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Presidente de Timor recua e quer renúncia do premiê
Xanana, que prometeu deixar cargo na quinta, desiste após manifestações de apoio
Primeiro-ministro é acusado
de inabilidade na crise que
destruiu o Exército; partido
oficial já estuda novo nome
a ser indicado para seu lugar
Cândido Alves/France Presse
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Menina timorense exibe cartaz de Xanana Gusmão em Dili |
DA REDAÇÃO
O presidente de Timor Leste,
Xanana Gusmão, recuou e
anunciou ontem que não renunciaria mais ao cargo. Ele
havia anunciado na véspera a
intenção de deixar a Presidência, caso o primeiro-ministro e
seu adversário político, Mari
Alkatiri, insistisse em continuar na chefia do governo.
Bem mais que um conflito
pessoal, o episódio reflete a instabilidade institucional de um
país que enfrenta a maior crise
de sua curta história. Timor
nasceu em 2002, no plebiscito
que oficializou sua separação
da Indonésia, que o invadiu em
1975, logo após a retirada das
forças coloniais portuguesas.
Boa parte dos timorenses
responsabiliza o premiê Alkatiri pela crise militar que levou ao
afastamento, em abril, de 600
dos 1.400 homens que integravam o Exército. Em lugar de
negociar o fim de uma revolta,
foi intransigente e permitiu
que os militares desertassem
como força rebelde.
Com o colapso do Exército e
a contaminação da polícia pela
crise, a capital de Timor, Dili, ficou em mãos de saqueadores.
Cerca de 30 pessoas morreram
em confrontos.
O país pediu então a presença de forças internacionais de
paz. Há 2.700 militares estrangeiros. O maior contingente foi
enviado pela vizinha Austrália.
O presidente Xanana Gusmão fez na semana passada um
apelo para que os 600 rebeldes
entregassem aos australianos
suas armas. O processo de desarmamento começou, mas,
para concluí-lo, os envolvidos
pediam a demissão de Alkatiri.
O secretário-geral da ONU,
Kofi Annan, telefonou ontem a
Xanana Gusmão e pediu para
que ele não renunciasse. Seu
representante no país, Sukehiro Hasegawa, visitou-o pessoalmente e renovou o apelo, em
nome da "estabilidade e da manutenção da paz".
Ontem, em Dili, uma manifestação com "milhares de pessoas" -as agências de notícias
são pouco precisas- pediu que
ele recuasse da intenção de renúncia. Xanana é um dos heróis
da guerrilha que inviabilizou a
dominação da Indonésia sobre
a ex-colônia portuguesa.
"Como presidente e irmão de
vocês, eu honrarei a Constituição e cumprirei minhas obrigações com base no pedido que
me fazem", disse.
Pouco depois, cerca de 2.000
pessoas se reuniam diante do
Parlamento para exigir a saída
de Alkatiri.
Na multidão, a Associated
Press relata o depoimento de
Betina Pereira. "Estou aqui
com meu marido e meus dois
filhos para testemunhar a queda de Alkatiri", disse ela, que
acusou o premiê de manipular
a Fretilin (partido oficial) e de
enriquecer com bens públicos
seus aliados. A Fretilin é o partido nascido da guerrilha contra o colonialismo português.
O jornal português "O Público" diz que, dentro da agremiação, a substituição do premiê já
é dada como certa.
Segundo a agência Lusa, José
Ramos Horta, ministro das Relações Exteriores, afirmou a diplomatas que Alkatiri iria inevitavelmente renunciar.
Alkatiri não se pronunciou
ontem. Muitos o consideram
enfraquecido em razão da prisão, na véspera, de um de seus
mais próximos aliados, o ex-ministro do Interior Rogério
Lobato, sob a acusação de distribuir armas do Estado a civis
para eliminar os adversários. A
denúncia foi feita por um canal
de TV australiano.
Austrália
Em Lisboa, o general português Alfredo Assunção, que entre 2000 e 2001 chefiou as tropas da ONU em Timor Leste,
acusou a Austrália de estar interessada em controlar o país.
Disse que os australianos querem se apoderar do petróleo e
do gás timorenses.
A tese parece anedótica diante da entrevista dada ontem por
Alexander Downer, chanceler
australiano. Ele lançou um apelo para que a França se integre
às forças internacionais de paz.
Um país com pretensões hegemônicas não dividiria o poder.
Com agências internacionais
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