São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Ex-premiê deposto voltará ao Paquistão

Para Suprema Corte, o acordo de exílio é inválido; Sharif comemora e diz que derrotará o general Musharraf nas urnas

Com o retorno de Sharif, deposto em 1999, cresce a pressão interna por eleições gerais; ex-premiê Benazir também poderá retornar

DA REDAÇÃO

O ex-premiê paquistanês Nawaz Sharif, deposto pelo golpe de 1999, voltará ao país para disputar a Presidência com Pervez Musharraf, ditador apoiado pelos EUA. O pesadelo do general se concretiza após a Suprema Corte determinar ontem que Sharif e seu irmão, banidos do país por 10 anos em troca da liberdade, não sejam presos ou deportados se entrarem no Paquistão. Ambos poderão participar normalmente da vida política do país.
Sharif lidera uma aliança contra o regime. Condenado à prisão perpétua, o ex-premiê permaneceu ativo no partido apesar do exílio, num desafio aberto a Musharraf. Em Londres, Sharif comemorou o veredito em tom de governo, pedindo que o Ocidente não confunda o Paquistão com Musharraf e mandando recado a Washington. "Se a democracia lutar contra o terrorismo, em última instância vencerá. Mas se um só homem estiver na batalha contra o terrorismo, ele será derrotado", afirmou.
Com a decisão da Suprema Corte, o general perdeu também o seu principal trunfo nas negociações pelo apoio do PPP (Partido do Povo Paquistanês) -a possibilidade de perdoar a ex-premiê Benazir Bhutto, que vive no exterior, para evitar futuros processos contra ele. O veredito deve se extender automaticamente a Bhutto.
Unir-se ao PPP pode ser a única chance de sobrevida política para o general. Dificilmente um só partido conseguirá maioria na urnas e o governo democrático terá que negociar uma base de apoio. O PPP e a Liga Muçulmana uniram-se contra Musharraf na Aliança para a Restauração Democrática (ARD) mas, com a aproximação entre Buttho e o general, a frágil unidade entre rivais históricos se desfez.
O site da Liga Muçulmana chama o encontro entre a líder do PPP e Musharraf, realizado a portas fechadas em 27 de julho, de "derrota da democracia". "A ARD perdeu credibilidade [com a reunião]", disse Sharif, que passou a denunciar a intenção de isolar os partidos nacionalistas na ARD.
Os EUA idealizam um governo formado pelo laico PPP e Musharraf. É incerto, porém, se uma eventual base governista poderia prescindir do apoio da Liga Muçulmana.
O flerte entre Musharraf e Bhutto é vigiado de perto pela oposição, que tenta se beneficiar da desconfiança generalizada. Para alguns eleitores de Bhutto, aproximar-se do ditador é uma traição. Aos que apóiam Musharraf, parece um sinal evidente de fraqueza aliar-se à política que ele sempre acusou de corrupção.
A realização de eleições é incerta, mas, com a volta dos líderes da oposição, parece mais provável. Como o mandato de Musharraf só é válido até o final do ano, é impossível manter um governo com algum verniz democrático -obtido pelo general com a validação tácita do golpe pela Suprema Corte- caso não haja eleições gerais. O mandato do atual Congresso, que compõe o colégio eleitoral responsável pela escolha do presidente, expira em outubro.


Com agências internacionais

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