São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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Bolacha de barro é saída contra a fome

EM PORTO PRÍNCIPE

O terremoto do dia 12 derrubou grande parte das casas e barracos de Cité Soleil, parte mais pobre de Porto Príncipe, mas fez poucas vítimas, pois a maioria das habitações é feita de paredes finas de zinco e madeira. O desabastecimento de comida e de água assusta os moradores ainda mais que os tremores de terra.
Carole Gedeon, 40, não faz uma refeição desde o dia do terremoto, embora seu barraco -que não caiu com o tremor - esteja repleto de sacolas e bacias cheias de bolachas da mesma cor da terra clara que cobre a maior parte das ruas do bairro. Seus sete filhos brincam ao redor dela modelando uma massa pastosa da mesma cor.
O problema é que as bolachas de Carole realmente são feitas de barro e são compradas e comidas pelos haitianos mais pobres.
Na verdade, diz ela, são mistura de argila, manteiga e água (não muito limpa). A argila é colocada em grandes bacias e amassada pelas crianças e pela mãe.
A massa é então peneirada por Carole e modelada em forma de bolachas, colocadas em seguida para secar à luz do sol. "Eu as vendo em um mercado em Croix de Bouquet, cada uma custa cinco gourdes (cerca de R$ 0,23). Desde o terremoto só comi essas bolachas que eu faço."
As bolachas de barro não são fruto do terremoto. Já eram produzidas e consumidas por haitianos que não possuem recursos para comprar comida. O sabor é de terra, ligeiramente açucarada. A produtora não sabe ao certo de onde elas surgiram.
"Eu faço isso desde pequena. Aprendi a fazer vendo outras pessoas fazerem. O problema aqui em Cité Soleil não é mais a violência, é a fome." (LK)

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