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ESPANHA
Para Moratinos, vontade popular foi respeitada
Madri não cedeu à ameaça terrorista ao deixar o Iraque, afirma chanceler
MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O fato de o premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero (centro-esquerda), ter ordenado a retirada de suas tropas do Iraque
pouco depois de vencer a eleição,
em março passado, não significou
que a Espanha cedeu à ameaça
terrorista, mas demonstrou que
seu governo respeita a vontade
popular, segundo Miguel Ángel
Moratinos, chanceler espanhol.
"Se tivéssemos aceitado a agenda terrorista, teríamos permanecido no Iraque. Foi justamente
porque não queríamos que os terroristas nos impusessem sua pauta que saímos do país. Trata-se de
uma decisão que foi tomada antes
dos ataques terroristas em Madri,
ocorridos em março [que mataram 191 pessoas]. Isso significa
que, ao sair do Iraque, o governo
espanhol deixou claro que não
aceitava que os terroristas ditassem quais estratégias ele deveria
ter", disse Moratinos à Folha.
"O atual governo foi eleito com
essa plataforma e não podia mudar uma direção que fora aprovada pela sociedade espanhola. Esta
deixou claro que não queria continuar a ter um governo que não
aceitava o debate e manipulava
elementos da discussão política.
O governo anterior [do conservador José María Aznar] mentiu sobre as razões para ir à guerra, pois
não havia armas de destruição em
massa no Iraque", acrescentou.
Os chanceler espanhol visitou
Brasília anteontem e reuniu-se
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e com seu colega brasileiro, Celso Amorim. Para ele, Brasil
e Espanha devem constituir uma
parceria estratégica, já que seus
governos compartilham uma visão das relações internacionais
que "privilegia a cidadania".
Nesse sentido, ainda de acordo
com Moratinos, a Espanha pretende apoiar uma iniciativa brasileira de combate à fome que será
lançada à margem da Assembléia
Geral da ONU, em setembro próximo. O projeto -de difícil realização, de acordo com especialistas- vem sendo defendido, há
mais de um ano, pelo governo Lula em reuniões internacionais.
O chanceler afirmou também
que a Espanha enviará dezenas de
policiais civis e militares ao Haiti,
além de engenheiros militares
que conceberão e executarão projetos de infra-estrutura. A missão
de paz da ONU no país caribenho
é comandada pelas Forças Armadas do Brasil.
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