São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES NOS EUA

Kerry acusa Bush de caluniá-lo com anúncio de suposto grupo de veteranos; republicanos negam ligação

Troca de acusações esquenta campanha

ADAM NAGOURNEY
JIM RUTENBERG
DO "THE NEW YORK TIMES"

O senador John Kerry divulgou no domingo um comercial no qual atribui a seu adversário nas eleições de novembro, o presidente George W. Bush, a campanha de um suposto grupo de veteranos de guerra que, segundo ele, calunia seu histórico militar.
O comitê eleitoral de Bush negou envolvimento na campanha, que contesta partes cruciais do histórico de guerra de Kerry na Guerra do Vietnã, e enviou a várias estações de televisão uma carta em que qualifica o novo anúncio de Kerry como calunioso.
Mais tarde, o presidente exortou o grupo Swift Boat Veterans for Truth (Veteranos de Swift Boat pela Verdade) a retirar as peças publicitárias do ar e chegou perto de condenar seu conteúdo. "Esse anúncio e outros promovidos por grupos assim não têm lugar na disputa", disse.
Mas, ao evitar a condenação, Bush voltou a ser criticado pelos democratas. "O momento da verdade chegou e passou, e o presidente ainda não conseguiu fazer a coisa certa", disse em um comunicado o companheiro de chapa de Kerry, senador John Edwards.
Indagado sobre o histórico militar de seu adversário, Bush, que já teve seu próprio histórico questionado, respondeu que "o senador Kerry serviu admiravelmente e deveria se orgulhar de seu histórico". "Mas a questão é quem é melhor para liderar o país na guerra contra o terror, quem pode lidar com as responsabilidades de ser comandante-em-chefe, quem tem uma visão clara dos riscos que o país enfrenta", declarou, em seu rancho no Texas.
A disputa em torno do histórico militar de Kerry passou a ocupar o centro das atenções da corrida presidencial na semana que antecede a convenção republicana, em Nova York, que deve chancelar a candidatura de Bush.
Alguns democratas próximos do senador disseram temer que o mesmo fator que levou o partido a vê-lo como um concorrente de peso para enfrentar Bush -seu histórico de veterano e condecorado combatente no Vietnã- enfraqueça sua candidatura.
Os assessores de Kerry disseram que o anúncio mais recente e o discurso que ele deve fazer hoje em Nova York visam afastar a atenção da discussão sobre a atuação de Kerry no Vietnã e voltá-la para o que, segundo eles, é um histórico de "truques sujos" dos republicanos ao longo dos anos em torno de Bush e seu pai.
Originalmente, a assessoria de Kerry não planejara gastar dinheiro com publicidade em agosto, mas ela mudou de planos na semana passada, diante do temor expresso por outros setores democratas de que Kerry não estaria reagindo à ameaça com força suficiente.
"Bush caluniou John McCain há quatro anos", diz o narrador no anúncio, referindo-se aos ataques lançados contra o senador McCain por grupos externos quando ele disputou com Bush a indicação presidencial republicana em 2000. "Agora ele está fazendo o mesmo com John Kerry."
"George Bush: denuncie a calúnia", diz o locutor. "Volte ao que realmente interessa. A América merece algo melhor do que isso."
Para fundamentar suas alegações, os assessores de Kerry observaram que o grupo Swift Boat obteve boa parte de seu financiamento inicial de dois homens que apoiaram politicamente Bush e seu pai: um executivo imobiliário chamado Harlan Crow e um construtor, Bob J. Perry, ambos texanos. O principal assessor político de Bush, Karl Rove, já descreveu Perry como amigo. E um integrante do comitê de assessoria de veteranos do presidente, o coronel da reserva Kenneth Cordier, renunciou esta semana depois de aparecer no comercial mais recente do grupo.
O comitê eleitoral do presidente disse que ele apareceu no anúncio sem seu conhecimento.
Comentando o novo anúncio de Kerry, Ken Mehlman, o chefe do comitê de Bush, o descreveu como "enganoso". "O anúncio afirma, incorretamente, que o comitê de Bush está ligado a essa campanha (contra Kerry), o que não é o caso".
Os assessores de Kerry disseram acreditar que os eleitores se voltariam contra Bush caso se convencessem de que ele está por trás do que alguns deles descreveram como um comportamento político antiético.
Bill Carrick, um estrategista democrata que não está ligado ao comitê de campanha, comentou: "É possível que os eleitores presumam que há dois lados nesta disputa e que um lado está atacando o outro, e que culpem Bush pelos ataques". Mesmo assim, ele e outros democratas disseram que o momento é de risco para a campanha de Kerry.
"Transformaram essa questão em assunto quente na imprensa nacional", disse Carrick, falando do grupo Swift Boat. "E ela está impedindo Kerry de falar de sua pauta política própria e de entrar na ofensiva."
Outro democrata ligado ao comitê, mas que pediu para não ser identificado, foi mais pessimista. "Quando você basicamente baseia sua candidatura em sua biografia e quando sofre ataques que prejudicam a credibilidade dessa biografia, você está com um problema muito sério", opinou.


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