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EUA acenam com fim de embargo comercial a Cuba
Governo usa discurso mais ameno para transição
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Pela segunda vez num espaço
de sete dias e desde que Fidel
Castro deixou o comando de
Cuba, os EUA acenaram com o
fim do embargo comercial que
impede empresas norte-americanas de fazer negócios com a
ilha e que dura mais de quatro
décadas.
"A oferta ainda é válida", disse ontem Thomas Shannon, secretário-adjunto de Estado para a América Latina, em Washington.
Tal oferta havia sido mencionada antes em videoconferência com jornalistas tchecos no
dia 17, e a nova referência a ela
marca uma mudança, para um
discurso mais ameno, na política da administração de George
W. Bush de lidar com a transição de poder em Cuba.
Em maio de 2002, Bush fez a
proposta de acabar com o embargo caso o regime cubano fizesse concessões democráticas.
"Em 2002, a oferta foi obviamente rejeitada, mas do nosso
ponto de vista ela ainda é válida", disse Shannon ontem.
"Acreditamos que, se o governo
cubano começar uma abertura
política e uma transição para a
democracia, nós podemos estar
em posição de achar maneiras
de trabalhar com a nossa oferta
feita em 2002 e melhorar as relações entre Estados Unidos e
Cuba."
Para tanto, a administração
negociaria com o Congresso
"maneiras de acabar com o embargo e começar um comprometimento mais profundo com
o Estado cubano".
É prerrogativa do Legislativo
norte-americano modificar a
chamada lei Helms-Burton, de
1996, que amplia o embargo
que vigora pelo menos desde
1960. De maioria republicana
hoje, o Congresso pode ter seu
comando passado para os democratas nas eleições de novembro, que renovarão parte
das cadeiras.
Derrubado o embargo e restabelecidas as relações, como
se daria a participação das empresas norte-americanas? "Cuba é um país preso numa distorção temporal econômica em
termos de infra-estrutura", disse Shannon.
"Ao mesmo tempo que Cuba
fizer uma transição para a democracia, fará para a modernidade. E terá à sua frente enormes desafios, de habitação e
construção, para não dizer tudo
o que for relacionado a criar
mercados privados e gerenciamento do fluxo de investimentos. Nesse sentido, os negócios
norte-americano terão obviamente um papel."
"Câmera lenta"
O secretário-adjunto minimizou a importância da comunidade de exilados cubanos que
vive na Flórida e que teria influência na manutenção da lei
que autoriza o embargo.
"Quem manteve o embargo foi
o Congresso, que representa
todos os 50 Estados", afirmou.
Shannon amenizou o discurso
também em relação ao líder-em-exercício de Cuba desde 31
de julho, Raúl Castro, já chamado de "Fidel Light" e "Caçulinha" pelo porta-voz do Departamento de Estado, e à transição de poder.
"O que estamos vendo em
Cuba hoje em dia é efetivamente uma transferência de poder
em câmera lenta", disse Shannon. Para ele, a futura estrutura
de liderança ainda não foi definida, mas não será personalista, como foi sob o carismático
Fidel -o líder terá novo papel,
acredita.
"Estamos vendo uma transição de poder para as instituições e não para as pessoas; haverá negociação entre essas
instituições enquanto tentam
algum arranjo de divisão de poder em que Fidel Castro será
uma espécie de poder moderador."
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