São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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Plano de erradicação de coca pode poluir rios

DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA

A principal estratégia do governo colombiano para a erradicação dos cultivos de coca no país -a fumigação aérea das plantações com o herbicida glifosato- está na mira das críticas sobre sua eficácia e sobre os danos que poderia causar ao ambiente.
Uma das preocupações dos ambientalistas é a possibilidade de contaminação de cursos d'água, o que poderia transportar o produto para outros locais. Os rios Putumayo e Caquetá, que cruzam o sul da Colômbia, onde está concentrada a maior parte das plantações de coca do país, correm na direção do Brasil, onde mudam de nome, respectivamente, para Içá e Japurá.
Segundo especialistas consultados pela Folha, porém, a possibilidade de contaminação dos rios é baixíssima, porque o glifosato é solúvel em água. "Até o curso d'água chegar ao Brasil, o glifosato já desapareceu há muito tempo", afirma Sergio Uribe, da Jife (Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes), ligada à ONU.
Para Uribe, a preocupação maior deveria ser em relação aos produtos químicos utilizados pelos cultivadores de coca e pelos refinadores de cocaína. "Esses são produtos com potencial de contaminação muito maior", diz ele. "Acho que a preocupação dos ambientalistas com a fumigação deveria ser a menor de todas."
O Exército brasileiro colhe amostras dos rios que se originam na Colômbia a cada duas semanas para verificar uma possível contaminação, mas nenhuma alteração foi verificada até agora.

Ineficiência
À parte as questões ambientais, as fumigações também têm sua eficácia questionada. Segundo a Polícia Antinarcóticos, foram fumigados 95 mil hectares de plantações de coca entre 2000 e 2001 -cada fumigação teria a capacidade de impedir até três colheitas de coca (o arbusto dá de quatro a cinco colheitas anuais).
Apesar do esforço, o cultivo de coca no país foi ampliado de 145 mil hectares para 163 mil hectares entre 2000 e 2001, segundo dados da CIA (agência de inteligência dos EUA). Muitas organizações não-governamentais também alegam que o "seca-seca", como é chamado pelas populações indígenas locais, destrói não só as plantações de coca, mas também as de milho, banana e mandioca.
A fumigação também foi criticada pelo representante na Colômbia do UNDCP (Programa da ONU para Controle de Drogas, na sigla em inglês), Klaus Nyholm. Ele disse que a erradicação dos cultivos deveria ser feita de maneira manual e voluntária. (RW)


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