São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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FILOSOFIA DO MEDO

Congresso reúne especialistas em SP

"Paz unilateral é imposição de vencedor sobre vencido", diz Chaui

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Buscando no pensamento do holandês Baruch Espinosa (1632-1677) subsídios para entender o mundo de hoje, a filósofa Marilena Chaui abriu ontem, no Rio, o Congresso Internacional do Medo. Hoje, às 18h30, ela repete a palestra "Sobre o Medo, a Guerra e a Paz" no Teatro da Aliança Francesa, em São Paulo.
Ao explicar o que são guerra e paz segundo Espinosa, Chaui procurou desmontar o lugar-comum de que paz é ausência de guerra. Ela diferenciou as duas de forma a atacar a Pax Americana, o princípio intervencionista e beligerante que rege a política internacional dos EUA.
"A paz é sempre fruto da concórdia, de um acordo entre duas partes. Paz unilateral é imposição do vencedor sobre o vencido", disse, terminando sua fala com a frase: "Só a paz elimina o medo".
Chaui dedicou parte de sua conferência, no Teatro Maison de France, a mostrar como o mundo moderno desprezou os sentidos da religião, crendo que as supostas benesses do mercado supririam essa demanda simbólica.
Posta de lado das esferas política e econômica, a fé retornou a partir dos anos 70 de forma mais agressiva, levando ao Estado a dimensão do sagrado, como seriam exemplos a Revolução Islâmica no Irã ("Não modernizaram o Islã, mas islamizaram a modernidade") e a radicalização do sionismo em Israel, combatendo a idéia de um Estado palestino. "Os judeus integristas passaram a falar não em Estado de Israel, mas em terra de Israel, que seria tudo entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo."
Para ela, o crescimento de determinados movimentos religiosos e de suas ambições políticas está ligado à sinalização de um "espaço sagrado" em contraposição ao mundo capitalista. "[O neoliberalismo] opera pela exclusão econômica e social. O indivíduo e o cidadão são efêmeros e descartáveis. E opera pela guerra, para dominar e exterminar. A guerra não é episódica, mas constitutiva da nova forma do capital."
Organizado por Adauto Novaes, o congresso segue até 29 de setembro com convidados como os franceses Jean Delumeau e Jacques Rancière e os brasileiros Maria Rita Kehl e Jorge Coli, colunista da Folha.


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