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FILOSOFIA DO MEDO
Congresso reúne especialistas em SP
"Paz unilateral é imposição de vencedor sobre vencido", diz Chaui
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Buscando no pensamento do
holandês Baruch Espinosa (1632-1677) subsídios para entender o
mundo de hoje, a filósofa Marilena Chaui abriu ontem, no Rio, o
Congresso Internacional do Medo. Hoje, às 18h30, ela repete a palestra "Sobre o Medo, a Guerra e a
Paz" no Teatro da Aliança Francesa, em São Paulo.
Ao explicar o que são guerra e
paz segundo Espinosa, Chaui
procurou desmontar o lugar-comum de que paz é ausência de
guerra. Ela diferenciou as duas de
forma a atacar a Pax Americana, o
princípio intervencionista e beligerante que rege a política internacional dos EUA.
"A paz é sempre fruto da concórdia, de um acordo entre duas
partes. Paz unilateral é imposição
do vencedor sobre o vencido",
disse, terminando sua fala com a
frase: "Só a paz elimina o medo".
Chaui dedicou parte de sua conferência, no Teatro Maison de
France, a mostrar como o mundo
moderno desprezou os sentidos
da religião, crendo que as supostas benesses do mercado supririam essa demanda simbólica.
Posta de lado das esferas política e econômica, a fé retornou a
partir dos anos 70 de forma mais
agressiva, levando ao Estado a dimensão do sagrado, como seriam
exemplos a Revolução Islâmica
no Irã ("Não modernizaram o Islã, mas islamizaram a modernidade") e a radicalização do sionismo
em Israel, combatendo a idéia de
um Estado palestino. "Os judeus
integristas passaram a falar não
em Estado de Israel, mas em terra
de Israel, que seria tudo entre o rio
Jordão e o mar Mediterrâneo."
Para ela, o crescimento de determinados movimentos religiosos e
de suas ambições políticas está ligado à sinalização de um "espaço
sagrado" em contraposição ao
mundo capitalista. "[O neoliberalismo] opera pela exclusão econômica e social. O indivíduo e o cidadão são efêmeros e descartáveis. E opera pela guerra, para dominar e exterminar. A guerra não
é episódica, mas constitutiva da
nova forma do capital."
Organizado por Adauto Novaes, o congresso segue até 29 de
setembro com convidados como
os franceses Jean Delumeau e Jacques Rancière e os brasileiros Maria Rita Kehl e Jorge Coli, colunista da Folha.
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