São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Debate da dívida faz lobby explodir nos EUA

Grupos de pressão inundam TV com propaganda, rara em anos sem eleição, para influir na política econômica

Entidades afinadas com republicanos ou com democratas não são obrigadas, por lei, a revelar quanto gastam

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

A TV americana foi inundada nas últimas duas semanas por comerciais bancados por lobbies e grupos de pressão, que veem no atual debate sobre a dívida a chance de influenciar o Congresso e capturar "a oportunidade de uma década" para mudar a política econômica dos EUA.
Comerciais bancados por grupos sem laço formal com partidos são comuns nas campanhas nos EUA (onde não há horário político), mas raros em anos sem votação.
A negociação sobre um pacote para aumentar o limite de endividamento do governo e para enxugar o Orçamento, porém, mudou o cenário. Grupos como o Crossroads GPS, que tem como conselheiro informal o estrategista republicano Karl Rove, ou a AARP (Associação Americana de Pessoas Aposentadas) investiram milhões em propaganda nas semanas do debate, onipresente nas TVs. "Temos uma oportunidade única na década", disse à Folha Jonathan Collegio, porta-voz do Crossroads, no seu escritório em Washington, onde trabalham dez pessoas.
O cerne da discussão é onde cortar o Orçamento (republicanos querem tirar verba de programas sociais) e como ampliar a receita (democratas defendem impostos).
O Crossroads, que atua como grupo de ativismo conservador sem fins lucrativos, declara ter gasto US$ 20 milhões em dois meses com comerciais que exortam o eleitor a "tirar o cheque em branco das mãos do presidente Obama". No anúncio, uma mãe preocupada com a filha em um país de governo perdulário.
Já AARP exibe septuagenários acusando o Congresso de querer lhes roubar a aposentadoria. A associação declara ter gasto "muitos milhões" em sua campanha, mas, indagada pela reportagem, omitiu o número exato.
"Quando o assunto é discutido em detalhe, ninguém presta atenção. Mas os eleitores têm uma visão muito clara de seus valores, então você apresenta seus argumentos políticos em termos de valores", explica Collegio.
Para afinar o tom, há pesquisas de mercado e grupos de discussão, expedientes da publicidade de produtos.
Como AARP e Crossroads não se identificam como comitês de ação política, nãosão obrigadas pela lei a declarar quem recheia seu caixa ou quanto há nele. Collegio compara com uma igreja.
A Crossroads, porém, tem uma entidade-irmã, a American Crossroads, comitê de ação política que gastou nas eleições legislativas de 2010, segundo o Centro por uma Política Responsável, US$ 2,6 milhões -o valor mais alto do gênero, que ao todo consumiu US$ 211 milhões.
E a ofensiva de midia vai além dos comerciais. Grupos como o conservador Club for Growth espalharam "especialistas" para dar entrevistas atacando a ideia de Obama de aumentar impostos.
A enxurrada de comerciais desta temporada impressionou até mesmo os lobistas tradicionais, regulamentados, cujo negócio é persuadir congressistas a tomar um ou outro rumo. "Eles monopolizam o foco do Congresso e atrapalham nosso trabalho", diz Howard Marlowe, da Liga Americana de Lobistas.


Texto Anterior: FOLHA.com
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.