São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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EUA acenam com fim de embargo comercial a Cuba

Governo usa discurso mais ameno para transição

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Pela segunda vez num espaço de sete dias e desde que Fidel Castro deixou o comando de Cuba, os EUA acenaram com o fim do embargo comercial que impede empresas norte-americanas de fazer negócios com a ilha e que dura mais de quatro décadas.
"A oferta ainda é válida", disse ontem Thomas Shannon, secretário-adjunto de Estado para a América Latina, em Washington.
Tal oferta havia sido mencionada antes em videoconferência com jornalistas tchecos no dia 17, e a nova referência a ela marca uma mudança, para um discurso mais ameno, na política da administração de George W. Bush de lidar com a transição de poder em Cuba.
Em maio de 2002, Bush fez a proposta de acabar com o embargo caso o regime cubano fizesse concessões democráticas.
"Em 2002, a oferta foi obviamente rejeitada, mas do nosso ponto de vista ela ainda é válida", disse Shannon ontem. "Acreditamos que, se o governo cubano começar uma abertura política e uma transição para a democracia, nós podemos estar em posição de achar maneiras de trabalhar com a nossa oferta feita em 2002 e melhorar as relações entre Estados Unidos e Cuba."
Para tanto, a administração negociaria com o Congresso "maneiras de acabar com o embargo e começar um comprometimento mais profundo com o Estado cubano".
É prerrogativa do Legislativo norte-americano modificar a chamada lei Helms-Burton, de 1996, que amplia o embargo que vigora pelo menos desde 1960. De maioria republicana hoje, o Congresso pode ter seu comando passado para os democratas nas eleições de novembro, que renovarão parte das cadeiras.
Derrubado o embargo e restabelecidas as relações, como se daria a participação das empresas norte-americanas? "Cuba é um país preso numa distorção temporal econômica em termos de infra-estrutura", disse Shannon.
"Ao mesmo tempo que Cuba fizer uma transição para a democracia, fará para a modernidade. E terá à sua frente enormes desafios, de habitação e construção, para não dizer tudo o que for relacionado a criar mercados privados e gerenciamento do fluxo de investimentos. Nesse sentido, os negócios norte-americano terão obviamente um papel."

"Câmera lenta"
O secretário-adjunto minimizou a importância da comunidade de exilados cubanos que vive na Flórida e que teria influência na manutenção da lei que autoriza o embargo. "Quem manteve o embargo foi o Congresso, que representa todos os 50 Estados", afirmou. Shannon amenizou o discurso também em relação ao líder-em-exercício de Cuba desde 31 de julho, Raúl Castro, já chamado de "Fidel Light" e "Caçulinha" pelo porta-voz do Departamento de Estado, e à transição de poder.
"O que estamos vendo em Cuba hoje em dia é efetivamente uma transferência de poder em câmera lenta", disse Shannon. Para ele, a futura estrutura de liderança ainda não foi definida, mas não será personalista, como foi sob o carismático Fidel -o líder terá novo papel, acredita.
"Estamos vendo uma transição de poder para as instituições e não para as pessoas; haverá negociação entre essas instituições enquanto tentam algum arranjo de divisão de poder em que Fidel Castro será uma espécie de poder moderador."


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