São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

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Jornalismo deu valor a WikiLeaks, afirmam editores

De acordo com parceiros de Assange, tradição e peso de publicações mudaram os rumos do megavazamento

"Agregamos nossa experiência e isso deu credibilidade ao material", afirma editora do "Le Monde"

DO RIO

A divulgação dos telegramas diplomáticos dos EUA obtidos pela organização WikiLeaks representou a reafirmação do jornalismo, disseram ontem os editores de cinco publicações com acesso aos documentos.
Segundo eles, o despejo bruto na internet dos despachos não teria a mesma repercussão obtida pelo trabalho de seleção e contextualização feito pelos jornais.
"O êxito deveu-se à edição. Agregamos nossa experiência e isso deu credibilidade ao material", disse Sylvie Kauffmann, editora do "Le Monde", em debate promovido por "El País" no museu Rainha Sofia, em Madri, e transmitido pela internet.
Também participaram Javier Moreno, diretor do diário espanhol, Bill Keller, do "New York Times", Alan Rusbridger, do "Guardian", e Georg Mascolo, da revista alemã "Spiegel".
A Folha teve acesso antecipado aos telegramas enviados das missões americanas no Brasil e começou a publicá-los em novembro.
Os vazamentos são matéria-prima tradicional do jornalismo. Mas os editores destacaram a quantidade de material e a importância da iniciativa de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, para driblar legislações nacionais que barram acesso a documentos e restringem a liberdade de expressão.
"Chegamos ao máximo denominador comum da liberdade de imprensa", disse Rusbridger.
Para Kauffmann, a iniciativa foi etapa importante na luta pela transparência. "É preciso dar crédito a Assange por ter tido essa visão e confiado em nós."
Houve ceticismo, no entanto, sobre mudança na ação diplomática americana.
"O secretário da Defesa [Robert] Gates disse que os países não fazem negócios com os EUA porque gostam, mas porque precisam", disse Keller. Ele afirmou que o "Times" pensa em abrir um site protegido para o depósito de segredos e previu que Washington não terá argumentos legais para acusar Assange. "Viram que era difícil processá-lo e não nos processar."
Mascolo lembrou que o caso do vazamento não acabou -foram publicados 4.889 dos 250 mil telegramas- e que as revoltas no Oriente Médio chamam a atenção para despachos da região.
Rusbridger revelou pressões dos EUA para evitar a publicação do material sobre bombardeios americanos a supostas bases terroristas no Iêmen, cuja autoria foi assumida pelo ditador local.
Os editores discutiram a função das mídias sociais nas revoltas árabes. "O Facebook é um samizdat com esteroides. Mas a tecnologia não pode tomar o lugar dos heróis de verdade", disse Keller, referindo-se às publicações mimeografadas dos dissidentes soviéticos.0 (CLAUDIA ANTUNES)


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