São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRÍPLICE FRONTEIRA

Procurado pelo Paraguai, Barakat, supostamente ligado ao Hizbollah, recorrerá no STF para não ser extraditado

Libanês preso no Brasil nega elo com terror

DA AGÊNCIA FOLHA

O comerciante libanês Assad Ahmad Barakat, preso anteontem em Foz do Iguaçu a pedido da Justiça paraguaia, negou as acusações de ligação com atos terroristas. Nesta semana, sua defesa deverá tentar libertá-lo e evitar sua extradição com recurso junto ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Barakat, 34, chegou no fim da tarde de sábado na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, após ser detido pela manhã em sua casa em Foz.
Ele é acusado pela Justiça do Paraguai de ser integrante de um núcleo do grupo extremista libanês Hizbollah em Ciudad del Este, cidade do país vizinho que faz fronteira com Foz do Iguaçu.
Segundo o governo de Assunção, Barakat organizava remessas de dinheiro para financiar o Hizbollah -organização extremista islâmica apoiada por Síria e Irã que, além de combater Israel, é um partido político no Líbano.
"Não sou terrorista. Vivo no Brasil há sete anos, tenho esposa e três filhos brasileiros e, nesse tempo todo, nunca tive problemas com nada", afirmou Barakat em entrevista a emissoras de TV de Foz do Iguaçu, antes de embarcar para Brasília.
O delegado da PF Joaquim Mesquita declarou que, no Brasil, não há conhecimento de provas que liguem o libanês ao terror.
A mulher do comerciante, a brasileira Marlene Barakat, disse às TVs locais que está "muito aflita" e acredita que, agora, nas mãos do STF, "vai acabar de vez a perseguição" a seu marido.
O Hizbollah, que surgiu como grupo guerrilheiro contrário à ocupação israelense no início dos anos 80, é legalizado como partido político. Em maio de 2000, Israel deixou o sul libanês. Com os ataques de 11 de setembro, porém, aumentou a pressão sobre o grupo, que é considerado terrorista pelos EUA.
A ordem de prisão para Barakat foi enviada à Polícia Federal de Foz pelo STF. O ministro Maurício Corrêa atendeu a um pedido da Justiça paraguaia, que tenta prender o libanês desde outubro do ano passado.
Na ocasião, foram apreendidos na loja de Barakat em Ciudad del Este, que está fechada, CDs e vídeos de Hassan Nasrallah, líder máximo do Hizbollah, com mais de 60 horas de discurso. Em um deles, Nasrallah conclama seus seguidores a "explodir seus corpos contra os inimigos", para libertar o território palestino. Três funcionários do comerciante foram presos na ação, e até agora só um foi liberado.
Sobre o material apreendido em sua loja, o comerciante havia afirmado que tinha feito gravações da TV libanesa Al Manar, transmitida por canais do sistema a cabo na fronteira.
A Polícia Nacional do Paraguai prendeu, de setembro até agora, 23 comerciantes supostamente ligados a grupos terroristas. Dois continuam detidos.
Dois advogados, os quais a Agência Folha não conseguiu contatar ontem, estão tentando evitar que Barakat seja extraditado ao Paraguai.
Em novembro do ano passado, o comerciante disse ser simpatizante do Hizbollah e que, anualmente, manda US$ 400 para uma instituição criada pelo grupo, no Líbano, que cuida de órfãos dos mortos em conflitos com Israel.



Texto Anterior: Venezuela: Chávez diz que poderá convocar referendo
Próximo Texto: Oriente Médio: Israel cerca QG de Arafat em Ramallah
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.