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IRAQUE SOB TUTELA
Ataques e contra-ataques detonados por atentado contra mesquita xiita deixam mais de 130 mortos
Violência sectária explode no Iraque
LIN NOUEIHED
ALASTAIR MACDONALD
DA REUTERS, EM BAGDÁ
A violência sectária que eclodiu
anteontem com o ataque à Mesquita Dourada, em Samarra, deixou Iraque mais de 130 mortos.
Segundo o maior grupo religioso
sunita, 184 mesquitas dessa facção
islâmica foram danificadas ou
destruídas, e a Associação de Clérigos Muçulmanos disse que dez
clérigos foram mortos, e 15, seqüestrados.
Os EUA exortaram xiitas e sunitas a se afastarem da beira do abismo da guerra civil, e o governo
iraquiano estendeu para o dia um
toque de recolher que já vigorava
à noite em Bagdá e nas Províncias
sunitas de Diyala, Babil e Saladin.
Embora suspeitas pairem sobre
a Al Qaeda, nenhum grupo assumiu a autoria do ataque que destruiu um dos templos mais sagrados para os xiitas e detonou a pior
crise desde a invasão dos EUA, há
três anos, pondo em risco os esforços para formar um governo
estável de coalizão e permitir a
volta dos soldados americanos.
"As vozes da razão vindas de todos os setores da iraquianos entendem que esse ataque teve a intenção de criar conflito civil", disse o presidente dos EUA, George
W. Bush, cujas Forças Armadas
perderam mais sete homens em
ataques no país. Bush elogiou o
esforço público dos líderes iraquianos para manter a calma.
Já o representante da ONU, Ahraf Qazi, convidou líderes políticos, religiosos e civis para discutir
medidas para conter a situação.
Mas o principal grupo político
árabe-sunita anunciou sua retirada das conversações para formar
um governo de coalizão a partir
da eleição parlamentar de dezembro, e clérigos proeminentes trocaram acusações exaltadas.
O presidente Jalal Talabani, de
etnia curda, seguiu com uma reunião que convocara para evitar
uma guerra civil. Após conversas
com árabes xiitas, curdos e líderes
de um grupo árabe-sunita menor,
ele declarou que, num conflito interno, "ninguém estará seguro".
Ataque em massa
No pior ataque, 47 pessoas
-xiitas e sunitas- que participaram de uma manifestação perto de Bagdá pela união das diferentes facções foram arrancadas
dos veículos em que estavam e
mortas por homens armados.
Os próximos dias -a contar de
hoje, dia oficial de oração no islamismo, quando as mesquitas lotam- serão cruciais para determinar se o discurso de clérigos e
líderes políticos conseguirá impedir as milícias xiitas de lançarem
uma investida de grandes proporções contra a minoria sunita.
Embora a explosão da mesquita
em Samarra não tenha deixado
mortos, ela detonou uma reação
de furor maior do que o suscitado
pelos ataques da insurgência sunita que em três anos mataram
milhares. Cerca de 130 mil militares americanos estão de prontidão, com todas as folgas revogadas, e a polícia e o Exército iraquianos entraram em estado de
alerta máximo.
A secretária de Estado dos EUA,
Condoleezza Rice, que está no
Oriente Médio, exortou os iraquianos a não se deixarem levar
por um ataque que, mesmo sem
derramar sangue, tem enorme
peso simbólico e pode culminar
numa guerra civil. Ela também levantou suspeitas sobre o líder da
Al Qaeda no Iraque, Abu Musab
al Zarqawi: "Os únicos que querem uma guerra civil no país são
os terroristas como Zarqawi".
Em outros incidentes violentos
no país, uma bomba que visava
uma patrulha iraquiana explodiu
em um mercado em Baquba (norte), matando 11 civis e cinco soldados. Em Samarra (centro), três
jornalistas da televisão Al Arabiya
foram encontrados mortos a tiros
enquanto filmavam.
Tradução de Clara Allain
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