São Paulo, sábado, 24 de março de 2007

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Câmara aprova data para saída do Iraque

Em vitória da oposição democrata, deputados dos EUA votaram lei que leva soldados para casa até setembro de 2008

Projeto, que incluía até verba para a agricultura, passou com os votos mínimos necessários; Bush confirmou que vetará

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

A Câmara dos Representantes (deputados federais) dos EUA aprovou ontem em plenário a primeira proposta que estabelece um cronograma para a retirada das tropas americanas do Iraque. Apesar de divididos sobre a questão, os democratas conseguiram, dessa forma, impingir uma derrota simbólica ao presidente George W. Bush. Este já avisou que vetará a lei caso passe pelo Senado -a votação está prevista para a próxima semana.
"Hoje, este Congresso deu um novo passo para acabar com a guerra no Iraque", afirmou a democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara. Pela manhã, ela comandou várias reuniões a fim de convencer seus colegas de partido a apoiar a medida.
Na quinta-feira à noite, quatro parlamentares republicanos comunicaram a Pelosi que ajudariam na aprovação do projeto, embora tivessem a intenção de votar contra. "Não vou trair minha consciência, mas não posso ficar no caminho de uma medida que estabelece uma data para o fim dessa guerra desnecessária", justificou a deputada Barbara Lee.
Mesmo assim, foi apertado. Dos 435 deputados, 218 votaram a favor -sendo 216 democratas e dois republicanos- e 212, contra -198 republicanos e 14 democratas. Houve quatro abstenções e uma das cadeiras da Câmara ficou vaga após a morte de um parlamentar.
Um debate acalorado antecedeu a votação. "O povo americano espera que façamos alguma coisa", afirmou o democrata Steny Hoyer.
A proposta orçamentária estabelece a liberação de cerca de US$ 100 bilhões para gastos militares, porém com a condição de que a maior parte dos soldados americanos volte para casa até 31 de agosto de 2008. Também determina que Wa- shington e Bagdá informem periodicamente os progressos que têm sido feitos no Iraque, do contrário a retirada poderia ser feita ainda antes.
"É assim que eles querem dar fundos para as tropas? Essa é a hipocrisia de Washington trabalhando", protestou o republicano Patrick McHenry.

Fundos agrícolas
Entre os democratas que votaram contra, alguns são da ala conservadora do partido e outros julgaram que a medida deveria ser mais rígida.
Como o projeto, emergencial, também incluía a liberação de recursos para a agricultura doméstica, os republicanos acusaram os democratas de manobrarem para facilitar a sua aprovação. Além disso, acusaram-nos de querer tomar o lugar dos estrategistas militares ao definirem um calendário para a retirada.
Bush qualificou a votação de "teatro político". "Como deixei claro por semanas, vou vetar se chegar à minha mesa", disse.
Na opinião de analistas, em algum momento o partido vai ter de chegar a um acordo com o presidente para o financiamento do Exército americano. E não se sabe se a liderança democrata repetirá o êxito.


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