São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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RELIGIÃO

João Paulo 2º inicia visita polêmica dizendo que não foi ao país fazer proselitismo e enfrenta vigília de protesto

Papa pede desculpas a ortodoxos na Ucrânia

DA REDAÇÃO

O papa João Paulo 2º, 81, iniciou ontem uma difícil visita à Ucrânia com um pedido de desculpas por erros cometidos no passado pela Igreja Católica e dizendo à maioria ortodoxa do país que sua viagem não tem objetivos proselitistas. "Eu não vim com a intenção de fazer proselitismo, mas para orar a Cristo junto com todos os cristãos de todas as igrejas", disse o papa, em ucraniano fluente, ao chegar a Kiev (capital).
Muitos líderes e seguidores da Igreja Ortodoxa Russa, a maior do país, querem limitar a ação proselitista dos católicos na Ucrânia, que sofreu repressão religiosa até o fim da era comunista, em 1991. Dos 49 milhões de ucranianos, ao menos 10 milhões são ortodoxos observantes, e cerca de 6 milhões são católicos. Centenas de ortodoxos vêm realizando vigílias contra a visita de cinco dias.
Repetindo o gesto que fez no mês passado na Grécia, o papa disse que católicos e ortodoxos devem buscar o perdão por ofensas das duas partes desde o cisma de 1054, que dividiu os cristãos.
"Curvando-se diante de nosso único Deus, vamos reconhecer nossos erros", disse o papa. "Enquanto pedimos perdão por erros cometidos tanto no passado recente quanto no distante, vamos também oferecer o perdão pelo nosso sofrimento."
O papa, recebido pelo presidente Leonid Kuchma, beijou o solo ucraniano numa tigela após desembarcar. Desde que quebrou a perna, em 1994, ele não repete seu tradicional gesto de beijar o chão dos países que visita. "Finalmente, com grande alegria, sou capaz de beijar o amado solo ucraniano. Agradeço a Deus o presente que Ele me deu hoje", disse o papa.
O Vaticano espera com a visita curar algumas das antigas feridas religiosas da Ucrânia. Em 1946, o ditador soviético Josef Stálin suprimiu a ação das igrejas católicas e deu seu patrimônio para a igreja ortodoxa local, dirigida de Moscou e pró-governo. Após o fim da repressão, em 1991, os católicos recuperaram suas igrejas, às vezes causando disputas violentas.
O papa homenageou os ucranianos que sofreram durante décadas de perseguição religiosa sob o regime comunista, quando os fiéis rezavam na clandestinidade.
O papa planeja beatificar 27 mártires da era soviética. Deve ainda prestar homenagem às vítimas do desastre nuclear de Tchernobil (1986) e aos estimados 100 mil judeus mortos por tropas nazistas em Babi Yar, perto de Kiev.
João Paulo 2º disse que, após as dificuldades da ocupação nazista e da perseguição comunista, o país tem "uma clara vocação européia", reforçada por suas raízes cristãs. As autoridades estimam que mais de 2 milhões de pessoas compareçam a missas do papa em Kiev e em Lviv (oeste). A segurança será ostensiva, e a polícia espera a ocorrência de protestos.


Com agências internacionais



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