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RELIGIÃO
João Paulo 2º inicia visita polêmica dizendo que não foi ao país fazer proselitismo e enfrenta vigília de protesto
Papa pede desculpas a ortodoxos na Ucrânia
DA REDAÇÃO
O papa João Paulo 2º, 81, iniciou
ontem uma difícil visita à Ucrânia
com um pedido de desculpas por
erros cometidos no passado pela
Igreja Católica e dizendo à maioria ortodoxa do país que sua viagem não tem objetivos proselitistas. "Eu não vim com a intenção
de fazer proselitismo, mas para
orar a Cristo junto com todos os
cristãos de todas as igrejas", disse
o papa, em ucraniano fluente, ao
chegar a Kiev (capital).
Muitos líderes e seguidores da
Igreja Ortodoxa Russa, a maior
do país, querem limitar a ação
proselitista dos católicos na Ucrânia, que sofreu repressão religiosa
até o fim da era comunista, em
1991. Dos 49 milhões de ucranianos, ao menos 10 milhões são ortodoxos observantes, e cerca de 6
milhões são católicos. Centenas
de ortodoxos vêm realizando vigílias contra a visita de cinco dias.
Repetindo o gesto que fez no
mês passado na Grécia, o papa
disse que católicos e ortodoxos
devem buscar o perdão por ofensas das duas partes desde o cisma
de 1054, que dividiu os cristãos.
"Curvando-se diante de nosso
único Deus, vamos reconhecer
nossos erros", disse o papa. "Enquanto pedimos perdão por erros
cometidos tanto no passado recente quanto no distante, vamos
também oferecer o perdão pelo
nosso sofrimento."
O papa, recebido pelo presidente Leonid Kuchma, beijou o solo
ucraniano numa tigela após desembarcar. Desde que quebrou a
perna, em 1994, ele não repete seu
tradicional gesto de beijar o chão
dos países que visita. "Finalmente, com grande alegria, sou capaz
de beijar o amado solo ucraniano.
Agradeço a Deus o presente que
Ele me deu hoje", disse o papa.
O Vaticano espera com a visita
curar algumas das antigas feridas
religiosas da Ucrânia. Em 1946, o
ditador soviético Josef Stálin suprimiu a ação das igrejas católicas
e deu seu patrimônio para a igreja
ortodoxa local, dirigida de Moscou e pró-governo. Após o fim da
repressão, em 1991, os católicos
recuperaram suas igrejas, às vezes
causando disputas violentas.
O papa homenageou os ucranianos que sofreram durante décadas de perseguição religiosa sob
o regime comunista, quando os
fiéis rezavam na clandestinidade.
O papa planeja beatificar 27
mártires da era soviética. Deve
ainda prestar homenagem às vítimas do desastre nuclear de Tchernobil (1986) e aos estimados 100
mil judeus mortos por tropas nazistas em Babi Yar, perto de Kiev.
João Paulo 2º disse que, após as
dificuldades da ocupação nazista
e da perseguição comunista, o
país tem "uma clara vocação européia", reforçada por suas raízes
cristãs. As autoridades estimam
que mais de 2 milhões de pessoas
compareçam a missas do papa
em Kiev e em Lviv (oeste). A segurança será ostensiva, e a polícia espera a ocorrência de protestos.
Com agências internacionais
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