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Ex-preso de Guantánamo retorna ao Reino Unido
Binyam Mohamed diz ter sido torturado em quase 7 anos sob custódia americana
Etíope é também pivô de debate sobre sigilo evocado em investigações da "guerra ao terror", princípio de Bush mantido sob Barack Obama
France Presse-arquivo
![](../images/e2402200902.jpg) |
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O etíope Binyam Mohamed, que foi libertado de Guantánamo
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES
Um prisioneiro de Guantánamo que esteve no centro de
um longo impasse entre Washington e Londres foi libertado
e levado de volta ao Reino Unido ontem, depois de passar
quase sete anos sob custódia
americana. Seu caso também é
alvo de questionamentos sobre
o sigilo em processos envolvendo a chamada "guerra contra o
terrorismo".
Binyam Mohamed foi preso
no Paquistão em abril de 2002,
acusado pelas autoridades
americanas de fazer parte de
uma conspiração contra os
EUA. Mas todas as acusações
contra ele foram arquivadas.
O Reino Unido, onde o etíope
se radicou há 15 anos, vinha
buscando sua libertação desde
agosto de 2007. O chanceler
britânico, David Miliband, disse ontem que ficou satisfeito
com a soltura, que sucedeu "negociações intensas".
O ex-detento não deu declarações ao chegar. Mas, em nota
divulgada pela ONG Reprieve,
que trabalhou para sua libertação, ele disse: "Passei por uma
experiência que nunca, nem
em meus pesadelos mais tenebrosos, eu havia previsto". "Antes dessa provação, tortura era
uma palavra abstrata."
Em entrevista há 13 dias,
seus advogados disseram que
Mohamed estava em greve de
fome desde 5 de janeiro e vinha
sendo alimentado por sonda.
Citaram-no ainda afirmando
que, durante 18 meses em
Guantánamo, "nunca viu o sol".
Longe dos EUA
Para ser solto, Mohamed
concordou em obedecer a restrições voluntárias, incluindo
uma proibição vitalícia de viajar aos EUA.
Nascido na Etiópia em uma
família que fugiu para o Reino
Unido por razões políticas nos
anos 90, ele foi ao Afeganistão
em 2000 para se desligar de um
vício em drogas, segundo seu
advogado. No país, passou por
campos de treinamento militar
-ele alega que sua meta era
apoiar insurgentes muçulmanos na Tchetchênia. Suspeito
de tramar um ataque contra os
EUA, foi capturado em Karachi, Paquistão, em 2002.
Após meses de interrogatórios no Paquistão, registros de
voo mostram que Mohamed foi
levado em segredo para o Marrocos num avião fretado pela
CIA, dentro do controverso
programa de "transferência extraordinária", no qual os EUA
deslocaram detentos a prisões
secretas no exterior sem trâmites nem proteções legais.
Mohamed diz ter passado 18
meses sendo torturado no país,
até ser levado para o Afeganistão e depois para a base americana de Guantánamo (Cuba). A
CIA nega as acusações.
Sigilo
Os advogados de Mohamed
têm tentado obter as fotos e os
documentos que, afirmam,
confirmam as alegações dele.
Com quatro outros detentos,
o etíope acionou na Justiça dos
EUA uma subsidiária da Boeing
por organizar os voos de "transferência extraordinária".
Mas o governo Barack Obama, como o de seu antecessor
George W. Bush, evocou segredo de Estado para impedir que
as audiências sobre o caso prosseguissem, atraindo críticas de
grupos pró-direitos humanos.
O processo está agora parado.
Antes, um tribunal britânico
citara documentos secretos
que corroboram Mohamed,
mas os governos americano e
britânico fazem objeções a sua
divulgação alegando o mesmo
princípio. Para o governo dos
EUA, debater a transferência
extraordinária em juízo traz
risco à segurança americana e a
suas relações externas.
Tradução de CLARA ALLAIN
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