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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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"CHOQUE E PAVOR"

Conflitos em Nassiriah matam 10 americanos; pior está por vir, diz Pentágono

Cresce resistência aos EUA no Iraque

Patrick Baz/France Presse
Às margens do rio Tigre, iraquiano agradece a Alá enquanto busca soldados da coalizão que estariam em avião que teria sido abatido

DA REDAÇÃO

A resistência dos combatentes de Saddam Hussein à tomada do território iraquiano aumentou ontem, no quarto dia de guerra, com o registro das primeiras baixas significativas em combate do lado da coalizão norte-americana. E o próprio comando militar dos EUA admite que o pior "ainda está por vir", ante a expectativa de quanto mais próximos estiverem a Bagdá, capital iraquiana, maiores serão as dificuldades.
Os focos de resistência liderados por tropas e grupos paramilitares leais a Saddam atrasaram o avanço de britânicos e norte-americanos em diferentes regiões.
Em Nassiriah, cidade que o Pentágono anteontem anunciava como sob controle dos aliados, os marines americanos sofreram ontem o contra-ataque de um grupo paramilitar conhecido como Fedayeen -enquanto cruzavam pontes sobre o rio Eufrates. As táticas de "guerrilha", como classificou um oficial americano, da milícia impediram um maior avanço rumo ao Norte (a Bagdá).
Combates foram travados nos arredores de Nassiriah durante todo o dia, conforme relatos de um enviado da agência Reuters.
A rede de TV Al Jazeera, baseada no Qatar, exibiu imagens, da TV iraquiana, de cinco soldados norte-americanos -quatro homens e uma mulher- que haviam sido capturados em Nassiriah como prisioneiros e os corpos de outros quatro supostos soldados dos EUA mortos. Eles teriam sido atacados pelos iraquianos em uma emboscada.
Autoridades americanas informaram que marines encontraram outros quatro membros dessa mesma unidade feridos.
A exibição das imagens provocou revolta na Casa Branca. O presidente Bush afirmou que "aqueles que maltratarem os prisioneiros serão tratados como criminosos". O secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, disse que o vídeo violava a Convenção de Genebra (que trata das condutas em guerra). "Diante da convenção, é ilegal humilhar prisioneiros", disse Rumsfeld. De sua parte, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, Richard Myers, disse que se tratava de mais "um crime do regime de Saddam".
O mesmo Myers admitiria em entrevista à rede ABC que as forças iraquianas "claramente ainda não haviam sido batidas". "Esperamos reações. Os próximos dias serão mais duros." Um oficial britânico, que não quis se identificar, disse à Reuters, que a batalha final pela capital "começaria em 36 horas". "Bagdá é o único ponto que a eles interessa proteger."
Como esperado, o confronto também se estendeu às versões divulgadas por ambas as partes.
O governo iraquiano informou em comunicado que 25 soldados dos EUA haviam morrido nos enfrentamentos em Nassiriah durante o final de semana. Por sua vez, o general norte-americano Vicent Brooks sustentou que não mais do que dez soldados haviam sido mortos em emboscadas nos arredores da cidade e que outros 12 estavam "desaparecidos". Mas que os norte-americanos tinham Nassiriah sobre controle.
O ministro da Defesa Iraquiano, Hashem Ahmed sustentou que os iraquianos haviam repelido o ataque inimigo à região.

Outros focos
O avanço dos aliados pela parte ocidental do país também foi atrasado pelos combates com soldados da Guarda Republicana, a elite da forças de Saddam, em Najaf -160 km ao sul de Bagdá. Fontes militares dos EUA afirmaram que foram mortos pelo menos 70 combatentes iraquianos.
Os tanques dos EUA combateram por mais de sete horas contra rivais armados de metralhadoras montadas em picapes. "Não se pode considerar que fosse um combate igual", disse o coronel americano Mark Hildenbrand.
Na região portuária de Umm Qsar aviões e tanques norte-americanos expulsaram pelo menos 120 membros da Guarda Republicana. Mas depois do anoitecer, as forças da coalizão ainda usavam artilharia para tentar expulsar outro grupo de combatentes.
Depois de terem cercado Basra (no sul do país), os aliados admitiram ontem que pelo menos a parte sul da cidade permanece "insegura" para suas tropas devido à resistência de centenas de membros de milícia vinculada ao único partido oficial do país, o Baath.
Pela manhã, autoridades iraquianas disseram que 77 civis foram mortos em Basra. Outros 503 resultaram feridos pelo quatro dias de ataques no país. Destes, 366 em Basra e 106 em Bagdá.

Caçada em Bagdá
Bagdá sofreu ontem novos bombardeios, que causaram explosões em diferentes pontos na parte oeste da cidade. Após breve cessar-fogo, os ataques foram retomados na madrugada de hoje (noite de ontem, em Brasília).
Uma extensa mancha de fumaça cobre diferentes pontos da cidade. Por ordem do governo, foi ateado fogo a óleo lançado sobre trincheiras numa tentativa de criar uma espécie de "cortina" para atrapalhar os ataques aéreos. Casas foram afetadas pelos bombardeios, segundo a Reuters.
Durante o dia, centenas de policiais percorreram as margens do rio Tigre à procura dos ocupantes de um jato da coalizão, que teria sido abatido em bombardeios.
O comando central da campanha dos EUA, no Qatar, e o Pentágono negaram que aviões da coalizão tivessem sido atingidos. Mas a TV libanesa Al-Manar, de propriedade do grupo islâmico Hezbollah, informou que um piloto britânico fora capturado. Soldados iraquianos mantinham buscam pelo co-piloto.
As autoridades americanas disseram também que forças iraquianas portavam armas químicas perto de Kut (170 km ao sudeste de Bagdá). "Estaremos tomando as precauções necessárias para lidar com isso", disse o general John Abizaid, subcomandante da ofensiva militar no golfo, sem dar mais detalhes do caso.
Enquanto isso, os EUA aumentaram sua presença na região iraquiana controlada pela minoria curda. Mais de uma dezena de soldados foram vistos se deslocando em estrada na região de Sulaimaniya, o que indicaria preparativos para uma ofensiva pelo norte do Iraque.

Com agências internacionais


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