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Ex-premiê deposto voltará ao Paquistão
Para Suprema Corte, o acordo de exílio é inválido; Sharif comemora e diz que derrotará o general Musharraf nas urnas
Com o retorno de Sharif, deposto em 1999, cresce a pressão interna por eleições gerais; ex-premiê Benazir também poderá retornar
DA REDAÇÃO
O ex-premiê paquistanês Nawaz Sharif, deposto pelo golpe
de 1999, voltará ao país para
disputar a Presidência com
Pervez Musharraf, ditador
apoiado pelos EUA. O pesadelo
do general se concretiza após a
Suprema Corte determinar ontem que Sharif e seu irmão, banidos do país por 10 anos em
troca da liberdade, não sejam
presos ou deportados se entrarem no Paquistão. Ambos poderão participar normalmente
da vida política do país.
Sharif lidera uma aliança
contra o regime. Condenado à
prisão perpétua, o ex-premiê
permaneceu ativo no partido
apesar do exílio, num desafio
aberto a Musharraf. Em Londres, Sharif comemorou o veredito em tom de governo, pedindo que o Ocidente não confunda o Paquistão com Musharraf
e mandando recado a Washington. "Se a democracia lutar
contra o terrorismo, em última
instância vencerá. Mas se um
só homem estiver na batalha
contra o terrorismo, ele será
derrotado", afirmou.
Com a decisão da Suprema
Corte, o general perdeu também o seu principal trunfo nas
negociações pelo apoio do PPP
(Partido do Povo Paquistanês)
-a possibilidade de perdoar a
ex-premiê Benazir Bhutto, que
vive no exterior, para evitar futuros processos contra ele. O
veredito deve se extender automaticamente a Bhutto.
Unir-se ao PPP pode ser a
única chance de sobrevida política para o general. Dificilmente um só partido conseguirá
maioria na urnas e o governo
democrático terá que negociar
uma base de apoio. O PPP e a
Liga Muçulmana uniram-se
contra Musharraf na Aliança
para a Restauração Democrática (ARD) mas, com a aproximação entre Buttho e o general, a
frágil unidade entre rivais históricos se desfez.
O site da Liga Muçulmana
chama o encontro entre a líder
do PPP e Musharraf, realizado
a portas fechadas em 27 de julho, de "derrota da democracia". "A ARD perdeu credibilidade [com a reunião]", disse
Sharif, que passou a denunciar
a intenção de isolar os partidos
nacionalistas na ARD.
Os EUA idealizam um governo formado pelo laico PPP e
Musharraf. É incerto, porém,
se uma eventual base governista poderia prescindir do apoio
da Liga Muçulmana.
O flerte entre Musharraf e
Bhutto é vigiado de perto pela
oposição, que tenta se beneficiar da desconfiança generalizada. Para alguns eleitores de
Bhutto, aproximar-se do ditador é uma traição. Aos que
apóiam Musharraf, parece um
sinal evidente de fraqueza
aliar-se à política que ele sempre acusou de corrupção.
A realização de eleições é incerta, mas, com a volta dos líderes da oposição, parece mais
provável. Como o mandato de
Musharraf só é válido até o final
do ano, é impossível manter
um governo com algum verniz
democrático -obtido pelo general com a validação tácita do
golpe pela Suprema Corte- caso não haja eleições gerais. O
mandato do atual Congresso,
que compõe o colégio eleitoral
responsável pela escolha do
presidente, expira em outubro.
Com agências internacionais
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