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UE quer Turquia no rumo da integração
Bloco parabeniza vitória do partido do premiê Erdogan no domingo, mas cobra reformas para voltar a negociar adesão
Histórico de liberdades civis, direitos humanos e portos fechados ao Chipre pararam conversações, lançadas em 2002 sob o próprio Erdogan
DA REDAÇÃO
Líderes da União Européia
saudaram ontem a vitória nas
eleições legislativas turcas do
AK, Partido da Justiça e Desenvolvimento, legenda islâmica
moderada que governa o país.
Mas, ao felicitar o premiê Recep Tayyp Erdogan -que com a
vitória ganha mais cinco anos
na chefia do Executivo na Turquia-, a UE o instou a retomar
as reformas necessárias para a
entrada do país no bloco.
José Manuel Durão Barroso,
o presidente da Comissão Européia, desejou a Erdogan "toda a sorte" em seu "caminho
rumo à União Européia" -ao
que o premiê turco respondeu
afirmando a simpatizantes, na
sede de seu partido, em Ancara,
que "continuaremos a trabalhar com determinação a fim de
atingirmos nosso objetivo [o
ingresso na UE]".
As tentativas da Turquia de
ingressar no bloco de 27 países,
que se iniciarem em 2002, primeiro ano do AK no poder, esbarram em problemas relacionados principalmente aos direitos civis. Como disse ontem
Olli Rehn, o comissário para a
Expansão da União Européia,
"Ancara deve levar a cabo um
processo de reforma jurídica e
econômica" que inclua o estabelecimento de "direitos e liberdades fundamentais para
um Estado de Direito, como a
liberdade de expressão".
Rehn referia-se, entre outras
coisas, à possibilidade de condenação, prevista no código penal turco, de pessoas que criticarem o Estado, a identidade e
os valores nacionais da Turquia. Essa lei tem sido usada
para processar vários intelectuais e jornalistas.
Outro entrave é o fato de Ancara se recusar a abrir seus portos ao Chipre, país-membro da
UE onde o único governo internacionalmente reconhecido é o
de hegemonia grega, inimigo da
minoria turca.
Crise
As eleições legislativas na
Turquia foram antecipadas para o domingo passado devido a
um crise política que estourou
neste ano. O governo Erdogan
tentou forçar a nomeação para
a Presidência de um membro
do AK, o chanceler Abdullah
Gül. A elite laica e os militares
reagiram, temendo que, se a
Presidência, embora de menor
importância que a chefia do
Executivo, caísse também nas
mãos do AK, o partido ganharia
força para tentar islamizar as
instituições laicas do país.
O AK nega ter tal intenção. A
solução de que Erdogan lançou
mão foi antecipar as eleições,
que deram ao seu partido 46%
das cadeiras do Parlamento
-mais do que os 34% conquistados em 2002. Cerca de 99%
dos turcos são muçulmanos.
Para analistas, o resultado do
pleito mostra ainda que o povo
turco não quer os militares intervindo no processo político
do país -uma posição que a
União Européia preza.
"O resultado dessa eleição é
um tapa na cara dos militares
porque mostra que o povo não
os quer tentando estabelecer os
contornos da vida política e social do país", disse o professor
Ishan Dagi, da turca Universidade Técnica Oriente Médio.
Tendo derrubado quatro governos desde 1960, os militares
se julgam os guardiães da institucionalidade laica na Turquia.
Com agências internacionais e "Financial Times"
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