São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

Ataques e contra-ataques detonados por atentado contra mesquita xiita deixam mais de 130 mortos

Violência sectária explode no Iraque

LIN NOUEIHED
ALASTAIR MACDONALD
DA REUTERS, EM BAGDÁ

A violência sectária que eclodiu anteontem com o ataque à Mesquita Dourada, em Samarra, deixou Iraque mais de 130 mortos. Segundo o maior grupo religioso sunita, 184 mesquitas dessa facção islâmica foram danificadas ou destruídas, e a Associação de Clérigos Muçulmanos disse que dez clérigos foram mortos, e 15, seqüestrados.
Os EUA exortaram xiitas e sunitas a se afastarem da beira do abismo da guerra civil, e o governo iraquiano estendeu para o dia um toque de recolher que já vigorava à noite em Bagdá e nas Províncias sunitas de Diyala, Babil e Saladin.
Embora suspeitas pairem sobre a Al Qaeda, nenhum grupo assumiu a autoria do ataque que destruiu um dos templos mais sagrados para os xiitas e detonou a pior crise desde a invasão dos EUA, há três anos, pondo em risco os esforços para formar um governo estável de coalizão e permitir a volta dos soldados americanos.
"As vozes da razão vindas de todos os setores da iraquianos entendem que esse ataque teve a intenção de criar conflito civil", disse o presidente dos EUA, George W. Bush, cujas Forças Armadas perderam mais sete homens em ataques no país. Bush elogiou o esforço público dos líderes iraquianos para manter a calma.
Já o representante da ONU, Ahraf Qazi, convidou líderes políticos, religiosos e civis para discutir medidas para conter a situação.
Mas o principal grupo político árabe-sunita anunciou sua retirada das conversações para formar um governo de coalizão a partir da eleição parlamentar de dezembro, e clérigos proeminentes trocaram acusações exaltadas.
O presidente Jalal Talabani, de etnia curda, seguiu com uma reunião que convocara para evitar uma guerra civil. Após conversas com árabes xiitas, curdos e líderes de um grupo árabe-sunita menor, ele declarou que, num conflito interno, "ninguém estará seguro".

Ataque em massa
No pior ataque, 47 pessoas -xiitas e sunitas- que participaram de uma manifestação perto de Bagdá pela união das diferentes facções foram arrancadas dos veículos em que estavam e mortas por homens armados.
Os próximos dias -a contar de hoje, dia oficial de oração no islamismo, quando as mesquitas lotam- serão cruciais para determinar se o discurso de clérigos e líderes políticos conseguirá impedir as milícias xiitas de lançarem uma investida de grandes proporções contra a minoria sunita.
Embora a explosão da mesquita em Samarra não tenha deixado mortos, ela detonou uma reação de furor maior do que o suscitado pelos ataques da insurgência sunita que em três anos mataram milhares. Cerca de 130 mil militares americanos estão de prontidão, com todas as folgas revogadas, e a polícia e o Exército iraquianos entraram em estado de alerta máximo.
A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, que está no Oriente Médio, exortou os iraquianos a não se deixarem levar por um ataque que, mesmo sem derramar sangue, tem enorme peso simbólico e pode culminar numa guerra civil. Ela também levantou suspeitas sobre o líder da Al Qaeda no Iraque, Abu Musab al Zarqawi: "Os únicos que querem uma guerra civil no país são os terroristas como Zarqawi".
Em outros incidentes violentos no país, uma bomba que visava uma patrulha iraquiana explodiu em um mercado em Baquba (norte), matando 11 civis e cinco soldados. Em Samarra (centro), três jornalistas da televisão Al Arabiya foram encontrados mortos a tiros enquanto filmavam.


Tradução de Clara Allain

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