São Paulo, terça-feira, 24 de julho de 2007

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UE quer Turquia no rumo da integração

Bloco parabeniza vitória do partido do premiê Erdogan no domingo, mas cobra reformas para voltar a negociar adesão

Histórico de liberdades civis, direitos humanos e portos fechados ao Chipre pararam conversações, lançadas em 2002 sob o próprio Erdogan

DA REDAÇÃO

Líderes da União Européia saudaram ontem a vitória nas eleições legislativas turcas do AK, Partido da Justiça e Desenvolvimento, legenda islâmica moderada que governa o país. Mas, ao felicitar o premiê Recep Tayyp Erdogan -que com a vitória ganha mais cinco anos na chefia do Executivo na Turquia-, a UE o instou a retomar as reformas necessárias para a entrada do país no bloco.
José Manuel Durão Barroso, o presidente da Comissão Européia, desejou a Erdogan "toda a sorte" em seu "caminho rumo à União Européia" -ao que o premiê turco respondeu afirmando a simpatizantes, na sede de seu partido, em Ancara, que "continuaremos a trabalhar com determinação a fim de atingirmos nosso objetivo [o ingresso na UE]".
As tentativas da Turquia de ingressar no bloco de 27 países, que se iniciarem em 2002, primeiro ano do AK no poder, esbarram em problemas relacionados principalmente aos direitos civis. Como disse ontem Olli Rehn, o comissário para a Expansão da União Européia, "Ancara deve levar a cabo um processo de reforma jurídica e econômica" que inclua o estabelecimento de "direitos e liberdades fundamentais para um Estado de Direito, como a liberdade de expressão".
Rehn referia-se, entre outras coisas, à possibilidade de condenação, prevista no código penal turco, de pessoas que criticarem o Estado, a identidade e os valores nacionais da Turquia. Essa lei tem sido usada para processar vários intelectuais e jornalistas.
Outro entrave é o fato de Ancara se recusar a abrir seus portos ao Chipre, país-membro da UE onde o único governo internacionalmente reconhecido é o de hegemonia grega, inimigo da minoria turca.

Crise
As eleições legislativas na Turquia foram antecipadas para o domingo passado devido a um crise política que estourou neste ano. O governo Erdogan tentou forçar a nomeação para a Presidência de um membro do AK, o chanceler Abdullah Gül. A elite laica e os militares reagiram, temendo que, se a Presidência, embora de menor importância que a chefia do Executivo, caísse também nas mãos do AK, o partido ganharia força para tentar islamizar as instituições laicas do país.
O AK nega ter tal intenção. A solução de que Erdogan lançou mão foi antecipar as eleições, que deram ao seu partido 46% das cadeiras do Parlamento -mais do que os 34% conquistados em 2002. Cerca de 99% dos turcos são muçulmanos.
Para analistas, o resultado do pleito mostra ainda que o povo turco não quer os militares intervindo no processo político do país -uma posição que a União Européia preza.
"O resultado dessa eleição é um tapa na cara dos militares porque mostra que o povo não os quer tentando estabelecer os contornos da vida política e social do país", disse o professor Ishan Dagi, da turca Universidade Técnica Oriente Médio.
Tendo derrubado quatro governos desde 1960, os militares se julgam os guardiães da institucionalidade laica na Turquia.


Com agências internacionais e "Financial Times"


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