São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 1999

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SUCESSÃO REAL
Após seis meses lutando contra o câncer, rei Hussein volta e afasta irmão da linha sucessória
Jordânia espera por herdeiro do trono

CHRISTOPHE BOLTANSKI
do "Libération", em Amã

e da Redação

A Jordânia está à espera de saber quem será o novo sucessor do rei Hussein. Após sua morte, a coroa deveria passar para seu irmão Hassan. Mas, assim que retornou à Jordânia, após seis meses de tratamento de câncer nos EUA, o rei deu mostras inegáveis de frieza para com o irmão.
Nos últimos dias, Hussein não chamou Hassan uma única vez de "príncipe herdeiro". Na terça, teceu termos pouco elogiosos à ação de Hassan no governo: "Ele fez o melhor que pôde. Um príncipe herdeiro deve trabalhar nos bastidores. Quando ele se coloca demasiadamente em evidência, se expõe a críticas". Na última sexta, foi anunciado que Hassan não mais herdaria o trono.
Por que Hussein trocaria de sucessor? É verdade que Hassan não possui nem seu carisma nem sua popularidade. Os jordanianos continuam sem compreender o príncipe, um intelectual formado em Oxford.
Até o ano passado, o rei parecia confiar plenamente no irmão. Ele não havia renunciado à idéia de coroar um de seus descendentes, mas isso só deveria ocorrer após o reinado de Hassan.
Pretendentes ao cargo não faltam. De seus quatro casamentos, Hussein tem 11 filhos (cinco homens). Sua preferência parece recair sobre Hamzeh, 1 dos 2 filhos da rainha Noor, muito parecido fisicamente com o pai.
Hussein teria se surpreendido com algo que julgava impossível. Enquanto lutava contra a morte, seu irmão teria agido com imprudência. "Hassan colocou pessoas próximas a ele em cargos-chaves do governo e da mídia", explica uma fonte jordaniana.
Sua mulher, a princesa paquistanesa Sarvath, teria se apropriado de um antigo palácio real. Em um mês de visita aos EUA, ela não foi uma única vez à clínica onde o rei estava. É fato sabido que ele não aprecia a cunhada.
Pela Constituição, se Hassan for deserdado, o trono deverá ser ocupado pelo filho mais velho de Hussein, Abdallah, que é chefe das forças especiais e bastante popular. Coincidência ou não, na última terça a multidão aclamou Hussein, chamando-o de "Abu Abdallah" -pai de Abdallah.


Tradução de Clara Allain



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