas em seguida para
secar à luz do sol. "Eu as
vendo em um mercado em
Croix de Bouquet, cada
uma custa cinco gourdes
(cerca de R$ 0,23). Desde o
terremoto só comi essas
bolachas que eu faço."
As bolachas de barro
não são fruto do terremoto. Já eram produzidas e
consumidas por haitianos
que não possuem recursos
para comprar comida. O
sabor é de terra, ligeiramente açucarada. A produtora não sabe ao certo
de onde elas surgiram.
"Eu faço isso desde pequena. Aprendi a fazer
vendo outras pessoas fazerem. O problema aqui em
Cité Soleil não é mais a
violência, é a fome."
(LK)
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