São Paulo, sábado, 24 de julho de 2004

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ESPANHA

Para Moratinos, vontade popular foi respeitada

Madri não cedeu à ameaça terrorista ao deixar o Iraque, afirma chanceler

MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O fato de o premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero (centro-esquerda), ter ordenado a retirada de suas tropas do Iraque pouco depois de vencer a eleição, em março passado, não significou que a Espanha cedeu à ameaça terrorista, mas demonstrou que seu governo respeita a vontade popular, segundo Miguel Ángel Moratinos, chanceler espanhol.
"Se tivéssemos aceitado a agenda terrorista, teríamos permanecido no Iraque. Foi justamente porque não queríamos que os terroristas nos impusessem sua pauta que saímos do país. Trata-se de uma decisão que foi tomada antes dos ataques terroristas em Madri, ocorridos em março [que mataram 191 pessoas]. Isso significa que, ao sair do Iraque, o governo espanhol deixou claro que não aceitava que os terroristas ditassem quais estratégias ele deveria ter", disse Moratinos à Folha.
"O atual governo foi eleito com essa plataforma e não podia mudar uma direção que fora aprovada pela sociedade espanhola. Esta deixou claro que não queria continuar a ter um governo que não aceitava o debate e manipulava elementos da discussão política. O governo anterior [do conservador José María Aznar] mentiu sobre as razões para ir à guerra, pois não havia armas de destruição em massa no Iraque", acrescentou.
Os chanceler espanhol visitou Brasília anteontem e reuniu-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com seu colega brasileiro, Celso Amorim. Para ele, Brasil e Espanha devem constituir uma parceria estratégica, já que seus governos compartilham uma visão das relações internacionais que "privilegia a cidadania".
Nesse sentido, ainda de acordo com Moratinos, a Espanha pretende apoiar uma iniciativa brasileira de combate à fome que será lançada à margem da Assembléia Geral da ONU, em setembro próximo. O projeto -de difícil realização, de acordo com especialistas- vem sendo defendido, há mais de um ano, pelo governo Lula em reuniões internacionais.
O chanceler afirmou também que a Espanha enviará dezenas de policiais civis e militares ao Haiti, além de engenheiros militares que conceberão e executarão projetos de infra-estrutura. A missão de paz da ONU no país caribenho é comandada pelas Forças Armadas do Brasil.


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