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Plano de erradicação de coca pode poluir rios
DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA
A principal estratégia do governo colombiano para a erradicação
dos cultivos de coca no país -a fumigação aérea das plantações
com o herbicida glifosato- está na mira das críticas sobre sua eficácia e sobre os danos que poderia causar ao ambiente.
Uma das preocupações dos ambientalistas é a possibilidade de contaminação de cursos d'água, o que poderia transportar o produto para outros locais. Os rios Putumayo e Caquetá, que cruzam o sul da Colômbia, onde está concentrada a maior parte das plantações de coca do país, correm na direção do Brasil, onde mudam
de nome, respectivamente, para Içá e Japurá.
Segundo especialistas consultados pela Folha, porém, a possibilidade de contaminação dos rios é baixíssima, porque o glifosato é
solúvel em água. "Até o curso d'água chegar ao Brasil, o glifosato já
desapareceu há muito tempo",
afirma Sergio Uribe, da Jife (Junta
Internacional de Fiscalização de
Entorpecentes), ligada à ONU.
Para Uribe, a preocupação
maior deveria ser em relação aos
produtos químicos utilizados pelos cultivadores de coca e pelos refinadores de cocaína. "Esses são
produtos com potencial de contaminação muito maior", diz ele.
"Acho que a preocupação dos
ambientalistas com a fumigação
deveria ser a menor de todas."
O Exército brasileiro colhe
amostras dos rios que se originam
na Colômbia a cada duas semanas
para verificar uma possível contaminação, mas nenhuma alteração
foi verificada até agora.
Ineficiência
À parte as questões ambientais,
as fumigações também têm sua
eficácia questionada. Segundo a
Polícia Antinarcóticos, foram fumigados 95 mil hectares de plantações de coca entre 2000 e 2001
-cada fumigação teria a capacidade de impedir até três colheitas
de coca (o arbusto dá de quatro a
cinco colheitas anuais).
Apesar do esforço, o cultivo de
coca no país foi ampliado de 145
mil hectares para 163 mil hectares
entre 2000 e 2001, segundo dados
da CIA (agência de inteligência
dos EUA). Muitas organizações
não-governamentais também
alegam que o "seca-seca", como é
chamado pelas populações indígenas locais, destrói não só as
plantações de coca, mas também
as de milho, banana e mandioca.
A fumigação também foi criticada pelo representante na Colômbia do UNDCP (Programa da
ONU para Controle de Drogas, na
sigla em inglês), Klaus Nyholm.
Ele disse que a erradicação dos
cultivos deveria ser feita de maneira manual e voluntária.
(RW)
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