São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Israel atende decisão da Justiça e muda traçado da obra que o separa da Cisjordânia; colônias terão mais 500 casas

Conclusão de muro vai atrasar um ano

DA REDAÇÃO

O governo de Israel anunciou ontem quais devem ser as mudanças no traçado da barreira que está sendo erguida para separar o país da Cisjordânia, seguindo as determinações da Suprema Corte do país. As novas alterações devem provocar um atraso de um ano na conclusão da obra, prevista agora para o fim de 2005.
Em outra decisão tomada ontem, o governo israelense afirmou que construirá cerca de 500 novas unidades habitacionais em assentamentos da Cisjordânia, em adição às mil anunciadas na semana passada. A medida acentuou a irritação dos palestinos com os EUA que, segundo informações não oficiais, estariam dando aval a Israel para levar adiante essas construções em assentamentos.
Os americanos não confirmaram oficialmente o aval. Mas analistas avaliam que, com a proximidade das eleições, o presidente George W. Bush estaria buscando satisfazer a comunidade judaica americana, evitando atritos com o governo israelense.
No assentamento de Har Gilo, começou ontem a construção de novas casas, autorizada anteriormente. Muitos dos trabalhadores na obra são palestinos que afirmam não ter outra maneira para ganhar dinheiro.
Tanto a barreira quanto a expansão dos assentamentos judaicos fazem parte do plano de "desengate" do premiê Ariel Sharon, que tem como principal ponto a retirada das colônias da faixa de Gaza. O objetivo é reduzir o atrito com os palestinos.
O atraso na construção da barreira se deve à recente decisão da Suprema Corte de Israel, tomada em junho, que obriga que um trecho de 30 km ao redor de Jerusalém seja refeito para aliviar a vida de milhares de palestinos e exige que o restante do traçado seja reestudado. Com a rota inicialmente prevista, os palestinos muitas vezes ficam separados de suas escolas, hospitais e fazendas. Em outras áreas da Cisjordânia, essa situação ainda persiste.
Além da alteração nos 30 km, o governo de Israel também decidiu mudar o traçado de um outro trecho de cerca de 90 km, que liga o assentamento judaico de Elkana a Jerusalém.
"O Exército de Israel construirá uma nova rota em acordo com o que decidiu a Suprema Corte", disse Dany Tirza, um dos chefes de planejamento da barreira, para o comitê de relações exteriores e de defesa do governo.
Com as mudanças, 1.620 hectares de terra palestina não serão mais confiscados por Israel para a construção da barreira. Em 12 pontos, o muro seguirá o mesmo traçado da linha verde -a fronteira entre a Cisjordânia e Israel. Além disso, serão abertas cerca de 12 passagens para os palestinos atravessarem de suas áreas para o território israelense.
As mudanças no traçado da barreira terão um custo adicional de US$ 6 milhões. Um terço da obra avaliada em centenas de milhões de dólares já foi concluído.
O muro, segundo Israel, está sendo erguido para impedir a entrada de terroristas palestinos no país. Nos últimos cinco meses, não ocorreu nenhum atentado de grandes proporções em Israel. Os palestinos acusam Israel de confiscar áreas palestinas, inviabilizando o estabelecimento de um futuro Estado na Cisjordânia e na faixa de Gaza.
"Enquanto falam em se retirar de Gaza, eles [Israel] expandem seus assentamentos na Cisjordânia", disse ontem o premiê palestino, Ahmed Korei.
Na semana passada, o procurador-geral de Israel, Meni Mazuz, advertiu o governo do país que a má repercussão da construção da barreira pode levar os israelenses a sofrerem sanções de órgãos internacionais. E a Suprema Corte, no mesmo dia, pediu que o governo divulgasse em até 30 dias uma resposta à decisão da Corte Internacional de Haia, que considerou ilegal o muro e determinou a sua derrubada.
O ministro da Defesa de Israel, Shaul Mofaz, afirmou ontem que milhares de reservistas podem ser convocados para ajudar o Exército a remover os assentamentos da faixa de Gaza.

Arafat
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, se reuniu ontem com Mohammed Dahlan, o ex-chefe da segurança palestina na faixa de Gaza que se transformou em um dos mais duros críticos do líder palestino.
O encontro estava sendo adiado desde a eclosão da onda de violência entre os próprios palestinos na Cisjordânia e na faixa de Gaza no início do mês. Nenhum dos dois comentou o que foi discutido.
Um palestino foi morto ontem no campo de refugiados de Rafah, na faixa de Gaza, em operação militar israelense. Não há informações se ele era militante de algum grupo palestino.


Com agências internacionais


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