|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mercado alemão cobra reformas imediatas
DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Após conquistar a reeleição por
uma estreita margem graças a seu
carisma, a seu brilho midiático e,
sobretudo, ao excelente resultado
dos Verdes -parceiros na coalizão governamental- na eleição
legislativa de anteontem, o chanceler (premiê) alemão, Gerhard
Schröder, deverá urgentemente
realizar reformas para enfrentar
os desafios que já se apresentam
para os próximos quatro anos, segundo analistas ligados ao mercado financeiro.
Internamente, o maior problema do chanceler, cujo Partido Social-Democrata (SPD) obteve
apenas 38,5% dos votos (a mesma
porcentagem da aliança conservadora formada pela União Democrata Cristã e pela União Social
Cristã), é a morosidade econômica em que o país se encontra, o
que dificulta a redução do desemprego, estacionado em cerca de
10% há algum tempo. Para tanto,
a coalizão de centro-esquerda terá
de fazer reformas impopulares.
"A Alemanha precisa flexibilizar seu mercado de trabalho, reformar seu sistema de proteção
social, que é generoso demais, e
cortar parte dos benefícios oferecidos por seu sistema público de
saúde. Se essas reformas forem
feitas, o país terá boas chances de
reencontrar o caminho do crescimento econômico. Contudo, por
enquanto, não há sinais de que isso venha a ser feito", disse à Folha
Juergen Michels, analista econômico do Citigroup.
A Bolsa de Valores de Frankfurt
respondeu negativamente à reeleição da coalizão SPD/Verdes,
com queda de mais de 4%. O mercado esperava que uma coalizão
entre os conservadores e os liberais do Partido Democrata Liberal
(FDP) vencesse, pois ela era vista
como mais apta a reduzir os impostos e as contribuições sociais
das empresas.
Apesar de sua riqueza, de sua
ótima infra-estrutura e de sua poderosa indústria, a Alemanha
-terceira economia do planeta- não consegue bancar seu nível de vida por causa do envelhecimento de sua população e do
lento crescimento de sua economia, que não consegue produzir
riquezas suficientes para financiar os "ganhos sociais" de que
seus trabalhadores se orgulham.
Para reduzir o desemprego,
Schröder pretende aplicar os planos concebidos por uma comissão comandada por Peter Hartz,
diretor de pessoal da Volkswagen,
revelados no mês passado. Todavia analistas não crêem que eles
possam resolver o problema.
"Os planos de Hartz não atingem verdadeiramente a questão,
já que não prevêem a diminuição
dos elevados salários nem a flexibilização do mercado de trabalho.
Hartz promete ser menos generoso com os desempregados, mas,
no sistema alemão, esse tipo de
promessa nem sempre é cumprido", apontou Carsten-Patrick
Meier, do Instituto para Economia Mundial de Kiel.
Outro obstáculo para Schröder
é diretamente ligado ao resultado
da eleição. Com 306 cadeiras das
603 no Bundestag, a coalizão governamental terá apenas uma pequena vantagem sobre a oposição. No sistema político alemão,
caracterizado pela busca do consenso desde o final da Segunda
Guerra, isso não será nada fácil
com uma oposição tão forte. E o
Bundesrat (espécie de Senado) é
controlado pela oposição.
Com o país dividido entre os
que querem reformas para acelerar o crescimento econômico e aqueles que desejam manter um Estado do Bem-Estar Social forte, será difícil introduzir reformas drásticas e convencer os sindicatos, tradicionais aliados do SPD, a abrir mão de parte de seus benefícios. "Se a coalizão não reduzir o peso do Estado na economia, a Alemanha correrá o risco de entrar num ciclo de estagnação econômica similar ao japonês", apontou Michels.
Assim, embora tenha conseguido manter-se no poder a duras penas, o chanceler precisará de muito jogo de cintura para governar um gigante avesso a mudanças durante mais quatro anos.(MSM)
Texto Anterior: Diplomacia: Relações entre EUA e Alemanha pioram Próximo Texto: Frase Índice
|