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São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Arafat aceita acordo na última hora; Israel e EUA apóiam mais poderes para o moderado Mazen

Arafat cede e fecha acordo com premiê para formar gabinete

DA REDAÇÃO

O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, e o premiê palestino, Mahmoud Abbas -conhecido como Abu Mazen-, chegaram a um acordo para pôr fim às divergências entre para reformar o gabinete, o que estava atrasando a implementação de um novo plano de paz para o Oriente Médio.
O premiê de Israel, Ariel Sharon, após receber a notícia do acordo entre os palestinos, disse que o seu governo "irá fazer tudo o que for possível para chegar a um acordo diplomático com os palestinos que possa levar à paz".
Os EUA também festejaram. O porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse que Washington "pretende trabalhar com Abu Mazen e Israel para colocar um fim à violência e reiniciar o processo de paz que deve culminar com a visão [do presidente George W. Bush] de dois Estados -Israel e Palestina- coexistindo em paz e segurança".
O diálogo entre Arafat e Mazen foi mediado por um enviado egípcio que buscou aparar as arestas antes do ultimato para um acordo sobre a reforma ministerial, que venceria ontem à meia-noite. O Parlamento palestino deve se reunir no domingo ou na segunda-feira para aprovar o gabinete.
Segundo o acordo entre os dois, Mazen irá acumular o cargo de ministro do Interior, enquanto Mohammed Dahlan, o poderoso ex-chefe de segurança da faixa de Gaza, assumirá o Ministério da Segurança Interna.
Arafat não queria que Dahlan assumisse postos no novo gabinete. No ano passado, os dois entraram em choque e Dahlan foi afastado de seu cargo. Ele era visto pelos EUA e por Israel como um homem-chave no combate aos extremistas palestinos que se opõem a um acordo de paz.
Dahlan, 41, é um dos líderes da nova geração palestina. Ele foi preso diversas vezes por Israel até ser deportado em 1988. Em 1994, retornou para a faixa de Gaza.
Além dele, há outros críticos a Arafat no gabinete.
Mazen, 68, é visto pelos EUA e pela União Européia como uma das poucas saídas para que os israelenses se sintam seguros para negociar com os palestinos. O premiê tem um histórico de moderação nas negociações com os israelenses e considera um erro a violência da Intifada -levante iniciado em 2000 contra a ocupação israelense.
O premiê é um dos fundadores da OLP (Organização pela Libertação da Palestina), em 1964. Ele sempre esteve ao lado de Arafat, 74, e foi um dos signatários dos acordos de paz assinados nos anos 90. Com formação em história, o premiê tem doutorado em uma universidade de Moscou.
Sua chegada ao poder e a aprovação de seu gabinete era um dos pré-requisitos para estabelecer o novo cronograma de negociações de paz, chamado de "mapa do caminho", que deve culminar com o estabelecimento de um Estado palestino em 2005.
Inicialmente, os palestinos devem interromper os ataques contra israelenses. Já Israel deve congelar a construção de novos assentamentos na Cisjordânia e na faixa de Gaza. Talvez ainda neste ano possa ser criado um Estado palestino provisório, com fronteiras indefinidas. Temas mais difíceis, como as fronteiras finais, o status de Jerusalém e o destino dos refugiados palestinos seriam discutidos posteriormente.
Mas o sucesso do novo plano depende de como será a natureza do novo governo palestino, o que ainda não está claro.
Mazen terá sob seu controle a força de segurança preventiva e tocará o dia-a-dia da administração palestina. Desse modo, haverá condições para ele combater os extremistas palestinos e impedir o financiamento ao terrorismo contra os israelenses.
Porém Arafat terá o comando de outras forças de segurança e aparentemente possuirá a palavra final em um possível acordo de paz com Israel. Israel e EUA não confiam em Arafat e acham que ele não combate o terrorismo.
O grupo extremista Hamas rejeitou a reforma no gabinete palestino, afirmando que ela "é uma submissão ao que está sendo ditado pelos estrangeiros".


Com agências internacionais


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